Os custos das guerras e conflitos, como o da Ucrânia e as tensões no Oriente Médio, continuam a consumir bilhões de dólares e impactar a economia global. Enquanto isso, grandes investidores, particularmente dos setores de defesa e tecnologia, colhem frutos das instabilidades que varrem o planeta. Este cenário remete ao filme O Senhor das Armas (baseado em fatos reais), no qual a guerra se transforma em um negócio bilionário, com poucos se enriquecendo à custa do sofrimento de muitos. Embora o “faro para negócios” de grandes players seja legítimo, é preciso refletir: qual é, de fato, o preço da fome, diante dos lucros crescentes?

É sabido que uma das consequências mais graves dos conflitos armados é a destruição de infraestruturas essenciais, o que agrava a insegurança alimentar, como ocorre na Síria e em outras regiões devastadas. O mapa da fome global, revelado por organizações como a FAO, aponta que o fenômeno da fome afeta aproximadamente 800 milhões de pessoas. Esse dado revela não apenas uma face sombria, mas a cruel indiferença que perpetua as desigualdades e o sofrimento humano.

Dado que a interconexão entre guerra e fome é inevitável, seria possível destinar parte dos lucros gerados pela indústria bélica ao combate à fome e ao desenvolvimento de soluções sustentáveis. Assim, seria possível reduzir significativamente a insegurança alimentar global, além de proporcionar uma oportunidade de reconstrução para as regiões devastadas.

O mundo possui recursos suficientes para enfrentar a crise alimentar global, mas é essencial mudar o foco dos investimentos — da destruição para a paz e a dignidade humana. A mobilização de investidores, grandes corporações e líderes globais é fundamental para que a fome seja tratada com mais urgência do que os interesses que alimentam os conflitos armados. Transformar o lucro da guerra em investimento na vida humana deve ser não apenas uma opção, mas uma obrigação moral para todos nós. Somente assim será possível vislumbrar um futuro melhor.

Luciano Martins é advogado, professor, vice-presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios (Ubam), no Estado de Mato Grosso do Sul. Atuou como diretor-presidente da Fundação Social do Trabalho no Município de Campo Grande-MS.