Viúva atribui a ex-prefeita trama para matar vereador em Alagoas

Em Júri, Rita Namé acusa Sânia de matar Luiz Ferreira em Anadia

A professora universitária Rita Luiza de Pércia Namé, viúva do vereador de Anadia, Luiz Ferreira de Souza, reforçou na manhã desta sexta-feira (16) que a ex-prefeita de Anadia, Sânia Tereza Palmeira Barros, eleita pelo PT, mandou matar seu marido, em 3 de setembro de 2011, por temer que as denúncias de ilegalidades que seriam feitas pelo seu ex-aliado inviabilizasse sua reeleição no município. O depoimento da viúva foi dado no Fórum do Barro Duro, durante o júri de três dos acusados de trucidar o vereador do município alagoano.

Rita Namé pediu para que os réus não acompanhassem seu depoimento, no qual afirmou que o vereador e médico Luiz Ferreira de Souza se preparava para denunciar a então prefeita por desvios de dinheiro público, quando foi vítima da trama do crime de pistolagem, da qual a prefeita e seu marido, à época, Alessander Ferreira Leal, são acusados de autoria intelectual e Tiago dos Santos Campos e Everton Santos de Almeida de autoria material do homicídio ocorrido na estrada de acesso ao município, que teria custado R$ 5 mil para os mandantes. Luiz Ferreira foi morto no mesmo dia em que concedeu entrevista dizendo ser pré-candidato a prefeito de Anadia, após romper com Sânia Tereza.

“O Luiz iria denunciar todo o desvio que vinha acontecendo e a situação de enriquecimento ilícito da Sânia. Tinha descoberto falcatruas da prefeita. E para não deixar isso continuar acontecendo, só matando ele. Um crime político. Não tenho dúvidas disso. Eu não tive [dúvidas] na hora que recebi a notícia. Eu aponto a ex-prefeita da cidade e o marido. Ele foi morto por não compactuar com as falcatruas de uma Prefeitura totalmente dominada por bandidos”, declarou Rita Namé.

A viúva foi a primeira a falar, no julgamento previsto para ser concluído ainda nesta quinta-feira, após a oitiva de, entre declarantes e testemunhas, nove pessoas, sendo sete indicadas pela acusação e duas pelo acusado Alessander Ferreira Leal. Os três réus, que permanecem presos, também serão interrogados. Enquanto a ex-prefeita Sânia compre prisão domiciliar e aguarda julgamento.

“A mim, retiraram o chão. Eu só estou viva, e meus filhos, pelo grande amor que tenho por ele. Anadia e Alagoas sabem quem era o meu marido. Era considerado o anjo da guarda do pronto-socorro. Meus filhos perderam o pai da noite para o dia. Eles estavam todos na faculdade. Espero que a justiça pode ser feita. Porque a injustiça já foi feita, que foi a morte dele”, disse a viúva de Luiz Ferreira, emocionada, quando questionada sobre a ausência do marido.

Quem conduz o júri é o juiz Geraldo Amorim, titular da 9ª Vara Criminal da Capital. Há a possibilidade de o julgamento ser suspenso, e retomado na sexta-feira. Outros dois acusados, Adailton Ferreira e Wallemberg Torres da Silva, recorreram da decisão que determinou o júri, e esperam julgamento do recurso pelo TJ.

O CRIME

O promotor Paulo Barbosa Filho, do Ministério Público Estadual de Alagoas (MP/AL), ressaltou que as investigações revelaram que todos os acusados mantiveram contato telefônico constante. A acusação é assistida pelo advogado Cláudio Vieira, representante da família, no processo nº 0000179-17.2016.8.02.0203.

“O réu Alessander era o coordenador, que recebia ordens diretamente da prefeita. Todos os passos da quadrilha eram diretamente comunicados à mandante. Do dia 30 de agosto a 2 de setembro, existiam 33 ligações de celular dele (Alessander) para o da ex-prefeita”, disse o promotor.

O representante do MP afirma que o vereador tinha a postura muito ativa, e “batia de frente” contra as irregularidades da prefeita. “O Ministério Público considera que foi queima de arquivo. O motivo foi ocultar as informações que vítima sabia a respeito das fraudes realizadas pela Prefeitura de Anadia. Foi um trabalho muito bem arquitetado. Mas não existe crime perfeito”, argumentou.

A DEFESA

O advogado Raimundo Palmeira, responsável pela defesa do réu Alessander Leal, defende que Luiz Ferreira era aliado político de Sânia, não havendo motivo para o crime. De acordo com o advogado, a acusação já mudou de tese sobre a motivação do assassinato por duas vezes.

“A defesa no curso (do processo) provou que ele era o candidato dela. Inclusive ela diz isso na imprensa. Hoje a acusação vem com uma terceira tese, uma tese estranha aos autos, porque todas as [outras] caíram. Vem dizer que a morte foi por suposto desvio de R$ 7 milhões em combustível. Sânia até hoje não tem condenação por desvio nenhum. Dr. Luiz era um homem de bem e não iria ver um desvio desse e ficar calado”, defendeu Raimundo Palmeira. (Com informações das assessorias TJ e do MP de Alagoas)