Em 1945 formou-se em Engenharia Civil na UFPR Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil. Ela participou da construção da maior hidrelétrica subterrânea do sul do país, a usina Capivari-Cachoeira. Cinco anos depois, Maria Luiza Soares graduou-se como a primeira engenheira eletricista do Brasil no Instituto Eletrotécnico de Itajubá, atual UNIFEI. Ambas contribuíram fortemente para a soberania energética nacional.

São variados os exemplos de mulheres competentes que abriram caminho nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (da sigla em inglês, STEM). Vale destacar que no dia 23 de junho celebra-se o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia. Todavia, merece destaque, também, a coragem e a resiliência dessas pioneiras pelo simples e competente exercício profissional no combate ao preconceito nas questões de gênero e etnia.

Dias atrás parlamentar de peculiar atuação abordou nas redes sociais a questão de gênero como relevante no acidente envolvendo o “tatuzão” nas obras do Metrô na Marginal Tietê. Nesse nosso país, ainda democrático, vale a contra-argumentação de que o resultado de qualquer atividade é e pode ser prejudicado, obviamente, por razões variadas, tais como indolência, idoneidade, falta de inteligência cognitiva ou emocional, mas ser o profissional do sexo feminino ou masculino, enfim qualquer que seja a sua orientação sexual, não é uma delas.

Curioso o fenômeno sociológico da bravata, do preconceito, da desinformação e do achincalhamento ser tão intensificado nas redes sociais. Seguramente, a psicologia básica pode explicar de maneira apropriada o processo de identificação coletiva com aquele que emite publicamente suas ilibadas opiniões como se estivesse na mesa de um boteco.

Entretanto, o que mereceria não apenas um twitter, seriam manifestações contundentes e ações concretas para mudar a situação dramática dos 34% das escolas do ensino básico que não têm internet banda larga, dos 66% que não têm laboratório de informática, dos 44% não possuem esgoto na via pública, dos 64% que não têm bibliotecas e dos 63% que não possuem quadra de esportes. Segue a sugestão para que o ilustre deputado esteja na linha de frente para reverter parte dos obscenos montantes alocados para o fundo eleitoral e para as emendas parlamentares em prol da educação e da ciência. Segue, também, a divagação de quem sabe se o tal orçamento oculto já não está cumprindo algumas ações verdadeiramente patrióticas para a educação e para as ciências? Não, acredito que não, infelizmente. Essas sugestões, no entanto, dariam um impacto verdadeiramente formidável para o presente e o futuro de nossa gente. Sem bravatas, sem escárnio e com real patriotismo.

Ainda assim, merece destaque o fato de que nunca tantas meninas frequentaram a escola, seja no Brasil ou mundo afora, apesar de não usufruírem as mesmas condições que os garotos. Meninas e mulheres ainda são limitadas educacional e profissionalmente por preconceitos, normas sociais e expectativas que influenciam a qualidade da educação que recebem e os assuntos que lhes são permitido estudar. De acordo com o relatório da UNESCO, Cracking the code: Girls and women’s education in STEM, apenas 35% dos estudantes do ensino superior nas áreas do STEM são mulheres.

O envolvimento de mais mulheres na identificação de soluções tecnológicas para os desafios sociais, ambientais, políticos e econômicos é algo que se faz necessário e urgente dado o estado de reduzida empatia em que nos encontramos. Assim, ao se escolher quem executará um trabalho em qualquer área – engenharia, por exemplo – é preciso, sem dúvida, que se tenha em mente o necessário mérito dessa ou daquele candidato. Porém, é preciso que se atente para o fato de que a meritocracia – conceito que frequentemente carece de qualquer fundamentação dita científica – deve incluir, também, as oportunidades de acesso à educação para todos, independentemente de gênero ou etnia.

Aí então, só então, a seleção do melhor profissional será de fato ampliada, pois que pela educação de qualidade o potencial de cada um deles – ou delas – será atingido.

Dagoberto Alves de Almeida foi reitor da UNIFEI nos mandatos 2013/16 e 2017/20.