Batalha eleitoreira ameaça agência que blinda licitações em Maceió

'Fogo amigo' opõe vereadores à agência que moraliza contratos

Incidental ou propositalmente, a Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados (Arser) iniciou a semana na alça de mira da base aliada do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), na Câmara Municipal.

Com o discurso de enfrentamento a uma alegada interferência nas articulações eleitorais, um grupo de vereadores tenta pressionar o prefeito a minar o trabalho do diretor-presidente da Arser, Ricardo Wanderley, que passou a conduzir com rigor as licitações e a fiscalização das entregas de bens e serviços ao Município, a partir da criação do órgão, neste segundo mandato tucano.

Um dos sintomas mais contundentes desta guerra travada entre aliados do prefeito tucano pode atingir a blindagem que a agência garantiu às licitações, contra influências políticas estranhas à prestação dos serviços públicos. E Ricardo Wanderley já paga o preço de ter sido procurador municipal da gestão do ex-prefeito de Paripueira, Abrahão Moura, alçado desde a semana passada à posição de maior rival dos vereadores da base do prefeito Rui Palmeira.

Ricardo Wanderley virou alvo dessa batalha política, porque Abrahão Moura provocou a ira dos vereadores, ao buscar o apoio à candidatura de sua filha Cibele Moura, de apenas 20 anos, para o cargo de deputada estadual, junto a líderes comunitários da base aliada de Rui.  

Nesta versão narrada por vereadores, Abrahão recorreu a um assessor da Secretaria de Governo da Prefeitura de Maceió, para marcar uma reunião com as lideranças aliadas, por meio da Prefeitura, com o propósito eleitoral familiar. Mas teve frustrada a sua movimentação, porque o secretário de Governo, Tácio Melo, vetou o encontro, para evitar um motim entre vereadores e deixar claro para Abrahão que a base de Rui na Câmara não seria ignorada, nesse processo de articulação política para a candidatura do prefeito tucano a governador de Alagoas.

‘AONDE VAI COM TANTO PODER?’

A reação dos vereadores aliados do prefeito foi de anunciar a emissários do tucano que vetariam um projeto em que o Executivo planeja fixar um mandato de quatro anos para o presidente da Arser. Por entenderem que Ricardo Wanderley, apesar de técnico e competente, é afilhado político do ex-prefeito de Paripueira, os vereadores querem deixar claro que Abrahão Moura não pode querer ter mais poder que o prefeito Rui Palmeira.

“Aonde vai o Abrahão com tanto poder, com um indicado com mandato de quatro anos? Ele já tem um filho [Antonio Moura] na SMTT. Quer mais o quê? A candidatura do prefeito a governador é a prioridade! Não é a candidatura da filha do Abrahão! Temos muitos vereadores com votos. E essa história de minar a Arser e barrar licitação não tem nada a ver com essa briga. O Ricardo só entrou nessa, porque é o homem do Abrahão na agência”, disse um vereador que pediu para não ser identificado.

O vereador citou a licitação, porque, entre o fim de semana passado e essa segunda-feira (6), outra reação jogou combustível no “fogo amigo” trocado entre os aliados de Rui Palmeira, quando a empresa BRA Serviços apresentou impugnação para tentar impedir, pela quinta vez desde 2014, a conclusão do certame licitatório para a contratação de serviços gerais para a Secretaria Municipal da Educação (Semed).

Bastou essa movimentação para um dos lados da batalha acusar o grupo de vereadores de forjar um confronto com Abrahão Moura, com o suposto objetivo de impedir a suspensão do atual contrato da BRA Serviços com a Prefeitura de Maceió e desestabilizar o trabalho de Ricardo Wanderley, na Arser.

Segundo essa versão, caso a intervenção fosse bem sucedida, além de desgastar o “afilhado” de seu rival, os vereadores ainda garantiriam a suposta relação de proximidade política com a empresa, que costumaria atender pedidos de contratação de funcionários indicados por vereadores.

‘É DESCULPA’

Ao contrário do que apurou o Diário do Poder junto a vereadores, Abrahão Moura disse nunca ter tentado reunir algum líder comunitário para apoiar a filha. E fontes da Prefeitura de Maceió acreditam que este foi um pretexto para minar o trabalho da Arser.

Antes de partir para o ataque, Moura afirmou ter tomado conhecimento dessa versão, nessa segunda-feira, por meio das redes sociais. “Acho que a pré-candidatura da Cibele é desculpa de alguns vereadores para esconder outros interesses, até porque a região norte é que é a base dela”, reagiu Abrahão, aliado histórico da família Palmeira.

Tido como um conselheiro político importante para o prefeito, Abrahão Moura irritou recentemente aliados de Rui Palmeira, ao ter declarado que votará no senador Renan Calheiros (PMDB-AL). E a relação dos vereadores com o prefeito tucano anda tensa, porque seus aliados na Câmara esperavam uma reação de Rui contra a postura de Abrahão.

A crise acontece menos de dois meses depois de o chefe do Executivo exigir que o PDT do deputado federal e ex-governador Ronaldo Lessa entregasse seus cargos, após a decisão dos pedetistas de ingressar no governo de Renan Filho (PMDB), contra o qual Rui Palmeira deve disputar eleição em 2018.

A guerra entre os vereadores e o conselheiro político de Rui Palmeira pode resultar em um efeito bem comum às disputas da política pequena, se prejudicar o desempenho da Arser, que foi criada e construída pelo esforço pessoal e conjunto de Ricardo Wanderley, do prefeito tucano e dos próprios vereadores.

E o eleitor precisa ficar atento, desde já, à importância de preservar dessa batalha a instituição que passou obrigar os gestores de Maceió a respeitar a Lei de Licitações. Exemplo maior, até o momento, foi a redução de mais da metade dos custos da compra de medicamentos na capital alagoana, com previsão de economia de R$ 15,5 milhões para a aquisição de até 190 itens de medicamentos e gêneros necessários para o abastecimento da farmácia básica do Município.

Em tempo, a instituição de mandato em agências reguladoras está prevista em lei. E protege o cidadão e o erário das guerrilhas do poder pelo poder.