MP abre inquérito e intima homem que disse influenciar polícia alagoana

Após PC arquivar, MP avança em caso revelado no Diário do Poder

O Ministério Público Estadual de Alagoas (MP/AL) avançou nas investigações sobre a denúncia feita há um mês pelo Diário do Poder, e instaurou inquérito civil para apurar ilegalidades na promessa de influência externa em operações policiais no Estado, feita por um “assessor sem cargo”. Em portaria expedida na última segunda-feira (13), o MP ainda decidiu convocar para depor, em 04 de dezembro, o bacharel em direito Wellington de Lima Spinellis, que disse a uma vítima de assalto ter o aval de delegados para influenciar e articular operações policiais.

A portaria assinada pelo promotor de Justiça Magno Alexandre Ferreira Moura relata que Spinellis será notificado para comparecer à sede da Promotoria de Justiça Especializada no Controle Externo da Atividade Policial, às 10h, de 04 de dezembro, para ser ouvido sobre o caso. O representante do MP cita que abriu o inquérito a partir das informações da reportagem do Diário do Poder publicada em 10 de outubro sob o título “Suposto ‘amigo’ de Chefe da Polícia diz articular operações, em Alagoas”.

Ao dar andamento à investigação, o MP contraria a postura dos delegados citados pelo “prestador de serviços informais” à Polícia Civil de Alagoas. Spinellis escapou de um inquérito policial, mesmo citando que agia com o aval do chefe da PC, Paulo Cerqueira, e dizendo ter poder de influenciar o delegado que chefia o Núcleo de Inteligência da Polícia Civil, Fabrício Lima do Nascimento.

Em áudio enviado a uma vítima de assalto, em setembro, Spinellis disse poder incluir “situações” em operações policiais, alegando ser “assessor” de Paulo Cerqueira de quem garantiu ao Diário do Poder que seria “amigo”. Ambos os delegados disseram não ver indício de autoria de crime e sequer abriram inquérito, após um boletim de ocorrência ser registrado.

O caso ainda pode ser levado à Polícia Federal pela Seccional Alagoana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL), que também vai investigar a legalidade da abordagem de Spinellis a “clientes” em delegacias.

No início da tarde desta sexta-feira (17), o delegado-geral Paulo Cerqueira disse ao Diário do Poder que a PC também abriu inquérito para apurar o caso. Quem conduz a investigação aberta após a reportagem é o delegado Denisson Menezes, que disse que a investigação "está caminhando".

ÁUDIO VAZADO

O caso chegou ao conhecimento público, após a vítima da abordagem recusar a ajuda oferecida por Spinellis para solucionar o caso e recuperar seus celulares roubados. O áudio em que o “assessor informal” reage em tom de desaforo vazou pelo aplicativo WhatsApp, com o homem garantindo ter aval dos delegados e uma equipe ao seu dispor. Spinellis ainda duvidou que delegado nenhum buscaria recuperar celular roubado. 

Ao Diário do Poder, em outubro Spinellis reafirmou ser “amigo particular” e trabalhar com o delegado-geral Paulo Cerqueira há muitos anos, sem ter cargo público no Estado. Também disse ser informante da polícia. E, quando questionado sobre qual seria o tipo de serviço prestado, afirmou que seria “complicado” explicar, pedindo que a reportagem procurasse o próprio Paulo Cerqueira para explicar.

Sem registro na Ordem dos Advogados do Brasil, o “influente” bacharel em Direito disse ter como renda o que “seus clientes” pagam para que atue em processos assinados por outros advogados, fruto de seus plantões em delegacias e contatos com lideranças comunitárias.

Ouça novamente a entrevista de Spinellis:

O Diário do Poder não conseguiu contato com Spinellis. E o chefe da Inteligência da PC não quis comentar o caso e seu desdobramento no MP.

Leia a reportagem que revelou o caso no endereço http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=89660937628