Copa de 82: eu estava na Espanha junto com a Seleção Brasileira

Há quarenta anos, no dia 13 de junho de 1982, eu estava na Espanha acompanhando pela Empresa Brasileira de Notícias (EBN) e pelo Correio Braziliense a Copa do Mundo da Espanha.

Viajei do Rio de Janeiro para Lisboa e depois Sevilha no avião fretado pela CBF (acho que ainda era CBD) para levar toda a delegação brasileira. A parada na capital portuguesa serviu como fase final de treinamento daquele timaço do Brasil, como Zico, Falcão, Sócrates, Leandro, Junior, Toninho Cerezo, Éder etc …

Não tinha a menor dúvida de que voltaria para o Brasil com o título de campeão do mundo. A Seleção vencia e convencia todos os adversários.

Com Denis Menezes entrevistando o craque Eusébio.

Quando me perguntam o motivo da derrota, não tenho a menor dúvida em afirmar que a contusão do atacante Careca foi o nosso maior problema. Com a contusão nos treinamentos em Lisboa, Careca acabou cortado e foi substituído pelo vascaíno Roberto Dinamite.

Aí vem o problema. Telê Santana, o treinador, decidiu escalar em seu lugar no time o atacante Serginho que não sabia chutar com o pé direito.

Conversava muito com os colegas jornalistas de São Paulo e eles diziam que Serginho não tinha nenhuma habilidade com o pé direito, não treinava para melhorar o rendimento e isso seria um problema. Serginho fazia muitos gols mas quando a bola caía no pé direito para o chute em direção ao gol era uma lástima.

Dito e feito: no jogo que perdermos da Itália por 3×2 as previsões acabaram acontecendo. Quem viu ou colocar no YouTube irá notar com clareza que Zico e Sócrates deram passes açucarados para o nosso camisa 9. Mas a bola caia no seu pé direito e ele perdeu, no mínimo, três gols certos.

A Seleção teve outros problemas mas esse, na minha opinião, foi fundamental. Não posso deixar de registrar que a Seleção Italiana também era de muita qualidade.

Na Copa de 1982 a Fifa aumentou o número de participantes de 16 para 24, de modo a refletir o crescente número de inscrições e acomodar interesses financeiros e políticos.

Entrevistando o zagueiro Juninho.

A Copa já tinha se tornado um negócio bilionário, atraindo a maior audiência entre os eventos esportivos existentes. Com o aumento do número de participantes, na Copa da Espanha foram disputadas 52 partidas, em comparação com as 38 da Copa de 78. Os 24 países foram divididos em 6 grupos, cabendo ao Brasil encabeçar o grupo 6, ao lado de URSS, Escócia e Nova Zelândia. Nesta copa aconteceu a maior goleada de todas as copas – Hungria 10×1 El Salvador.

No jogo de abertura, a Argentina, campeã mundial, foi derrotada por 1 a 0 pela Bélgica. Esta partida marcou a estréia em Copas do Mundo de Diego Maradona, a grande estrela mundial de sua geração.

Na segunda fase, o Brasil teria que deixar Sevilha e iria à Barcelona formar o grupo C com a Itália e a Argentina. Os argentinos, campeões do mundo, pareciam ser os adversários mais perigosos. Os italianos faziam uma péssima campanha, tendo marcado apenas dois gols nos três empates que conseguiram na primeira fase (0 a 0 contra Polônia e um a um contra o Peru e Camarões).

Mas os italianos surpreenderam ao vencer os argentinos por 2 a 1. Contra o Brasil, a Argentina voltou a jogar mal e a seleção brasileira não perdoou, vencendo por 3 a 1, com gols de Zico, Junior e Serginho, com Ramon Diaz descontando. Os campeões mundiais estavam eliminados e o jovem Diego Maradona perdeu a cabeça atingindo deslealmente o meio-de-campo Batista. Como resultado, foi expulso de campo.

No dia 5 de julho, o Brasil voltava ao campo do pequeno estádio do Sarriá, para decidir a classificação contra a Itália. Para o Brasil, o empate era suficiente. Mas logo aos 5 minutos de jogo, o centroavante Paolo Rossi abriu o placar para a Itália. O Brasil empataria aos 12 minutos com Sócrates, finalizando um passe de Zico. Paolo Rossi voltou a marcar aos 25 minutos, aproveitando uma falha de Cerezo numa saída de bola equivocada. Depois de muito batalhar, o Brasil voltou a empatar no segundo tempo com Falcão, dando a impressão de que a classificação estava garantida. Mas o time de Telê não sabia se defender para segurar um resultado e, instintivamente, continuou atacando, dando chances à Itália. Aos 29 minutos, o artilheiro Rossi marcou o último gol da partida e pôs fim ao sonho de mais um título brasileiro.

O Brasil, eleito pela imprensa internacional especializada como o melhor time da Copa, estava eliminado da Copa de 82.

A viagem de volta para o Brasil foi terrível. A maior do tempo eu fiquei em pé no fundo do avião da Varig conversando com o lateral-esquerdo Junior, tomando um refrigerando e comendo uns salgadinhos. Lembro de uma frase do Junior: “Minha família está voando para a Espanha para ver a partida final do Brasil e eu aqui voando de de volta para o Rio de Janeiro”.

Que tristeza!!!!