Youssef diz ‘desconhecer’ propina para funcionários

Doleiro falou em inquérito que investiga setor elétrico de MG

Em novo depoimento à Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef admitiu ter fechado contrato de fachada de R$ 4,3 milhões com a empresa Investminas, do ex-ministro do governo Collor Pedro Paulo Leoni Ramos (PP) e que atua no setor elétrico. Youssef afirmou, contudo, “não ter conhecimento” se a quantia foi utilizada para pagamento de propinas a funcionários da estatal mineira Cemig, envolvida em um negócio com a empresa de Pedro Paulo. O depoimento foi dado no inquérito que investiga a transação entre a empresa do ex-ministro e o doleiro.

O valor é referente a um contrato de 2011 da Investminas com a MO Consultoria, empresa de fachada usada pelo doleiro para lavar dinheiro de propina. O acordo de fachada previa prestação de serviços de consultoria para a venda da cota da empresa de Pedro Paulo na Guanhães Energia, uma sociedade entre a Investminas (51% das ações) e a estatal mineira Cemig (49% das ações) para a construção de quatro Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Estado de Minas Gerais.

“Quanto ao contrato firmado entre MO Consultoria e Investminas, afirma que não intermediou qualquer aquisição de participação societária na Guanhães Energia, e que o contrato era ideologicamente falso, com o fito de embasar as transações da conta corrente de Pedro Paulo”, afirmou o doleiro em depoimento prestado no dia 10 de julho. Dono da holding GPI Participações, que atua nas áreas de energia e saneamento e controla a Investminas, Pedro Paulo é investigado na Lava Jato devido as transações que mantinha com Youssef.

Apesar do contrato falso, em 2012 a cota da Investminas na Guanhães Energia (51%) foi vendida para a empresa Light, que também tem a Cemig como uma de suas acionistas, pelo valor de R$ 26,5 milhões. Na ocasião, a Cemig abriu mão de sua preferência nas cotas da Investminas, da qual ela detinha 49% das participações. A transação foi realizada antes de as obras das quatro PCHs serem concluídas. Questionado se o contrato de fachada tinha alguma relação com a estatal mineira, Youssef afirmou em seu depoimento que “não tem conhecimento que os valores depositados pela Investminas tenham sido utilizados para pagamento de vantagem junto à Cemig, Furnas ou outra estatal”.

A Light afirmou que a proposta da compra das cotas da Guanhães foi oferecida pela própria Cemig. A estatal mineira, por sua vez, não comentou de quem foi a iniciativa de oferecer a proposta. Na época da transação o Estado de Minas era governado pelo PSDB, e atualmente está sob gestão do governador Fernando Pimentel, do PT, que assumiu neste ano e trocou a cúpula da estatal.

‘Conta’. Ainda de acordo com o doleiro, parte dos R$ 4,3 milhões do contrato foram entregues a Pedro Paulo em dinheiro vivo e outra parte teria sido recebida por meio de um contrato da Camargo Corrêa com a Globalbank, também de PP. Neste último caso, explicou Youssef, o contrato da empreiteira com a empresa de Pedro Paulo foi uma forma de abater a “dívida” que a Camargo tinha com Youssef referente aos contratos da Refinaria de Abreu e Lima e da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, da Petrobrás. O doleiro recebia porcentagens dos contratos da estatal petrolífera que eram destinadas a abastecer o caixa de políticos do Partido Progressista.

O negócio envolvendo as hidrelétricas em Minas Gerais não é o único em que aparecem as empresas de Pedro Paulo Leoni Ramos na Lava Jato.  A PF suspeita de uma sociedade, no âmbito da Labogen, entre a GPI, o doleiro e a Linear Participações e Incorporações Ltda. O laboratório teria como foco o fornecimento de produtos químicos para a Petrobrás e medicamentos para o Ministério da Saúde. Além disso, a Investminas arrematou, com Furnas, a concessão da hidrelétrica de Três Irmãos – cujo contrato teve a assinatura suspensa por determinação do Tribunal de Contas da União. (AE)