Negócio suspeito do Sesc Nacional pode ter ligação com esquema de corrupção no MT

O Sesc Nacional de Antônio Santos pagou 10 vezes mais por uma fazenda

A Polícia Federal encontrou indícios de que o Sistema S teria sido usado para abastecer o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro investigado pela Operação Ararath em Mato Grosso. Em 2011, o Sesc Nacional comprou do empresário Rodolfo Aurélio Campos uma fazenda de cinco mil hectares, na região de Barra do Ribeiro Triste. Pagou pelo imóvel R$ 20 milhões, pelo menos dez vezes mais que o valor de mercado. Avaliação feita pela Edificar Empreendimentos Imobiliários, importante corretora local, aponta que a propriedade valeria hoje R$ 2,5 milhões. Há três anos, não custaria mais que R$ 2 milhões. As informações são de reportagem de Claudio Dantas Sequeira, na revista semanal IstoÉ, que está nas bancas.

A compra suspeita foi autorizada pelo então presidente do Sesc Nacional, Antônio José Domingues de Oliveira Santos, afirma a revista. Mas quem assinou o contrato, como representante da entidade, foi o presidente da Fecomércio-MT, Pedro Jamil Nadaf, que ocupava simultaneamente a Secretaria de Indústria e Comércio do governo Silval Barbosa (PMDB). Atualmente, ele é secretário da Casa Civil. Tanto Nadaf como Silval e Rodolfo Campos são investigados na Operação Ararath.

Ouvido por IstoÉ, Oliveira Santos disse que a compra observou as regras do Sesc e que duas avaliações corroboraram o valor desembolsado. Uma de R$ 31,8 milhões e outra de R$ 28,4 milhões. ?Essa propriedade valia o dobro. Nós conseguimos uma ótima negociação?, diz ele. Além de aprovado pelo Conselho de Administração, o negócio passou pelo Conselho Fiscal, presidido por Carlos Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência. Ele também defendeu a compra, ao menos do ponto de vista dos princípios da instituição e de regras contábeis. ?Não nos cabe avaliar oportunidade, conveniência e valores. Isso é com o conselho de administração?, afirma.

Fruto da contribuição dos trabalhadores do comércio, os recursos do Sesc devem ser aplicados em atividades de qualificação profissional, lazer e bem-estar. A fazenda é hoje usada como refúgio ecológico. ?Fizemos uma reunião lá. Tem uma colônia de férias. Parece um projeto adequado às normas de lazer aos comerciários e preservação do meio ambiente?, diz Gabas. Nadaf não retornou os contatos da reportagem, mas Oliveira Santos fez questão de defendê-lo. ?Ele só assinou. Não tem nada a ver com isso.?

Depois de 34 anos à frente do Sesc e do Senac, Oliveira Santos foi afastado na terça-feira 1o por determinação do STJ. O motivo foi uma condenação do TCU relativa a prestações de contas de 2001.