Alagoas regrediu ao pior nível de desemprego em 12 anos

Brasil cresce após 22 meses e AL perde 11 mil postosde trabalho

O primeiro mês de gestão do estudante sem formação profissional escolhido pelo governador Renan Filho (PMDB) para comandar a pasta do Trabalho e Emprego de Alagoas (Sete) mostra como esta política pública é importante o suficiente para não merecer ser objeto de jogada eleitoral, objetivando apenas uma reeleição em 2018. O novo secretário Arthur Albuquerque, aos 26 anos, constatou que o Estado de Alagoas regrediu ao pior nível de desemprego em doze anos, em relação ao mês de fevereiro.

Segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Alagoas fechou 11.403 postos de trabalho com carteira assinada em fevereiro, uma retração de 3,25% em relação ao mês anterior. A informação divulgada na última quinta-feira (16) pelo Ministério do Trabalho é a diferença entre as 5.619 contratações e as 17.022 demissões, o segundo pior desempenho do Brasil.

O contexto expõe ainda mais a realidade da economia de Alagoas, quando comparado ao fato de que o mesmo mês de fevereiro registrou no Brasil um saldo positivo de geração de empregos, pela primeira vez após 22 meses, com contratações superando demissões em 35.612 vagas.

Em Alagoas, o maior volume de desemprego em fevereiro tinha sido em 2005, quando foram fechados 13.678 postos com carteira assinada. O acumulado deste ano de 2017, no primeiro bimestre em Alagoas, soma uma perda de 18.170 vagas com carteira assinada, um déficit de 5,08% em relação aos dois primeiros meses do ano passado.

SAZONALIDADE

O secretário de Trabalho e Emprego de Alagoas, Arthur Albuquerque, atribui o péssimo desempenho à sazonalidade do emprego em Alagoas, ligada ao setor sucroenergético. E diz que o estímulo ao empreendedorismo é uma das medidas adotadas pelo Estado.

“Nesse período do ano, é natural uma queda nos números devido ao fim da safra da cana, que emprega milhares de pessoas. Esse número ruim também está relacionado à estiagem que atingiu o Estado prejudicando os setores. Existem varias medidas atenuantes, uma delas é o estímulo ao empreendedorismo, entre outras medidas em longo prazo. A crise no Brasil também teve seus reflexos por aqui, mas estou otimista e acredito que em breve teremos melhores resultados”, afirmou Arthur Albuquerque.

O secretário é filho do deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB) e irmão do suplente de deputado federal Nivaldo Albuquerque (PRP). E foi empossado em 21 de fevereiro, em seu primeiro emprego formal, como resultado da promessa de apoio político de seu clã à reeleição do governador Renan Filho, em 2018.

ECONOMIA POBRE

O economista Cícero Péricles concorda que o período de agosto a dezembro representa uma época de contratações no setor da agroindústria da cana, período também positivo da economia por causa do aquecimento do turismo em Alagoas. Além da entrega de obras da construção civil, que anima a economia juntamente com as vendas do comércio, no fim do ano.

“O que o secretário diz da estiagem é verdade, porque a safra desse ano [2016] foi bem menor, 16 milhões de toneladas de cana, quando já foi de 30 milhões. Com o aumento de desemprego em 2015 e em 2016, diminui a renda. Com isso, cai o movimento do principal setor alagoano, que é o comércio e o setor de serviços. Agora, começaram a dispensar no setor da cana, da construção, com a entrega dos empreendimentos e no comércio e serviços, após as promoções de janeiro. Por isso, os números estão baixos”, explicou Cícero Péricles, para o Diário do Poder.

O economista lembra que o comércio, grande impulsor da empregabilidade, vem obtendo taxas negativas desde dezembro de 2014. Além de que houve redução de receitas nas prefeituras, após 11 anos de sucessivos aumentos. “As transferências federais do FPM e do FPE reduziram mais de 10% em 2015 e em 2016. Há uma reclamação justa. Uma Prefeitura que recebe menos, não cumpre o papel dela”, resume o economista.

O setor da construção civil foi o que mais cresceu proporcionalmente desde 2000, muito movido às obras públicas, tendo 1.300 obras do PAC e mais de 100 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida. Mas, está paralisado desde a crise econômica. O salto de 9 mil para 40 mil carteiras assinadas vem retraindo, desde o início da atual crise.

“O que era um ciclo virtuoso, virou um ciclo negativo, vicioso. Você tem menos renda, vai perdendo emprego e quando há uma recontratação, a renda é menor. No quadro nacional, o desemprego parou de subir. Só que Alagoas nunca está em sintonia com os resultados positivos nacionais, porque não temos uma economia madura, que empregue o ano inteiro, como São Paulo. Dependemos de safra e entressafra na agroindústria, alta e baixa estação no turismo, choveu, altera isso aqui, porque nós somos muito pobres e pequenos, periféricos. Então, essa sintonia com o Brasil, não pode ser exigida de Alagoas”, conclui o economista.

Para Cícero Péricles, é preciso amadurecer a economia alagoana com setores dinâmicos que empreguem ao longo de todo o ano. “Os exemplos claros são a agricultura familiar, e a chuva de micro e pequenas empresas, que são 160 mil em Alagoas e empregam muito. É uma novidade boa. E é preciso setores industriais vinculados ao abastecimento da população, como alimentos, roupas, móveis, que venda o ano inteiro”, sugere Cícero Péricles.