Pudor, em política, é artigo sempre em falta.

Quando fez campanha para deputado estadual no Rio Grande do Sul, em 1974, Elias Bainy adotou como estratégia percorrer velórios, em Pelotas. Ia chegando de mansinho, com ar consternado, e cumprimentava os familiares do falecido, confortava viúva e órfãos etc.

Um dia chegou atrasado a um velório, mas a tempo de segurar a alça do caixão. Reconheceu, ao lado, na outra alça, o irmão de um adversário, que, de tão triste, parecia conhecer o morto. Bainy perguntou baixinho:

– Quem é o finado ilustre?

O homem foi de uma sinceridade desconcertante:

– Não sei, mas a família é numerosa e quase todos têm idade de votar.