Andrade Gutierrez tratou do Aeroporto de Confins com ministro Moreira Franco

As mensagens de 2013 foram interceptadas pela Lava Jato

A Operação Lava Jato reuniu mensagens trocadas em 2013 entre o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo e o então secretário da Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, em que tratam da concessão do Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais, antes e depois do leilão, realizado em 22 de novembro.

A empreiteira é uma das sócias do Grupo CCR, líder do consórcio AeroBrasil, que arrematou o negócio de R$ 1,82 bilhão. Para os investigadores da Polícia Federal, há suspeitas de acertos prévios nos pacotes de concessões de aeroportos realizados no governo da presidente afastada Dilma Rousseff – um negócio de R$ 45 bilhões, ao todo.

“Prezado Ministro, conforme prometido não apenas participamos mas compramos CONFINS. Abs. Otávio”, escreveu o então presidente da Andrade Gutierrez, às 18h11, de 22 de novembro de 2013. Naquele dia, foi realizado a terceira etapa de concessões de aeroportos do governo Dilma, com os leilões de Confins e Galeão, no Rio. A AeroBrasil, formada pela Companhia de Participações em Concessões (CPC) – controlada pela CCR -, Zurich Airport International AG e Munich Airport International Beteiligungs GMBH venceu a disputa.

Para operar por 30 anos o terminal, foi criada a BH Airport.

“Vocês são craques. Foi aonde houve competição. Vamos em frente. Abs e obrigado”, responde Moreira Franco. É a primeira vez que Moreira Franco aparece na Lava Jato em troca de mensagens com os empreiteiros investigados por cartel e corrupção na Petrobrás. Um dos principais auxiliares do presidente interino, Michel Temer, Moreira Franco é hoje secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) – responsável pelas concessões e privatizações do governo federal. Em 2013, ele foi nomeado para a Secretaria de Aviação Civil, cargo que ocupou até janeiro de 2015.

MENSAGEM OTAVIO COM MOREIRA 2

Moreira Franco, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou os contatos. “Como responsável pela área, o ministro Moreira Franco conversou com todos os potenciais interessados em participar dos leilões de concessão”, informou o ministro, por meio de nota divulgada por sua assessoria de imprensa.

Não há evidência de crimes nos diálogos reunidos pela PF, mas para investigadores, as tratativas, os encontros, inclusive na casa do dono da Andrade Gutierrez, Sérgio Andrade, e informações citadas são indícios de possível favorecimento.

A Lava Jato apura se o esquema de corrupção descoberto na Petrobrás tenha sido reproduzido em outros contratos, como os do setor de transportes. Uma das frentes envolve os pacotes de concessão de aeroportos feitas no governo Dilma: em 2011, São Gonçalo do Amarante (RN), em 2012, Cumbica (SP), Juscelino Kubitschek (DF), em Brasília, e Vicaropos (SP), e em 2013, Galeão (RJ) e Confins (MG).

Além dos acertos prévios entre empreiteiras nas concessões, a força-tarefa do Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal analisa os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Estratégico (BNDES) para as empreiteiras para que elas realizassem as obras de ampliação dos terminais concedidos, para uso na Copa, em 2014.

Encontros. Dez dias antes do leilão de Confins, a análise da PF registra que Azevedo teria se encontrado com Moreira Franco. “Posso passar por aí em torno das 16h30?”, escreveu Azevedo, no dia 12 de novembro, de 2013. “OK”, respondeu Moreira Franco. No mesmo dia 12, o ex-presidente da Andrade trocou mensagens com Ricardo Mello Castanheira, executivo do Grupo CCR, sobre “rumores de adiamento do leilão de Confins”. Ele informa que estaria com Moreira Franco às 19h.

“Existem rumores de adiamento do leilão de Confins por receio de que não tenha proposta. É ruim para nós. A CCR vai apresentar proposta”, informa Castanheira. “Por favor, confirme para o Ministro. Mesmo que não seja pessoalmente. Abs.” O ex-presidente da Andrade Gutierrez responde minutos depois que vai “ao Ministro as 19h”. (AE)