PSL fará triagem para evitar ex-petistas como filiados e candidatos do partido

Cerca de 4% dos 271 mil filiados ao PSL já passaram por partidos de esquerda

O programa de compliance do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, terá um controle para evitar que pessoas antes ligadas a siglas de esquerda sejam candidatos ou integrem diretórios regionais da legenda.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que, dos 271 mil filiados ao PSL, cerca de 10,6 mil (4%) já estiveram em siglas identificadas com a esquerda, como PT, PDT, PSB, PSOL, PC do B, PCB, PSTU e PCO.

Já entre os 145 políticos que o PSL elegeu nas eleições de 2018, 78 estiveram em outras siglas antes. Destes, 19 passaram por partidos de esquerda.

O compliance, comum no mundo corporativo, representa uma série de procedimentos e normas para assegurar a conduta ética. No PSL, a ideia é implementar o modelo nos próximos 15 dias.

No âmbito desse programa, haverá um sistema eletrônico para fazer uma triagem ideológica dos membros do PSL. O fato de terem sido de outros partidos não impedirá, porém, a filiação no PSL.

No caso da massa de filiados, que o presidente Luciano Bivar (PSL-PE) quer fazer chegar a um milhão até as eleições de 2020, a direção partidária não exercerá controle rigoroso.

Haverá regras, contudo, para aqueles que queiram se candidatar pelo PSL ou que façam parte dos diretórios do partido. Nesses casos, a triagem analisará dois fatores, segundo o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

Primeiro, não poderão estar filiados a outro partido que não o PSL (há casos de membros de diretórios filiados a outras siglas). Também não poderão ter sido filiados ou terem tido qualquer envolvimento com partidos de esquerda nos últimos cinco anos.

“Isso é uma medida de segurança. Porque o jogo [na última eleição] foi muito desleal, extremamente destrutivo. Não tem como reconciliar isso. A população também já não aceita mais esse troca-troca partidário, de sair de uma ideologia e ir para outra. A população está rigorosa, então temos que entregar um partido com essa mesma medida”, diz o deputado.

Isso não significa que aqueles que já foram simpatizantes da esquerda não terão espaço no PSL. O partido avaliará caso a caso para preservar quem de fato se arrependeu e mudou de ideia.

O partido tem hoje uma série de parlamentares que já estiveram em siglas de esquerda, inclusive dois deputados estaduais que foram do PT. Os deputados federais Coronel Tadeu (PSL-SP) e Soraya Manato (PSL-ES) e o senador Major Olímpio (PSL-SP) têm passagens pelo PDT.

Outra regra, que vai valer para filiados, pré-candidatos e dirigentes partidários, é que não sejam condenados em segunda instância por crimes como estelionato, latrocínio, pedofilia, assédio sexual ou agressão à mulher.

A iniciativa de tornar o partido mais coerente e vinculado a sua base é patrocinada por Bolsonaro. Foi a partir de uma reclamação do presidente sobre ataques a seu governo deferidos pela própria bancada do PSL que Bivar deflagrou a expulsão do deputado Alexandre Frota (ex-PSL-SP).

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Frota afirmou que o próprio Bivar lhe disse que Bolsonaro havia pedido sua expulsão. “O Luciano Bivar, meu amigo pessoal, ficou entre a cruz e a espada”, disse Frota.

Bivar e Bolsonaro têm tido discordâncias em relação à condução do PSL. O presidente não participará de eventos da campanha nacional de filiação que ocorrerão no sábado (17).

Para a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), “a expulsão do Frota por ele ter sido contra a política presidencial [de Bolsonaro] indica que Bivar está caminhando para tornar o PSL um partido de direita efetivamente”.

Zambelli diz que o PSL tem espaço para críticas ao presidente, mas que Frota o fez de forma generalizada. “Criticar de forma generalizada é desaprovar a política ideológica”, afirma.

A deputada defende uma blindagem do PSL contra aqueles que defendem outras ideologias, mas diz que o partido deve dar espaço a quem “foi para o PT acreditando num discurso de honestidade e se decepcionou”.
O deputado Luiz Philippe diz que a intenção da triagem é que o PSL siga adiante “dando uma purificada e evitando os oportunistas”.

“Não adianta pregar nós vamos ter um milhão [de filiados] e seja lá quem for, não é assim”, diz o deputado  Tadeu. “Mas não pode ser um filtro binário. O próprio Datena [que era filiado ao PT], hoje odeia a esquerda. A esquerda tinha projeto e muita gente foi achando que seria bom, mas o tempo mostrou que era uma porcaria.”

O líder da bancada do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), diz que o partido não fará caça às bruxas. “O PSL é democrático, não temos essa intransigência eleitoral.”

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) diz que “o fato de a pessoa ter sido ligada a algum partido não é impedimento por si só”.

“Tem que ver se a pessoa é a alinhada às pautas do PSL. Se chega dizendo que é conservadora, contra ideologia de gênero, pela escola sem partido, contra desarmamento, mas começa a defender outras coisas, aí não pode ficar no partido”, completa. (Com Folhapress)