Filme 'Olhar de Nise' exibido sábado no Festival de Brasília

Filme é sobre a alagoana que revolucionou a psiquiatra

Rodado no Rio, Alagoas e na Alemanha, o filme Olhar de Nise, de Jorge Oliveira, será exibido neste sábado na Mostra Panorama Brasil do Festival de Cinema de Brasília, apresentando um depoimento inédito gravado dois anos antes da morte doutora Nise da Silveira, a alagoana que revolucionou a psiquiatria no mundo usando a arte-terapia como tratamento das doenças mentais. A exibição começa às 17h no cinema do shopping Liberty Mall.

 

O  filme de Jorge Oliveira, codireção de Pedro Zoca e produção de Ana Maria Rocha, conta a trajetória de vida da doutora Nise da Silveira. É o documentário mais aguardado da Mostra Panorama Brasil do 48º Festival de Cinema de Brasília. Mostra como Nise se rebelou contra o choque-elétrico e revolucionou a psiquiatria. No documentário, o artista plástico Almir Mavignier, que mora na Alemanha, conta como ajudou Nise a implantar a arte-terapia dentro do Hospital D. Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio, ao descobrir os pacientes com vocação para pintura.

 

Olhar de Nise, com vários depoimentos, discute em profundidade a esquizofrenia e resgata a história de uma das mulheres mais importantes do século XX, a primeira alagoana a se formar em medicina na Bahia, numa turma onde só tinha homens. Exibe uma entrevista inédita de 1997, dois anos antes da morte dela, onde a doutora conta toda a sua trajetória de vida: a infância em Maceió, a formatura na Faculdade de Medicina em Salvador, a chegada ao Rio de Janeiro, a sua prisão na ditadura de Getúlio Vargas, onde ficou com o escritor Graciliano Ramos, e o início dos seus trabalhos como psiquiatra no Hospital da Praia Vermelha, em Botafogo.

 

O filme, um longa-metragem de 90 minutos, fotografado por André Lavenere, tem a participação de Rafael Cardoso, Mariana Infante, Nando Rodrigues e Roberto de Martin e reconstitui cenas que emocionam o público. Em uma delas, Nise da Silveira, no leito da morte, lembra do marido, o sanitarista Mário Magalhães, que a chama para o último baile, um dos momentos sublimes do documentário.

 

– É uma cena comovente – diz o diretor. –  É o início do filme. O casal é interpretado pela atriz Mariana Infante e pelo ator Rafael Cardoso, da TV Globo. Busquei trazer para tela o grande sonho da Nise, quando, no leito da morte, chama o marido para a última valsa. Acho que realizei o grande sonho dessa psiquiatra nos seus últimos momentos de vida.

 

Boa parte do documentário foi rodado no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. Lá, a produção recriou algumas cenas onde os doentes eram submetidos a choques elétricos e outras formas desumanas de tratamento. O filme também mostra, pela primeira vez, os quadros dos pacientes do Engenho de Dentro. Entre eles, as pinturas de Isaac, F. Diniz, Adelina, Rahpael, Carlos, Petrus, Emigdio, cujas histórias são narradas pela própria Nise e por Mavignier, no depoimento que deu no seu atelier em Hamburgo, na Alemanha.

 

Na entrevista em Hamburgo, onde mora até hoje, Almir Mavignier, 90 anos, professor universitário aposentado, com 90 anos, fala sobre a sua história com a Nise e como descobriu os pacientes que tinham vocação para pintura naquele manicômio onde, segundo ele, viviam em total abandono, desprezado pelo poder público até serem resgatados pela crítica por suas obras valiosas.