Londres – Boeing pode ser considerada a maior vítima até agora da descoberta da espionagem norte-americana contra autoridades brasileiras. A avaliação consta de reportagem publicada nesta quinta-feira, 19, pelo jornal britânico Financial Times. Com o título “Boeing esnobada pelo Brasil, que opta por caças Saab em meio ao caso NSA”, a matéria diz que a decisão de Brasília é uma “amarga derrota” para a norte-americana Boeing e a francesa Dassault.
“O Brasil escolheu a sueca Saab para fornecer seu caça da próxima geração esnobando a França e os Estados Unidos ao entregar para uma pequena empresa de defesa escandinava um dos maiores negócios de defesa do mercado emergente”, diz a reportagem publicada na capa da seção de empresas e mercados da edição impressa do FT nesta quinta-feira. “Analistas dizem que o contrato pode ser a maior perda até agora para os EUA após as revelações da ampla espionagem feita por Washington contra o Brasil, inclusive contra a presidente Dilma Rousseff e sua equipe”, diz o texto.
A reportagem chama atenção para o fato de que as negociações se arrastaram por quase 20 anos e os caças dos EUA e da França eram vistos até recentemente como os vencedores mais prováveis.
O jornal diz que a derrota é especialmente preocupante para Paris, já que a empresa francesa contava com a compra do Brasil para ajudar a manter a linha de produção dos Rafale em operação. Com a crise econômica, estaria cada vez mais difícil para o governo francês apoiar o custo de produção dos caças, diz o FT.
Para a norte-americana Boeing, a venda ao Brasil poderia diminuir a diferença para a líder nos EUA, a Lockheed Martin. O jornal reconhece, porém, que as chances da Boeing “sempre foram intimamente ligadas à perspectiva de Brasília estreitar laços com Washington ou de reafirmar sua independência”.
O lamento da Dassault
A francesa Dassault Aviation lamentou não ter sido a escolhida pelo Brasil para fornecer a próxima geração de caças da Força Aérea Brasileira (FAB). Em nota, a empresa destaca que o modelo sueco Gripen “é equipado com muitos itens de terceiros, especialmente dos Estados Unidos” e que, por isso, não pertence à mesma categoria do preterido Rafale.
“Lamentamos que a escolha tenha pesado a favor do Gripen, um avião equipado com muitos equipamentos de terceiros, especialmente dos EUA, e que não pertence à mesma categoria do Rafale”, diz nota divulgada pela companhia francesa.
Ao anunciar a escolha pelo modelo Gripen, as autoridades brasileiras argumentaram que o preço mais baixo e a transferência de tecnologia oferecida pelos suecos pesaram a favor da Saab. A Dassault reconhece que tinha um preço mais elevado, mas argumenta que isso tem explicação técnica. “O Gripen é um avião de motor mais leve, único item que não coincide com o Rafale em termos de desempenho e, por isso, não apresentam o mesmo preço”, diz.
Sobre a transferência de tecnologia, a empresa diz que colaborou nos últimos 15 anos com o Brasil, que usa os caças franceses Mirage 2000, modelos que serão aposentados em breve. Esse acordo tecnológico aconteceu especialmente com a Embraer, diz a companhia. “A ampla transferência de tecnologia e parcerias cientificas, técnicas e industriais exigidas pelo Brasil eram poderosos argumentos a favor do Rafale”, diz a nota.