Censura ou ‘O instante existe’

Quando Cecília Meireles em sua poesia “Motivo”, musicada por Fagner, imaginou que “amanhã estarei muda, mais nada”. A escritora a escreveu no Estado Novo, período ditatorial de Getúlio Vargas. Ela não falou apenas de poetas e escritores que como ela foram ameaçados e até silenciados. Mas, alguns livros cá estão e as poesias, no coração. Em algum momento, a liberdade os salvou.

Mas, ao lê-la e na época em que foi feita, fiquei a pensar sobre ficar mudo, não poder me comunicar e mais nada. O mais importante que ela disse diretamente, ou não, e que parece premonição é que o instante existe e esse perigo acontece. E não se trata do que temos hoje de mais avançado na comunicação para todos, sem discriminação. Estamos falando somente de censura e essa vale para todos nós.

Hoje, em pleno século 21, a censura nos ronda e há um projeto em curso no Brasil para nos calar. Tal qual no Estado Novo quando o poema foi feito, vivemos em nosso país um estado de exceção no qual há ações de poder arbitrário de silenciar quem critica e quem tem outra visão de país e de mundo.

Alô, Cecília, onde quer que esteja, você imaginou que existiria uma força que se perpetuaria para nos silenciar e que chegaria tão forte assim em 2024? Estamos falando de quase 85 anos após a sua frase emblemática também no poema “Canteiros”, que revelaria o poder que essas forças fugidias ou ritmadas têm.

Hoje, há que termos diariamente esse sinal de alerta ligado por aquilo que mais importa para o nosso povo, nossas famílias e as gerações que hão de vir. Esse sinal de alerta é a liberdade de expressão. Sem esse pensar crítico e responsável ficaremos sempre no limbo das nações.

E, embora vivamos em uma das mais ricas nações do planeta em todos os sentidos, sem a liberdade de expressão não somos ouvidos e estaremos sempre calados, de pires na mão como pedintes em busca de auxílio e solução.

Com isso, continuamos a reboque das nações independentes e democráticas de verdade, que evoluíram com erros e acertos, mas nunca abriram mão da liberdade. A população deve ser ouvida. É por aí que se evolui. É com liberdade que se corrige os erros. É ouvindo o povo, sem roubos, mentiras e corrupção que as nações democráticas e livres evoluem e evoluirão.

O instante existe!

Em tempo: Como bem disse o nosso grande escritor Guimarães Rosa: “É junto dos bão que a gente fica mió”.

(*) Izalci Lucas e senador da República pelo PL/DF