Observe um formigueiro. Estabelecida a trilha, as formigas vão e vêm num ritmo constante, só interrompido, aqui e ali, por aquelas rápidas paradinhas que de vez em quando dão, como que para comunicar-se com alguma conhecida. Elas faziam assim há vinte anos e, se dentro de vinte anos você observar esse ou outro formigueiro, verá a mesma rotina. Não há progresso na vida das formigas.

Observe a atividade humana. Observe qualquer atividade humana. E volte a fazê-lo passado um par de décadas. Você não a reconhecerá porque tudo terá mudado: o ambiente será diferente, os meios usados serão totalmente outros e o próprio produto da atividade terá aspecto distinto. O homem tem essa capacidade de transformar as coisas.

Entre, depois, numa sala de aula. Qualquer sala de aula. Você reconhecerá tudo o que havia ali ao tempo em que você mesmo frequentava os bancos escolares. Talvez o quadro-negro tenha esverdeado e a sineta apite; todo o resto, porém, está conservado como se algum preservacionista houvesse guardado a escola num vidro de formol. Estou exagerando? Talvez, mas não será difícil identificar, ali, a mesmice do formigueiro, exceto pelas condutas, que involuíram.

Há meio século, seria inaceitável que um professor dedicasse o tempo de suas aulas para formar adeptos às suas convicções políticas pessoais e alinhar alunos com seus próprios afetos e desafetos ideológicos. Para obter esse “espelhamento”, vêm as “narrativas”, as manipulações da história, as leituras do tempo presente, as “problematizações” e a sedução das utopias. Ou seja – nas palavras de José Dirceu, expressando seu temor ao movimento Escola Sem Partido – a conquista de corações e mentes.

Isto tudo seria grave por si mesmo, não fossem as consequências. O resultado se faz nítido no ambiente escolar, na perda de posições relativas de nosso país no ranking internacional, nos muitos milhares de vagas não preenchidas no mercado para recursos humanos qualificados, no desperdício de talentos em proporções alarmantes, na pobreza intelectual que amplia a pobreza material, nas seduções da vida nas drogas e de seu tráfico, na desordem e na desarmonia social. Pasmem leitores: até para a política, objeto de tanta manipulação, faltam – e como faltam! – recursos humanos qualificados.

Presenciamos, então, o rotundo fracasso de um sistema que, por diferentes motivos, frustra alunos, professores, pais, investidores e a nação como um todo. O que se fornece a quem mais necessita é de uma injustiça que brada aos céus nos planos material, intelectual, emocional, ético, estético e espiritual. É o que acontece quando a política e a ideologia  são as grandes novidades…

Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.