Prefeito de Maceió rejeita comício diante da angústia em bairro rachando

Rui Palmeira afirma que eleição e fim da era Temer adiaram respostas para o Pinheiro

Enquanto maior parte dos políticos alagoanos ainda ignora ou somente desperta agora o interesse na busca por soluções para as rachaduras e tremores de terra no bairro do Pinheiro, o prefeito de Maceió (AL) Rui Palmeira (PSDB) enxerga oportunismo em parte da classe política, mas prega união da bancada federal pela resolução do problema. Inclusive, já articula com seu rival na política, o governador de Alagoas Renan Filho (MDB), ações conjuntas para pressionar por respostas para a angústia de mais de 20 mil maceioenses da região.

Após iniciar sozinho o desafio de desvendar um mistério geológico que ameaça desabrigar quase 500 famílias das áreas de risco, Rui Palmeira obteve a promessa de apoio federal do presidente Jair Bolsonaro. E receberá, na próxima sexta-feira (25), o novo chefe da Defesa Civil Nacional, coronel Alexandre Lucas Alves, em Maceió. Já com agenda marcada para segunda-feira (28), ser recebido pelo ministro do Desenvolvimento Regional Gustavo Canuto. A ambos, pedirá mais esforços e agilidade para a questão, antes da chegada da quadra chuvosa.

Não adianta eu ir para o Pinheiro fazer um comício, se não tenho a solução. A gente não sabe nem o diagnóstico. Então, a gente pede cautela, pede calma. Mas não acho que minha visita ou minha presença vá resolver isso. A gente está aqui de portas abertas, recebemos uma comitiva de moradores de forma muito tranquila, passando a realidade”, disse o prefeito tucano, em um trecho da entrevista concedida ao Diário do Poder no fim da tarde desta segunda-feira (21).

Leia a entrevista completa:

Pelo menos até dezembro, até a decretação da situação de emergência, o senhor tem agido de certa forma sozinho em busca de soluções para as rachaduras no solo e em imóveis do bairro do Pinheiro. Como foi a trajetória dessa luta até o decreto?

Foi o seguinte. Assim que houve a história do tremor e que as fissuras aumentaram lá no Pinheiro, a gente foi buscar especialistas. Inicialmente, vieram alguns técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; começaram esse estudo. Posteriormente, já vieram os técnicos do DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral, convertido na Agência Nacional de Mineração, ANM, há três meses], que é um órgão do Governo Federal responsável por toda essa parte de solo, e do Serviço Geológico do Brasil [CPRM], com geólogos extremamente competentes. Eles vieram para cá e começaram os estudos. Só que realmente os estudos demandam tempo, já que é algo nunca visto em uma área urbana no Brasil. Esses técnicos começaram esses estudos e, se não me engano em outubro, eles passaram um documento sugerindo a decretação de emergência.

Como foram os primeiros contatos com o Governo Federal em busca de solução?

Em agosto, a gente começou a solicitar audiências aos ministérios de Integração Nacional e Minas e Energia. Como havia já… No final do governo Temer, período eleitoral, eu senti que os caras foram nos empurrando com a barriga, até que chegou esse documento do DNPM. Quando o pessoal viu que a situação era realmente de gravidade, a gente conseguiu uma agenda lá com o então coordenador da Defesa Civil Nacional. E, naquele momento ficou certa a decretação realmente da emergência, posteriormente convalidada pela Defesa Civil Nacional. Esses estudos vêm sendo feitos há alguns meses. Vários tipos de estudos diferentes. Há técnicos mais uma vez em Maceió trabalhando isso. Eu entendo a angústia das famílias que querem respostas. Mas, infelizmente, a gente não tem ainda essas respostas.

Como ter respostas mais rápidas?

Então, para isso, na próxima sexta-feira [25] o novo chefe da Defesa Civil Nacional vem a Maceió. E para segunda-feira [28] já consegui uma agenda com o ministro Gustavo Canuto, do Desenvolvimento Regional, para pedir ainda mais esforços, ainda mais agilidade para a gente detectar realmente o que está acontecendo no Pinheiro. Porque, hoje, tudo o que se fala é especulação: Casal, Braskem, instabilidade do próprio terreno ou podem ser vários fatores. Realmente não se sabe. E segunda eu vou lá em Brasília para pedir um esforço maior. Eles têm apoiado, os técnicos estão sempre aqui, mas a gente precisa mesmo é de celeridade. Até porque está chegando a quadra chuvosa e acho que a preocupação aumenta.

Casa no bairro do Pinheiro com rachadura. Foto: Divulgação Abel Galindo

Quando esta situação do Pinheiro passou a ter uma atenção especial do prefeito? Houve tremores em fevereiro e março de 2018.

Na verdade, quando esse documento chegou às minhas mãos, dos primeiros estudos que mostraram realmente que a situação demandava uma decretação de emergência, a partir daí a preocupação aumentou e decretamos emergência, assim que esse documento nos chegou. Até porque, a partir desse decreto convalidado pelo Governo Federal já conseguimos o apoio financeiro para as famílias. Uma espécie de auxílio moradia no valor de R$ 1 mil para as famílias que já saíram das casas. A tendência é de que esse número aumente, porque está chegando na quadra chuvosa e muito provavelmente nós vamos ter que evacuar aproximadamente 490 famílias. Até o momento saíram 80, tem mais 80 para sair e esse primeiro recurso a gente já garantiu. Mas a gente precisava decretar a emergência para ter acesso a esse recurso que não vai resolver, mas vai minimizar o sofrimento dessas famílias lá do Pinheiro.

