Exportação de carne alagoana para China será via Sergipe

AL vai a estado vizinho para alcançar mercado chinês de carne

O esforço pela abertura do mercado da agropecuária nacional para a China já foi anunciado pelo presidente interino Michel Temer (PMDB) como medida prioritária após a possível confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Por causa dessa sinalização, o Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Agricultura (Seagri) planeja a inclusão do produtor alagoano no novo plano de exportação de carne para a China. Mas apesar de ter derrubado as barreiras sanitárias internacionais há dois anos, Alagoas ainda não tem sequer um frigorífico certificado nem porto adequado para esta exportação. E os produtores vão depender de Sergipe para vender sua carne ou exportar soja e milho para o tigre asiático.

A informação é do titular da Seagri, Álvaro Vasconcelos, que afirmou que está lançando o programa de melhoramento genético e da carcaça do gado de corte em Alagoas, através do cruzamento industrial, já prevendo esse mercado de exportação no futuro, assim que o Brasil “estiver a todo vapor”, exportando para a China.

“Nessa negociação, Alagoas pode vender, mas tem que fazer o abate no Estado de Sergipe, no outro lado da nossa divida. Porque, em Alagoas, não temos nenhum matadouro ou frigorífico com o certificado de inspeção federal adequado a fazer esse abate para exportação. Nós podemos fazer a exportação dos animais produzidos em Alagoas, mas desde que seja abatido no vizinho Estado de Sergipe”, explicou o secretário.

Quando questionado pelo Diário do Poder se haveria alguma iniciativa do Governo do Estado para garantir que haja um frigorífico dentro desses padrões de exportação em Alagoas, Álvaro Vasconcelos respondeu o seguinte: “Não… Estamos tentando um grupo de fora que venha fazer esse investimento em Alagoas. Isso aí tem que partir da iniciativa privada. Mas, lógico, que nós do governo temos que estar procurando, incentivando, para fazer com que esse grupo possa se instalar em Alagoas. Estamos conversando com vários grupos”.

Antes de atravessar o oceano e continentes para chegar à China, o gado alagoano terá que atravessar o Rio São Francisco, até o município sergipano de Propriá, onde será abatido no frigorífico Nutrial.

Outro entrave

Quando explicava que o frigorífico sergipano têm o certificado de inspeção e se prepara para fazer essa exportação para o mercado chinês, o titular da Seagri expôs também a deficiência portuária em Alagoas para exportar também a soja e o milho que também devem ter a exportação intensificada para o país asiático. Nesse caso, Alagoas já tem recorrido não apenas a Sergipe, como também à Bahia.

“No ano passado, Alagoas já exportou soja através do porto de Sergipe. Porque eles já estavam fazendo esse tipo de transporte. Então, exportamos soja através de Sergipe e uma parte também através da Bahia, porque nosso porto ainda não está adequado. Como é muito próximo o porto de Sergipe da área produtiva de Alagoas, temos essa facilidade”, revelou Vasconcelos.

O secretário que também é um dos grandes pecuaristas de Alagoas garante que o objetivo principal do esforço pela pecuária local é oferecer uma qualidade de carne melhor para a sociedade alagoana. Exportando o excedente do consumo local, dentro do padrão internacional.

Preparação

Diário do Poder apurou que o governo de Renan Filho está desenhando um projeto para a desoneração da carne. A modificação será mais uma intervenção na questão tributária do setor, depois da polêmica atribuição de valor comercial a uma mercadoria produzida estritamente para consumo próprio nas fazendas de gado: a palma forrageira. Os dados sobre a inexistente comercialização de palma dados, enxertados no fisco pela Seagri, retiram R$ 1,2 milhão mensais em ICMS dos cofres de Maceió, em 2016. E reforçou o caixa de municípios sertanejos e da Bacia Leiteira de Alagoas, gerando uma guerra judicial travada até hoje.

Outras ações de investimento no setor da pecuária de corte e leiteira foram realizadas recentemente, a exemplo do reforço da defesa sanitária, a partir da assinatura de convênio com a Caixa para construção de um espaço adequado para a Feira do Gado, em Dois Riachos. Na tradicional feira, devem ser comercializados dois mil animais por semana e gerar cerca de R$ 2 milhões no mesmo período.

Além disso, no início deste mês de julho, o secretário Álvaro Vasconcelos divulgou que obteve do secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento, Caio Rocha, a garantia de distribuição de 80 mil litros diários do Programa do Leite em Alagoas.

Em 2014, ainda no governo de Teotonio Vilela Filho (PSDB), Alagoas recebeu certificação internacional de zona livre da febre aftosa com vacinação contra a doença, que impôs barreiras sanitárias, durante anos. O reconhecimento liberou a circulação da carne alagoana para fora do Estado.

O projeto de exportação de carne para a China também deve dar grande projeção à recente aliança do governo de Renan Filho com o deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB) e seu filho, o suplente de deputado federal Nivaldo Albuquerque (PRP). Pois é do clã Albuquerque a indicação do veterinário Rui Fernando Souza Alves para presidir a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal).

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), no primeiro semestre deste ano, o Brasil exportou mais de 2,8 bilhões de dólares em carne bovina, embarcando mais de 736 mil toneladas do produto. O que representa um aumento de 1,3% no faturamento e 12% em volume exportado no mesmo período de 2015. Desempenho obtido justamente graças à liderança do mercado chinês, com Hong Kong e China responsáveis por movimentar quase 1 bilhão de dólares desse montante.