Crise energética não é uma ‘gripezinha’

“Negacionismo do governo na crise de energia custará caro, dizem especialistas” – 27/07/2021 – Mercado – Folha.

O país está diante da maior crise energética de sua história. E o que os gestores do Sistema Elétrico Brasileiro fazem? Negam, omitem e permanecem impassíveis como se tudo não passasse de uma “gripezinha”.

Estamos vivendo um repeteco do que aconteceu na área da saúde com relação ao enfrentamento da pandemia e que já ceifou a vida de mais de 550 mil brasileiros.

O raciocínio é lógico, claro e de fácil compreensão. Se hoje estamos com dificuldade para suprir o sistema elétrico, mesmo com todas as termelétricas ativadas, imagine a partir de setembro, quando os horários de picos de demanda ou consumo de energia passarão a ser no período de 11 às 15 horas, ou seja, quando o consumo das indústrias, do comércio e do setor de serviços se intensificam.

Além disso, o consumo de energia com a retomada da economia está crescendo em média 10% ao mês, então, em setembro será necessário mais 30% de oferta de energia. Qual a saída? Importar dos países vizinhos ou incentivar a produção local de energia? A escolha para mim é fácil.

O Brasil, como outras nações, deve incentivar de todas as formas possíveis a geração distribuída de energia por fonte fotovoltaica. Deixa eu falar porque.

1. As empresas e residências que aderirem a geração distribuída deixam de consumir energia e passam a gerar sua própria energia, inclusive gerando excedente que é injetado gratuitamente na rede de energia potencializando todo o sistema;

2. Os investimentos são todos privados e já estão disponíveis, não havendo necessidade de um real do governo;

3. O país conta com milhares de empresas que instalam usinas fotovoltaicas espalhadas por todo seu território, e que contam por sua vez com cerca de 200 mil trabalhadores já contratados e prontos para serem mobilizados para a empreitada;

4. Não haverá necessidade de construção de linhas de transmissão e nem tão pouco de distribuição, visto que, as usinas fotovoltaicas são instaladas junto ao consumo ou carga;

5. Em curtíssimo prazo poderia ser agregado a rede elétrica cerca de 10 GW de potência instalada que representaria mais de 1,5 milhões de MWh todos os meses no sistema.

É de fácil compreensão os motivos, né? Sabem o que falta? Coragem de alguns, para por fim a mamata de uma dezena de empresas, muitas delas com sede fora do país, que sugam a energia de todos os brasileiros, cobrando uma das tarifas mais altas do Mundo.

Basta! Não podemos deixar que aconteça no setor elétrico, tragédia semelhante a que está acontecendo na Saúde, ainda há tempo de corrigir, não podemos deixar que a escuridão dos apagões e a omissão de alguns vençam esta batalha.

Daniel Lima é diretor da RDSol (rede de Negócios em Energia) e presidente da Associação Nordestina de Energia Solar (Anesolar).