Transpetro beneficiou reduto político de Sérgio Machado

Embora menos relevante que São Sebastião, principal terminal da subsidiária, Fortaleza foi campeã em patrocínio cultural desde 2010

Reduto político de Sérgio Machado, que presidiu a Transpetro até a semana passada, Fortaleza foi o município que mais recebeu dinheiro de patrocínio cultural da subsidiária de transporte e logística da Petrobrás no período de 2010 a 2014, depois de São Paulo e Rio. Citado na Operação Lava Jato, ele renunciou ao cargo após três períodos de licença.

Dados divulgados no site da empresa revelam que nos últimos cinco anos, o ex-deputado e ex-senador, eleito nos anos 1990 no Ceará pelo PSDB e desde 2001 filiado ao PMDB, liberou R$ 568 mil, em valores corrigidos pela inflação oficial, para projetos na capital cearense. O valor supera o total gasto em São Sebastião (SP), principal polo de atuação da empresa. Lá foram gastos R$ 520 mil no mesmo período, em valores também atualizados.

Os valores estão no site da Transpetro e se referem ao período de 2010 a 2014. Não há dados relativos à fase anterior da gestão de Machado, iniciada em 2003, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Fortaleza tem um único terminal de movimentação de petróleo e combustíveis, o de Mucuripe, focado no atendimento à Lubnor, refinaria de pequeno porte que fabrica asfalto e lubrificante. Já pelo terminal de São Sebastião passa todo o petróleo nacional e importado processado nas quatro refinarias da Petrobrás instaladas em São Paulo, entre elas a maior do País, a Replan.

O critério da Transpetro para patrocinar projetos culturais é privilegiar os relacionados a seu negócio principal, o setor marítimo, e os locais onde atua. Mas os valores destinados não são proporcionais à relevância dos municípios em termos de negócios. Além disso, há cidades beneficiadas sem instalações da empresa.

Natal. Em Fortaleza, a maior parte do dinheiro foi gasto em concertos de Natal. Em 2010 e 2011, o evento promovido pelo Instituto de Promoção da Nutrição e do Desenvolvimento Humano recebeu R$ 30 mil por ano (R$ 39,4 mil e R$ 36,4 mil em valores corrigidos, respectivamente). Em 2012, foram R$ 130 mil (R$ 150 mil atuais). Além disso, a Transpetro pagou R$ 100 mil (ou R$ 115 mil hoje) à empresa carioca Bressane Conforti Produções, com o mesmo objetivo.

Segundo o site da Transpetro, esse contrato vigorou de dezembro de 2012 a dezembro de 2013. O objeto do patrocínio é um único dia de concerto, realizado em 9 de dezembro de 2012, na catedral metropolitana de Fortaleza. Em 2011, a mesma produtora recebera R$ 120 mil (R$ 153 mil , corrigidos)para produzir peças teatrais educativas no Museu Naval do Rio, por um ano.

Além do Natal, a Transpetro investiu em Fortaleza R$ 50 mil (R$ 65 mil atuais) em um congresso de radiodifusão, em 2010; R$ 150 mil (R$ 185 mil) em seminário sobre administração pública, no ano seguinte; e R$ 80 mil (R$ 93 mil) em feira e seminário de meio ambiente e sustentabilidade em 2012.

Machado também patrocinou a cultura de três cidades administradas, na época dos contratos, por políticos do PMDB e sem instalações da Transpetro. Araçatuba (SP), Joinville (SC) e Porto Alegre (RS) foram beneficiadas com R$ 614,3 mil em preços corrigidos.

Em Joinville, o prefeito petista Carlito Merss foi substituído em 2012 pelo peemedebista Udo Dohler. Na gestão do PT, a feira do livro local recebeu da Transpetro R$ 20 mil (R$ 24 mil). Em 2013, já na prefeitura do PMDB, o evento passou a receber R$ 100 mil (R$ 112 mil).

A Transpetro investiu R$ 300 mil (R$ 391 mil) em Araçatuba. Nessa cidade, Machado e o prefeito Cido Sério (PMDB) foram denunciados pelo Ministério Público Federal, acusados de fraudar licitação para a construção de 20 comboios de transporte de etanol, no valor de R$ 423 milhões.

Procurada ontem à tarde, a Transpetro informou que não haveria tempo útil para responder aos questionamentos da reportagem e que prestaria esclarecimentos sobre o caso hoje. (AE)