CPI pode convocar Facebook e Google por vídeos de Bolsonaro contra vacina

"Não é aceitável que qualquer um vá para a rede social dizer que é melhor se contaminar do que se vacinar, e continuar impune", alega vice-presidente da CPI

O vice-presidente da CPI da Pandemia, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), requereu nesta sexta (18) a convocação de representantes do Google e do Facebook para prestar explicar por que não bloqueiam e não tiram vídeos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro de suas redes sociais.

Em vídeo publicado no YouTube (pertencente ao Google) e no Facebook, nesta quinta-feira, 17, Bolsonaro afirmou que contrair o novo coronavírus confere maior imunidade contra a covid-19 que as vacinas. O comentário vai contra o consenso atual da comunidade científica.

Randolfe não chegou a dizer que pedirá a retirada do ar do conteúdo, mas lembrou que nos Estados Unidos o Facebook baniu as contas do ex-presidente Donald Trump, em razão de seguidas suspeitas sem evidências lançadas sobre o resultado da eleição presidencial americana de 2020. A divulgação de conteúdos sabidamente falsos viola as políticas dessas empresas.

— Não vamos pedir nada. Queremos saber qual a providência [que será tomada], qual o procedimento, se tem um padrão para os EUA, sede da empresa, e outro para o Brasil. Não é aceitável que qualquer um vá para a rede social, dizer que é melhor se contaminar do que se vacinar, e continuar impune — explicou Randolfe.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), as declarações de Bolsonaro equivalem a confessar um crime:

— Ontem o presidente da República fez uma declaração formal de culpa. Ele já tinha dito isso de várias formas, de maneira velada, mas ontem afirmou claramente. Se nada mais tivéssemos que ouvir, isto por si só incriminaria o presidente da República, em uma “estratégia” que é na verdade um crime de dolo eventual. As plataformas têm a obrigação de, em situações como essa, fazer a devida retirada desse conteúdo falso e que induz as pessoas a um comportamento inadequado.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), lembrou que o número de mortos pela covid no país está perto de ultrapassar 500 mil, e que as declarações de Bolsonaro prejudicam a campanha de vacinação, custando ainda mais vidas.

— Ele continua induzindo as pessoas a não se vacinarem. O que não pode é continuar essa veiculação, porque está matando as pessoas. O Brasil já é o segundo país em mortes. Neste fim de semana provavelmente vamos passar de meio milhão de mortos. Famílias foram dilaceradas — concluiu.

Documentos sigilosos

Randolfe Rodrigues fez um balanço de centenas de documentos reclassificados pela comissão. Esses documentos haviam chegado à CPI com a classificação confidencial pelos órgãos de origem, mas após análise da Consultoria Legislativa e da secretaria da comissão concluiu-se que não havia justificativa para o sigilo.

Segundo Randolfe, são 1.636 documentos do Ministério das Relações Exteriores, 97 do Ministério da Saúde, 445 a respeito da crise de oxigênio de Manaus e quatro contratos da Fiocruz — documentos que, de acordo com o senador do Amapá, será necessário analisar com a ajuda da imprensa e da sociedade.

— Desde ontem à noite já estão disponibilizados para toda a sociedade brasileira. O que algumas instituições tentaram fazer foi impedir o acesso. Contamos com o apoio de vocês para trazer mais luzes para a atuação desta CPI. (Agência Senado)