Acusado de corrupção, Sócrates repete o amigo Lula e ataca MP, Justiça e imprensa
Ex-premiê português critica quem o investiga e agrada Lula
Lisboa – Quem assistiu nesta quarta-feira (26) à entrevista do ex-primeiro-ministro socialista de Portugal José Socrates à imprensa estrangeira, não pôde deixar de comparar seu discurso ao do ex-presidente Lula, de quem, aliás, é amigo e que prefaciou seu livro “A Confiança no Mundo”, sobre tortura e democracia. O livro é a dissertação de mestrado que Socrates apresentou e defendeu em 2013, no Instituto d’Études Politique de Paris, cidade onde viveu após deixar o governo. Foi lançado com pompa e circunstância no Museu da Eletricidade, em Lisboa, com a presença de Lula e convidados que lotaram a sala. Em seguida, Lula participou de uma festa organizada pela Odebretch no Palácio da Ajuda, Patrimônio Histórico de Portugal.
Preso durante 11 meses, há 4 anos Socrates enfrenta um processo criminal por crime de corrupção passiva, mas ainda sem acusação formal, o que considera “chocante e escandaloso”. Sempre recorrendo a comparações, afirmou que “no Brasil, Lula foi levado coercitivamente para interrogatório, mas a seguir houve inquérito, acusação e condenação”, o que disse não ter acontecido no seu caso.
“Em Portugal faz-se o mesmo que no Brasil. Mete-se na prisão para que alguém fale”, sustentou. O fato é que não existe delação premiada em Portugal, mas apenas uma previsão de colaboração, mediante o qual o acusado poderia conseguir redução das penas, mas sem nenhuma garantia de obtê-la. Por isso, é difícil alguém delatar em Portugal, onde, como acontece no Brasil, os advogados são majoritariamente contra o instituto da delação premiada, defendida pelo Ministerio Público e Juízes.
Juízes, procuradores, advogados e imprensa foram atacados. ”São todos cumplíces. O Ministerio Público está preso aos embustes que criou. A direita política achou uma forma de me criminalizar, mas tenho uma legítima suspeita de que não sou vítima. Estou apenas a lutar.” Apesar do distanciamento estabelecido pelos dirigentes do Partido Socialista após sua prisão, confessou não sentir-se sozinho. Garantiu receber solidariedade e apoio de militantes por onde passa. Sem passar recibo, enfatizou “haver diferença entre a direção partidária e a militância.”