Policiais são presos e transferidos após abordar coronel em Alagoas

Em blitz, coronel arranca em carro oficial que esposa dirigia

Uma abordagem policial de rotina a um veículo ocupado por um coronel resultou na prisão de três policiais militares e na transferência deles para trabalhar no Sertão e Agreste de Alagoas, sem direito a defesa. O caso ocorrido nas imediações da Barra de São Miguel-AL, na última quarta-feira (22), evidenciou atitude de abuso de poder, com o aval do Comando da Polícia Militar de Alagoas. E envolve o coronel Adroaldo Goulart, que “disputou” eleição para o Governo de Alagoas em 2014 e foi condenado pela Justiça Eleitoral por ter sido “laranja”.

Segundo a discussão registrada em vídeo por um dos policiais no fim da abordagem, a guarnição avistou de longe um veículo Gol Branco, parando antes da blitz e a esposa do coronel dirigia a viatura administrativa da Polícia Militar de Alagoas. Ela trocou de lugar com Adroaldo Goulart e, na sequência, os policiais abordaram o carro, com armas em punho, dando ordem para que o motorista descesse do carro, por causa da atitude suspeita.

O coronel alegou ter se identificado verbalmente como oficial da PM e exibido sua carteira de identificação funcional. Fato que os policiais negam, afirmando que foi preciso apontar armas para Adroaldo Goulart, porque este arrancou com o carro, ameaçando a integridade física da guarnição do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv).

No vídeo, o coronel aparece trajando uma blusa com proteção solar por baixo de outra camisa. Um senhor idoso, segurando muletas está no banco do carona. E sua esposa aparece fora do veículo, depois entra no banco de trás.

“Eu me identifiquei: ‘Sou coronel’. Mesmo eu mostrando a carteira, ele apontou a arma”, esbravejou o coronel, em um dos trechos da discussão. E ouviu como resposta: “O senhor parou aí em atitude suspeita…”, disse um policial. “E trocou de motorista”, completou o outro. “… Parou, e seguiu arrancando com o carro. Se tivesse uma pessoa na frente, tinha atropelado”, concluiu o policial.

Veja a discussão após a abordagem, na região conhecida como o Trevo do Gunga:

CORONELISMO

Sem direito de defesa, policiais foram alvo de prisões disciplinares por 72h, após Adroaldo Goulart denunciá-los por “truculência” e insubordinação relativas à abordagem. Os seguintes policiais foram presos na sexta-feira (24): 2º tenente Antônio Edivaldo da Silva; comandante da guarnição que o abordou, o 3º sargento Alexandro de Farias Barros Santos e do soldado Thiago Cavalcante Araújo Oliveira.

O trio foi preso pelo chefe do Estado Maior da PM de Alagoas, coronel Nerecinor Sarmento, que exercia o comando da corporação, naquele dia e teria obrigado um deles a entregar o próprio aparelho celular com que filmou a abordagem.

Além de presos, os três policiais foram transferidos do BPRv “em caráter excepcional” para batalhões dos municípios de Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema e Delmiro Gouveia, distantes respectivamente 134 km, 207km e 304 km da capital alagoana, onde atuavam.

Todos eles foram soltos neste domingo (26), após o fim do prazo da prisão disciplinar. Mas responderão a processo na Corregedoria da PM. E as associações militares planejam mobilizações contra o ato de abuso de poder.

Adroaldo Goulart foi condenado a oito anos de inelegibilidade por utilizar os debates e o horário eleitoral no rádio e na TV, em 2014, para atacar o então candidato a governador, senador Benedito de Lira (PP-AL), que perdeu a eleição para o atual governador Renan Filho (PMDB). Mas a Justiça Eleitoral segue omissa sobre quem seria o proprietário do laranjal.

HOUVE ABUSO?

O Diário do Poder fez contato com a assessoria de comunicação da PM, para obter respostas para os seguintes questionamentos:

– O procedimento do coronel, de ter parado antes da blitz, trocado de condutor e ainda arrancar com o carro diante da ordem de parar não justificaria a abordagem com uso de armas? 

– Os policiais tiveram direito de defesa? Ou foram presos sumariamente?

– O que motivou a transferência dos mesmos policiais para outros batalhões?

– Há informações sobre qual serviço público o coronel estava prestando no local da abordagem, com carro oficial, trajando roupas de proteção UV, com uma mulher no carro e um idoso que portava muletas?

– Houve excessos e abuso de poder por parte do coronel e do Comando da PM?

– O que o coronel Adroaldo Goulart tem a dizer sobre estes fatos?

Mas a PM respondeu ao e-mail com a seguinte nota intitulada Comandante-geral esclarece que vai apurar denúncia referente a abordagem:

O comandante-geral da Polícia Militar de Alagoas, coronel Marcos Sampaio, vem a público informar que vai apurar, com rigor, todas as denúncias referentes a abordagem realizada por uma guarnição do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRp), durante a última quinta-feira (23), na Barra de São Miguel, na qual, envolveu um coronel da Corporação.

Marcos Sampaio não compactua com desvio de conduta ou abuso de autoridade, seja quem for os envolvidos, e afirma que todos os fatos serão averiguados por meio de procedimento administrativo.

Em relação às transferências dos policiais militares, o coronel ouvirá o chefe do Estado Maior Geral (EMG), que respondia pelo comando da Corporação, no momento em que o fato ocorreu.