Rebelo de Sousa diz que Europa precisa se preparar para ameaças de Trump
Presidente português Rebelo de Sousa fala ao "Diário do Poder"
Lisboa – A Europa terá de conviver e se preparar para enfrentar eventuais adversidades caso o futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpra ameaças feitas durante a campanha eleitoral, confirmando desinteresse pela problemática ambiental, ser a favor de políticas econômicas protecionistas e contrário à sustentação que seu país oferece a Otan.
O comentário foi feito pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, durante jantar que lhe foi oferecido, em Lisboa, nesta sexta (2), pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal. O jantar retribuiu iniciativa semelhante do Presidente da República, no início do ano, quebrando um jejum de 10 anos, período no qual seu antecessor, Cavaco Silva jamais recebeu os correspondentes estrangeiros. Nessa noite, ficou combinado que jantariam todos juntos duas vezes durante o ano.
O Presidente Marcelo não a admitiu abertamente a possibilidade, observando que a mesma poderá não ocorrer pelo fato de a realidade costumar se impor à promessas eleitorais. Contudo, se Trump decidir realizá-las, advertiu que a Europa terá de se adaptar à situação, reforçar sua presença na Otan e adotar políticas econômicas mais agressivas. Para o Presidente de Portugal, este não é o melhor momento para a Europa enfrentar essas questões, pois em 2017 serão realizadas eleições na maioria dos países da EU, onde atualmente“ não há lideranças fortes.”
Ele se mostrou animado com as atuais perspectivas de investimento de outros países,notadamente os árabes, Marrocos, China e índia, cujo novo embaixador tem se mostrado interessado no setor. Não mencionou o Brasil como possibilidade. Com investimento estruturante e as exportações, o país pode ficar sustentável, garantiu. Da mesma forma, revelou-se confiante na manutenção do acordo político que oferece sustentação ao atual governo socialista, coligado aos comunistas e Bloco de Esquerda, numa fórmula apelidada de “geringonça”.
Embora sem indicar nomes, o Presidente Marcelo argumentou que a onda nacionalista existente em outras nações não se manifestou em Portugal pelo fato de não haver, no país, partidos radicais. Os partidos portugueses, argumentou, são frentes que, quando percebem causas populares, vão em busca de correspondência, internamente, travando esse tipo de movimento. Conforme lembrou, em Portugal os partidos políticos nunca escolheram o caminho da violência. O que não significa que não haja risco, destacando a lentidão da justiça como fator que poderia catalisar pessoas. Mas o sistema partidário português é muito plástico, garantiu.
O Presidente Marcelo não teme problemas envolvendo imigrantes, como vem acontecendo em outros países. Portugal é um povo de emigração. Por isso, recebe bem os imigrantes, lembrou. De fato, Portugal é, dos países europeus, o que melhor tem convivido com os imigrantes, sendo multiétnico, sem conflitos no dia a dia com os estrangeiros. Aliás, o governo reconhece que precisa dos imigrantes porque o país está envelhecendo rapidamente. Portugal, inclusive, se dispôs a aceitar grande número de refugiados, que, no entanto, têm preferido se deslocar para a Inglaterra e Alemanha, onde já são centenas de milhares. Discretamente, lançou uma crítica no ar: "Há muita culpa dos líderes s europeus. O projeto europeu foi um projeto para minorias, que se foi estendendo", frisou.
Com popularidade em alta, mas frisando bem humorado não ser possível ninguém desfrutar de um índice de 97% de aprovação, como lhe vendo sendo atribuído, ele costuma dirigir seu próprio automóvel e freqüentar lojas e livrarias sem a companhia da segurança. Sexta-feira à tarde, por exemplo, foi ao Corte Inglês para compras natalinas. Essa sua maneira de ser é possível, claro, pelo fato de Portugal não ser um país violento. É também, segundo fez questão de revelar, sua forma de aproximar-se das pessoas,perceber melhor suas demandas e o que pensam a respeito do governo.