Delator cita propina para dirigentes da CBF por direitos de transmissão

Ex e atual presidente da CBF teriam recebido suborno da Torneos

Em depoimento no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, o ex-executivo da empresa Torneos y Competencias, Alejandro Burzaco, disse ter pago propina para altos executivos de Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol), inclusive para os dois ex-presidentes da CBF José Maria Marin e Ricardo Teixeira, bem como para o atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero.

O ex-executivo argentino também afirma ter feito parcerias com outras empresas de mídia, que em sua quase totalidade pagaram propina para cartolas. E citou a TV Globo, a Media Pro (Espanha), a Fox Sports (EUA) e a Televisa (México) e duas empresas de intermediação: a Trac (brasileira) e a Full Play (argentina).

O depoimento é parte do processo em que Marin está sendo julgado ao lado do ex-presidente da Conmebol e da federação paraguaia, Juan Manuel Napout,  e do ex-presidente da federação peruana, Manuel Burga. Marin está em prisão domiciliar nos EUA desde 2015. E a Torneos y Competencias (TyC) é uma empresa argentina fundada em 1982 que sempre teve posição de destaque no mercado sul-americano de direitos. Buzarco era o principal executivo da empresa quando o FBI prendeu vários dirigentes da FIFA em Zurique em 27 de maio de 2015.

Burzaco depôs falou por mais de três horas e confessou que cometeu os crimes de lavagem de dinheiro, fraude e conspiração. Segundo ele, o pagamento de propina aos dirigentes seriam contrapartida ao apoio na negociação de contratos.

Quando perguntado pelo promotor Samuel Nitze se havia alguém no tribunal a quem pagou, Burzaco foi direto: “Juan Napout, Manuel Burga, José Maria Marin. Paguei propina para todos eles”.

“Quando?”, prosseguiu o promotor. “Para Marin, de 2012 até 2015. Para Burga, de 2010 a 2013. Para Napout, de 2010 e 2015”

A gestão de Napout à Presidência da Federação Paraguaia de Futebol durou de 2007 a 2014 e, à frente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), de 2014 a 2015. Burga presidiu a Federação Peruana de Futebol entre 2007 e 2010.

No depoimento, o promotor ainda perguntou se a Torneos tinha feito parceria com outras empresas de mídia. Burzarco respondeu: “Sim”. O promotor prosseguiu: “Com quem?”. E a resposta: “Várias. Fox Sports dos Estados Unidos, Televisa do México, Media Pro da Espanha, TV Globo do Brasil, Full Play da Argentina, Trac do Brasil, Grupo Clarín da Argentina. Várias”.

“Alguma delas pagou propina?”, perguntou o promotor. “Todas. Com exceção do Clarín. Todas”, respondeu o ex-executivo da Torneos.

Buzarco não detalhou sobre a acusação que fez à Globo. O promotor perguntou se as empresas parceiras eram informadas sobre o pagamento de propina citando o contrato da Copa Libertadores. “Sim. A Fox Panamericans”, respondeu.

US$ 600 POR ANO

Burzaco disse que a Fox Panamerican Sports comprou 50% da Torneos y Competencias. Em 2005, a empresa subiu sua participação na Torneos para 75%. E ficou assim até 27 de maio de 2015, quando o FBI prendeu dirigentes da FIFA em Zurique. Mais tarde no julgamento, Burzaco disse que pagou propina também para Ricardo Teixeira.

“De 2006 a 2012, pagamos US$ 600 mil por ano, em contas bancárias indicadas por ele ou seu secretário pessoal, Alexandre [Silveira]”, disse o ex-executivo.

Burzaco declarou ainda que era o argentino Julio Grondona, ex-presidente da AFA, quem gerenciava a distribuição dos subornos entre os dirigentes da Conmebol.

“Depois que Grondona morreu, em julho de 2014, as pessoas que conheciam todo o esquema de pagamento de propinas eram Juan Angel Napout e Marco Polo Del Nero”, disse Burzaco, antes de responder a quem pagou propina na Conmebol, entre os anos de 2006 e 2015. “Para todos. Presidente, integrantes do comitê executivo, vice-presidentes, secretário-geral, presidentes de federações nacionais. Todos”, concluiu.

Nesse período, os presidentes da CBF foram Ricardo Teixeira (2006-2012), José Maria Marin (2012- 2015) e Marco Polo Del Nero (2015 até hoje). Os brasileiros no Comitê Executivo da Conmebol foram Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.

'NÃO TOLERA'

A TV Globo divulgou a nota abaixo sobre o caso: "Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo arma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo de que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige".

Buzarco, que estava em Zurique, escapou por pouco da prisão – acabou demitido da TyC poucos dias depois. No dia 10 de junho de 2015 ele se entregou às autoridades americanas. “Quando eu soube que estava indiciado pelo governo dos Estados Unidos, passei 48 horas pensando no que fazer. Pensei: Você tem que ir para os EUA, se entregar, enfrentar as consequências e tentar limpar o que for possível”, relatou.

Na véspera do depoimento de Burzaco, os três advogados de defesa (de Marin, Napout e Burga) zeram críticas ao fato de o governo dos Estados Unidos terem feito acordos "benécos" a pessoas que confessaram ter cometido crimes. (Com informações do GloboEsporte.com)