O portal do ONS informa
que o sistema elétrico
do Brasil apresenta
atualmente (2024)
e tem como planejado
para 2028, a seguinte
capacidade instalada
de geração de eletricidade:
Verifica-se que em 2024 as fontes intermitentes (solar, eólica e Geração Distribuída (GD)) representam 34,25% da capacidade instalada, e essa participação aumentara para 40,45% em 2028, com um aumento de capacidade instalada nesse período superior ao aumento da capacidade instalada total (107%) devido a retirada de instalações fósseis.
Essa evolução da capacidade instalada mostra o esforço que o Brasil está empreendendo para manter limpa sua matriz de geração de eletricidade, dentro do esforço mundial de combater o aquecimento global.
Porém, necessário se faz também uma análise da economicidade do programa de expansão que estamos implantando.
Por várias décadas o Brasil implantou no setor elétrico expansão de geração e transmissão de energia elétrica baseado em planos de expansão de largo prazo (usualmente 20 anos) considerando não apenas o investimento de curto prazo mas comparando alternativas de diferentes custos de investimento, custos de operação e manutenção (O&M) e ciclo de vida das diversas fontes, ou seja, o custo global de cada alternativa para o atendimento da demanda projetada.
Assim foram decididas as construções de usinas hidrelétricas, algumas com reservatório e outras sem reservatório, usinas nucleares e diversos tipos de usinas térmicas. E o Brasil obteve uma matriz de geração de eletricidade com fontes limpas, uma das mais limpas no mudo.
Atualmente, as decisões de implantação de novas usinas se baseiam em leilões com oferta do menor custo de quilowatt. Isto leva a considerar apenas os custos de curto prazo sem adequada comparação com a necessária expansão do sistema de transmissão e a confiabilidade do sistema.
Caso no passado tivéssemos usado esse mesmo modelo, não teríamos construído hidrelétricas nem nucleares pois o custo de investimento dessas modalidades de usinas normalmente são bastante superiores às de térmicas a gás e até a petróleo, porém possuem custo de O&M menor e ciclo de vida muito superior.
O modelo atual, repetimos os números da capacidade instalada, 226,6 GW em 2024 e previsto 245.52 GW em 2028. Para atender uma demanda máxima de 101,86 GW ocorrida em 2024 e 110,98 GW prevista para 2028. Portanto a capacidade instalada atual é de 2,22 vezes a demanda máxima e em 2028 espera-se ser 2,21. Faz sentido?
E por que isso ocorre?
O modelo atual incentiva o investimento em fontes intermitentes que possuem custo de investimento muitíssimo mais baixos. Adicionalmente, essas fontes, principalmente a GD, tem obtido uma série de benefícios fiscais e subsídios cujo custo é arcado por alguns consumidores.
Verifica-se na tabela acima apresentada que a GD apresenta o mais forte acréscimo de capacidade instalada no período até 2028 passando a ser a segunda em capacidade inferior apenas a hidrelétrica. Infelizmente, essa fonte, na forma como o Brasil regulamentou sua implantação traz enormes prejuízos a outros consumidores e, em um país com graves desigualdades sociais, oferece subsídios a consumidores de alto consumo (e alta renda) em detrimento dos outros consumidores. Por que não investigam como outros países implantaram essa modalidade?
Porém, devido a necessidade de termos capacidade de geração nos momentos em que as fontes intermitentes não possuem capacidade de gerar, o sistema necessita ter outras fontes.
Outro aspecto que requer outras fontes é a falta de capacidade de controle de geração dessas fontes intermitentes. Elas geram ou não geram. Não possuem capacidade de regular sua geração como possuem a hidrelétrica, térmica e até as modernas nucleares.
Um terceiro aspecto a considerar diz respeito a capacidade de rápida variação de carga, ou capacidade de “rampa de geração”, necessária ter nas outras fontes que complementam as intermitentes para atender o forte incremento (ou diminuição) de geração necessário no final da tarde (ou início da manhã) quando as fontes de energia solar variam drasticamente suas capacidades. E o apelidado atendimento a “curva do pato”. Para tal hidrelétricas são fundamentais e térmicas necessitam ficar operando permanentemente a baixa carga ou serem de ciclo aberto que possuem baixa eficiência.
Essas características operativas têm levado a um dilema. Embora estejamos investindo fortemente em fontes sem emissões temos, aumentado nossa geração de fonte térmica de base fóssil. E obrigado as hidrelétricas a um ciclo operacional prejudicial a sua durabilidade e as vezes prejudicial aos usuários dos rios.
Essas considerações não tem objetivo de demonizar qualquer tipo de fonte de energia. O mundo precisa, e o Brasil também, fazer todos os esforços para alcançarmos o nível de emissões ZERO de gases de efeito estufa.
Porém existem outras fontes de energia limpa tanto para capacidade de atender demanda (ponta) como energia. Entre outras, o Brasil dispõe de locais para fontes hidrelétricas (com e sem reservatórios), locais para usinas reversíveis, nucleares (convencionais ou SMR), biomassa, além de grande potencial de eólicas (terrestre e marítima) e solar (em usinas e GD).
O que se impõe é ter um planejamento adequado para que os investimentos também sejam adequados.
Caso contrário, continuaremos a ter Excesso de Capacidade Instalada e Baixa Confiabilidade resultando em tarifas mais elevadas.