Numa visão geopolítica global, o grande derrotado na eleição de 2024 vem sendo a posição ideológica de “centro”. Os extremos – direita e esquerda – levam a melhor. A crise com que o mundo se depara é de tamanha proporção, que somente prospera a mensagem demagógica, radical, populista, que promete o paraíso em curto prazo
No momento eleitoral, criou-se um clima de histeria coletiva, no qual as posições exacerbadas, sem começo, meio e fim, prevalecem diante da racionalidade e do bom senso. Certas contradições saltam aos olhos dos analistas. No Brasil, os bolsonaristas verdadeiros chamam o presidente Lula de “quatro dedos” e o maior corrupto da política brasileira. Esses ativistas não perdoam aqueles, que em nome da governabilidade, buscam o diálogo com o governo. Qualquer aproximação, de dedo em riste chamam de “vermelhinhos”, traidores de Bolsonaro.
Entretanto, são esses mesmos bolsonaristas, que idolatram Donald Trump e o apoiam, mesmo sabendo que ele respondeu dois processos de impeachment, quatro indiciamentos, uma condenação criminal, dissidências republicanas, sonegação de impostos, assédios sexuais, estupro, a repulsa na mídia e comparações com Hitler. Claramente, “dois pesos e duas medidas”.
Zygmunt Bauman, polonês, radicado na Inglaterra desde 1971, já falecido, tem estudos primorosos nessa linha. Diz ele: “ “Eles sempre convergem. Há sempre essa conexão entre os dois. Tudo se reduz à questão muito simples, de que existem dois valores igualmente indispensáveis para uma vida humana decente e digna: liberdade e segurança. Não se pode ter um sem que se tenha o outro. Qualquer que seja a perspectiva da qual se parta, chega-se sempre à mesma questão, de que, ou liberdade e segurança são obtidas juntas, ou não serão obtidas de modo algum. Esse é o ponto de encontro entre o socialismo e liberalismo”.
O filósofo inglês John Stuart Mill (1806-1873), o grande precursor do liberalismo social, defendeu a repartição justa da produção na sociedade; eliminação dos privilégios de nascimento e a defesa do espírito comunitário, ao contrário do individualismo.
Nota-se que a “sociologia humanista” corresponde a posição ideológica do “centro”, considerando a realidade social diferente da ficção totalitária e radical, que separa pessoas e cria clima de tensão permanente.
Condição humana
Espera-se do cenário político global futuro, que o “centro” inspire as posições ideológicas das grandes decisões. Somente assim estará preservada a condição humana, elemento fundamental para o progresso harmônico e estável da humanidade.