Impressiona a visão profética certeira de três grandes intelectuais ocidentais do século XX: Bertrand Russell, Arnold J. Toynbee e George Orwell.
Bertrand Russell, na época em que as opiniões ainda eram manipuladas e impressas apenas em jornais e revistas, consumidos apenas pelas elites “educadas”, previu, no início da década de 20 do século passado, em seus Ensaios Céticos, a completa manipulação das massas pelas “Fake News” no futuro presente, dessa vez incluindo os “educados” e os “assalariados”, como se referia à grande massa da população britânica.
Russell foi um crítico feroz do fanatismo político e religioso e dos consequentes sistemas educacionais britânico e norte-americano. Segundo ele, sob o manto enganador da democracia a educação, na Inglaterra e nos Estados Unidos, era absolutamente controlada por diretrizes estatais e religiosas, que não diferiam, para ele, do controle da educação que se fazia no sistema comunista. Cético sobre as possibilidades do livre pensamento nas democracias ocidentais, Russell previa o que qualificou como avanço da “patifaria política”, por meio da difusão em massa de notícias falsas, transformando a opinião pública em mera opinião publicada pelo partido no Poder. A propaganda política, e só ela, controlaria a economia e o pensamento que deveria ser o pensamento certo e verdadeiro da maioria.
O historiador Arnold Toynbee, que participou das duas guerras mundiais do século XX como diplomata e representou a Inglaterra na Conferência de Paz de Versalhes em 1918, afirmou, em 1958, que as guerras globais no século atual se dariam entre as religiões de Abraão: judeus, cristãos e maometanos, e não entre Estados nacionais. A visão histórica de Toynbee retirava o protagonismo dos Estados nacionais e o colocava nas civilizações, onde os fatores culturais e religiosos propiciaram a substância do poder político e econômico, de sua gênese à sua extinção. Em seu livro “A Humanidade e a Mãe Terra”, publicado em 1976, demonstrou de forma clara a finitude dos recursos naturais do planeta e a autodestruição da sociedade industrial no médio prazo. A política e o capital, donos do poder, nunca prestaram atenção ao que disse Toynbee. Ou se prestaram, continuam se fazendo de desentendidos.
George Orwell transformou em literatura a tirania política que brotaria nas ilusórias democracias ocidentais com o controle tecnológico da informação e a continua vigilância do pensamento e do comportamento. Em visita ao Brasil, na década de 50, o historiador Arnold Toynbee, focado historicamente no surgimento, crescimento e queda das civilizações planetárias, foi quem primeiro usou o termo “melting pot” – panela de mistura-, para descrever a gororoba civilizacional e cultural que encontrou por aqui e que se provou o caldo perfeito para a proliferação bacteriana de partidos, igrejas, seitas e comunicadores, numa grande confusão de imitadores de ideias e discursos que insistem em preservar a pobreza e o atraso material e mental de um arremedo de decadência da civilização dos outros.