Os órgãos públicos demoraram a atuar nesse caso?

Não. Acredito que não. Pelo menos no momento em que a Prefeitura solicitou esse apoio, os recursos vieram de Brasília e começaram os estudos. É porque realmente os estudos demandam tempo. O que aconteceu é um fenômeno praticamente único aqui no país. E no momento em que apresentaram essa documentação e encaminharam aqui para a Prefeitura, a gente já correu para decretar a emergência. Porque a gente tem que estar realmente em estado de atenção. E claro que vamos pedir mais esforços do Ministério do Desenvolvimento Regional e mais celeridade para a gente ter esse diagnóstico o quanto antes. Sobretudo antes da quadra chuvosa, que é um momento que realmente nos preocupa bastante.

Vimos a reunião ministerial do presidente Bolsonaro sobre o assunto, no dia 11. A partir daquela reunião, houve mais algum contato diretamente com o presidente ou com seus ministros?

No dia da reunião o ministro Gustavo Canuto me ligou. Na semana passada já solicitei essa agenda ao ministro e ao próprio presidente Jair Bolsonaro para levar nossa aflição a respeito desse problema. Conversei por telefone também com o governador Renan Filho e propus que solicitássemos em conjunto essas reuniões para mostrar que… Acho que é um problema tão grave que temos que deixar, claro, questões políticas de lado para buscar realmente um diagnóstico e a possível solução para esse problema.

Esse foi seu primeiro contato com o governador para tratar desse assunto?

Sim. Foi.

Não houve também procura da parte dele?

Não! O próprio governador me ligou mostrando a preocupação, a gente se falou duas vezes por telefone, e eu sugeri que nós solicitássemos também essa audiência em conjunto. Já solicitei e está marcada com o ministro Gustavo Canuto, lá em Brasília.

A classe política tem somente agora demonstrado maior interesse no caso. A que se deve, na sua avaliação, essa busca da classe política agora, já que o Estado passou por um período de campanha eleitoral onde o interesse poderia ser maior?

Acho que agora as pessoas, todo mundo, tem ciência da seriedade e da gravidade desse problema. Acho que, no momento em que o Governo Federal convalida um decreto de um município em relação a um fato que hoje ainda há causas desconhecidas, todo mundo passa a ficar preocupados. Claro que os moradores do Pinheiro que são as vítimas desse problema ficam realmente angustiados, mas a gente sabe que vai também aparecer o oportunismo político. Infelizmente, a gente já vê algumas movimentações que a gente sabe que tem cunho político. E o que tenho buscado é evitar. Não participar de reuniões com esse cunho. Porque acho que é uma coisa tão séria que está afetando a vida de tantas famílias, que a gente tem que buscar é unidade, união. Que a bancada federal realmente nos ajude e o Governo do Estado e Prefeitura de Maceió trabalhem juntos, para a gente buscar uma possível solução para esse problema.

Rachaduras em residência do bairro do Pinheiro foram agravadas por tremores em 2018. Foto: Serviço Geológico do Brasil

Pelas informações com que já teve contato sobre a Braskem e a Casal, o senhor acredita na tese de que podem ter contribuído com isso?

É prematuro. Converso muito com os técnicos aqui. Pessoal do DNPM [ANM], que estão sempre por aqui e me passam que pode ser um ou outro [Braskem ou Casal], ambos, excesso de…, uma região que não tem esgotamento sanitário, pode ser também a questão de sumidouros e fossas, podem ser todos esses problemas ocasionando aquilo, ou o próprio terreno da região que pode ter algum tipo de instabilidade. Tudo está sendo discutido e estudado. Nenhum desses fatos foi descartado. Mas a gente não pode afirmar que a culpa é de A, B ou C. É preciso cautela. Acho que todo momento vão surgir as especulações, fake news. E com rede social isso se propaga muito rapidamente. Então, realmente não é fácil para quem está sofrendo isso na pele. Mas é preciso de cautela e calma neste momento, para que os pesquisadores nos tragam um dado oficial, que tenha a chancela dos órgãos federais, dizendo o que realmente está causando aquilo.

Para o morador do Pinheiro que ainda reclama da ausência do prefeito no local para discutir isso mais próximo da comunidade, o que o senhor tem a dizer?

Olha, recebi aqui uma comitiva com moradores do Pinheiro, há 15 dias. Foram seis representantes da comunidade. A gente tem tentado fazer isso da forma menos política possível. Não adianta eu ir para o Pinheiro fazer um comício, se não tenho a solução. A gente não sabe nem o diagnóstico. Então, a gente pede cautela, pede calma. Mas não acho que minha visita ou minha presença vá resolver isso. A gente está aqui de portas abertas, recebemos uma comitiva de moradores de forma muito tranquila, passando a realidade. As pessoas têm muitas dúvidas se a gente passou o que hoje está acontecendo. E as informações que nós temos demos publicidade. E é preciso ter cautela e aguardar. A gente não pode fazer outra coisa senão aguardar e torcer para que esses técnicos tragam as informações o mais rápido possível para que a gente possa remediar esse problema que é tão sério.