TRF5 pode soltar aliado de Renan que MPF diz ter afanado R$ 15 milhões
Protegido, Celso Luiz afronta Justiça e oculta bens em Alagoas
Se depender da nova ação penal ajuizada na Justiça Federal de Alagoas, nesta quarta-feira (21), o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas e ex-prefeito de Canapi, Celso Luiz Tenório Brandão (PMDB) deve continuar preso em cela comum do Presídio Cyridião Durval, em Maceió. Segundo a nova denúncia do Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL), o aliado de primeira linha do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) seria “criminoso contumaz” e estaria insistindo em ocultar R$ 15 milhões em recursos públicos do Fundef tirados dos sertanejos pobres de Canapi, juntamente com a quadrilha da qual é acusado de ser líder. O desvio pode chegar a R$ 17 milhões.
Preso pela Polícia Federal desde 12 de maio, na Operação Deusa da Espada, Celso Luiz acredita que vai se livrar da prisão, através de habeas corpus que está prestes a ser julgado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5). Mas na nova ação decorrente da Operação Triângulo das Bermudas, deflagrada em julho de 2016, o MPF registra a necessidade de manutenção da prisão preventiva do ex-prefeito do município sertanejo alagoano e de mais três denunciados, porque, em liberdade, poderiam voltar a atuar para atrapalhar a investigação.
Além de Celso Luiz, o MPF denuncia e também pede a manutenção das prisões preventivas do ex-vice-prefeito Genaldo Soares Vieira (PTdoB); do ex-secretário municipal de Finanças Carlos Alberto dos Anjos Silva e do ex-secretário municipal de Assuntos Estratégicos Jorge Valença Neves Neto. Na visão do procurador, as detenções devem ser mantidas para garantir a ordem econômica e as investigações, tendo em vista que os recursos desviados ainda não foram localizados.
O MPF entende que, “uma vez soltos, os denunciados poderão usufruir desses recursos ocultos, inclusive para facilitar a prática de novos crimes ou mesmo o impedimento da investigação e do processo, bem como no risco de fuga. Ressaltando que o pedido das prisões foi justificado por relatos de tentativa de pagamento de testemunhas e colaboradores da Justiça”.
“Não se pode conceber que permaneçam em liberdade criminosos, sobretudo aqueles econômica e politicamente poderosos, que estão em plena prática dos delitos, vale dizer, permanecem ocultando os valores desviados e os utilizando, em detrimento de todos os munícipes de Canapi”, diz o procurador da República Carlos Eduardo Raddatz.
A DENÚNCIA
Neste primeiro momento da ação que tramita em segredo de justiça, o MPF optou por apresentar uma denúncia parcial, considerando que há réus presos e que a complexidade dos fatos demandam mais investigações e análises por parte do órgão ministerial.
Para o MPF, o ex-prefeito Celso Luiz atuou como chefe da organização criminosa enquanto os demais denunciados foram operadores do esquema de desvio dos recursos públicos.
Em 2016, a Justiça bloqueou as contas do município porque constatadas as transferências indevidas de R$ 8.316.763,51, em 2015, e mais RS 2.397.313,50, em 2016, para contas de terceiros. Mas, no final de 2016, o vice-prefeito que assumiu a prefeitura com o afastamento de Celso Luiz desviou o restante das verbas do precatório, quase R$ 6.920.894,46.
CORONEL NO XADREZ
O histórico de denúncias contra Celso Luiz, sua condenação decorrente da Operação Taturana e as atitudes típicas de tradicionais coronéis da política são parte dos argumentos utilizados pelo procurador Carlos Eduardo Raddatz, para pedir a manutenção da prisão do aliado histórico de Renan, nas fétidas celas do presídio Cyridião Durval.
O ex-presidente da Assembleia de Alagoas é acusado pelo Ministério Público Estadual de Alagoas de tentar impedir o cumprimento de algumas das medidas judiciais cautelares, resistindo em ser intimado da primeira decisão, se comportando como um coronel, diante da servidora oficial de Justiça que cumpria a intimação.
Ele também tentou arguir, por 10 vezes, a suspeição do magistrado que determinou as medidas judiciais em seu desfavor. Mas não conseguiu. E chegou a dizer à oficial de Justiça que a decisão do juiz estaria errada, sugeriu que ela registrasse no mandado que não o havia encontrado. Recusou-se a ser intimado, dirigindo-se à servidora pública, acompanhado de dois capangas e ordenando que a mesma respeitasse aqueles senhores, expressando postura nitidamente intimidatória e resistente ao cumprimento da lei, segundo narra uma das ações do MP de Alagoas.
Ele é velho conhecido da Polícia Federal. Foi preso em 2007 na Operação Taturana, que desbaratou uma quadrilha que desviou de R$ 254 milhões da Assembleia Legislativa de Alagoas. Parte desse montante, durante o período em que o ex-deputado foi presidente da Mesa Diretora. E, em novembro de 2016, foi condenado a ressarcir R$ 170.520,78 ao erário, mais multa, por tomar empréstimo pessoal utilizando recursos da Assembleia. (Com informações da Assessoria do MPF em Alagoas)