Em Maceió, secretário é vítima de escuta e leva caso à PF

Setor cultural repudia falso escândalo contra Rui Palmeira

Uma tática rasteira e comum às campanhas pautadas pelo coronelismo fez do presidente da Fundação Municipal de Ação Cultural de Maceió (FMAC), Vinícius Palmeira, vítima da publicação criminosa de trechos entrecortados de conversas gravadas e montadas para atingir a candidatura à reeleição do prefeito Rui Palmeira (PSDB). O áudio foi publicado via WhatsApp na sexta-feira (30), antevéspera da votação do 1º turno e o setor cultural defendeu o gestor.

Talvez pela elevação da consciência crítica do eleitor da capital alagoana, o escândalo forjado repercutiu de uma forma não esperada pelos autores do ataque ao candidato tucano. O prefeito conseguiu passar para o 2º turno com 46,86% dos votos, contra os 24,73% do candidato Cícero Almeida, o Ciço (PMDB), cuja campanha diz não ter nada a ver com o fato.

Vinícius Palmeira fará a denúncia à Polícia Federal e ao Ministério Público e já sabe a quem atribuir a suspeita sobre origem da agressão apócrifa que, apesar da baixeza ética, foi forjada em padrão técnico comum às equipes que produzem propaganda eleitoral.

A reação da comunidade cultural foi contundente, repudiando a baixaria eleitoral e saindo em defesa do secretário que foi flagrado falando frases desconexas e montadas, a exemplo de: “as lideranças cachorra [sic]”, “todos que ganham [editais] são meus amigos”, “são pessoas que eu empurrei” e ainda “peguei um sacolete de cocaína”.

A pianista alagoana Selma Brito, por exemplo, gravou uma mensagem lamentando "por tudo que está sendo colocado na internet de uma maneira tão sórdida e constrangedora" e elogiou o gestor da cultura pela condução das políticas de forma honesta. Também se manifestaram os artistas e agentes culturais Wado, Júnior Almeida, Anderson Fidelis, Elaine Kundera, entre outros.

Veja parte da reação da comunidade cultural e a opinião espontânea do técnico de mixagem de som, Emmanuel Miranda, sobre a montagem tosca das falas do secretário divulgadas nas redes sociais:

Tiro pela culatra

O objetivo era desmoralizar os editais para incentivo à cultura no município, mas o golpe atingiu a ponta da faca do avanço desta política cultural, a partir da quebra do balcão que resistia às cobranças por transparência e concorrência pública na relação com a destinação de dinheiro público para agentes culturais.

Integrantes do setor cultural se reuniram na manhã desta terça-feira (4) e preparam uma carta com um posicionamento sobre o caso. E uma ato público deve ocorrer no próximo dia 13 de outubro.

“Criatura maléfica”

O gestor da Cultura disse ao Diário do Poder que levará apenas às autoridades a suspeita sobre quem deve ter gravado a conversa dentro de sua casa, em mais de uma ocasião, ao longo de pelo menos um ano. Mas acredita que, diante da política cultural de editais, a reação da sociedade foi natural, porque o ataque também foi direcionado ao nível institucional.

Leia um trecho da fala de Vinícius sobre o assunto:

“No último fim de semana, vivi um momento em que a dor vale a pena doer, porque me senti totalmente amparado pela reação da comunidade cultural, que quer saber quem fez as gravações e divulgou o áudio. São várias conversas em tempos diferentes. No áudio, há até uma tentativa de inserção de coisa com droga que ficou patético, porque a frase nem minha é. Eles futucaram um vespeiro e o vespeiro vai sair organizado para descer o sarrafo sem pena

Quando uma criatura maléfica fez uma coisa dessa, colocou todo mundo no mesmo rolo, no mesmo saco. Isso agride a todos. Ele atacou a institucionalidade, não a mim, simplesmente. Foi atacada também foi a implantação de uma política cultural que tem como base a concorrência pública. Não posso afirmar de que campanha surgiu. Mas com certeza surgiu de dentro de uma campanha de um opositor. Isso é usado para atingir o prefeito através de alguém de sua equipe. E o prefeito sabe com quem trabalha e estamos muito tranquilos, buscando a ação das autoridades”, disse Vinícius Palmeira, ao Diário do Poder.

Nada a ver

Não há elementos para acusação contra o candidato Cícero Almeida, nem contra qualquer outro candidato a respeito da origem da edição das escutas. Mas, o Diário do Poder entrou em contato com a assessoria da campanha do peemedebista, para ouvir a opinião dos opositores de Rui Palmeira neste 2º turno sobre o assunto. A resposta recebida da campanha de Ciço foi a seguinte:

“A campanha não tem nada a ver com o assunto em questão, trata-se de um problema entre Vinícius Palmeira e a polícia”. 

"Não contem comigo"

Os candidatos do PSOL, Gustavo Pessoa, e do PT, Paulão, 4º e 5º colocados da disputa, também foram procurados e se manifestaram sobre o caso.

Paulão disse: "Vinícius Palmeira é uma pessoa correta. Não acredito que ele esteja envolvido em processo de irregularidade. Ele tem a minha solidariedade e o considero um grande ser humano".

E Gustavo respondeu da seguinte forma: 

"A velha Alagoas volta a cena na reta final da campanha e tenta brincar com democracia. Surgem áudios envolvendo a vida privada das pessoas e começa a busca desesperada pela bala de prata. 

Não contem comigo pra isso.

Vou enfrentar os grupos políticos que controlam a cidade e o estado com as armas mais claras da política. A central de boatos, a difamação e a máquina de moer pessoas nao faz parte da minha práxis política. Essa é a face da direita mais anacrônica contra a qual eu luto todo dia. Rumo ao bom combate.

Existem parâmetros da luta política que devem ser respeitados. Acho que o secretário deve acionar todos os meios possíveis para descobrir a origem da escuta ilegal e a responsabilidade pela difusão dos áudios. Acho que o secretário deve aproveitar tb a oportunidade e esclarecer enventuais indagações naturais que podem surgir a partir da divulgação das peças.

Eu agiria dessa forma. Mas reitero meu repúdio a essa  forma de fazer política…anacrônica, viciada e patológica. 

Quanto ao conteúdo dos áudios, marecem o esclarecimento do Vinicius que como homem público deve ser o maior interesado em esclarecê-los"

Espaço aberto

Também disputaram a Prefeitura de Maceió os candidatos João Henrique Caldas, o JHC (PSB); Paulão (PT); Paulo Memória (PTC) e Fernando do Village (PMN). O Diário do Poder tentou contato com todos todos e mantém o espaço aberto para o debate.