Silvana e eu estivemos, há pouco, em Punta Del Este, para participarmos da festa de 15 anos da Costanza, filha dos grandes amigos Ester e Pedro Bordini. A família mora lá. Como não tinha voos e eu não tenho jatinho, fomos e voltamos de ônibus. Foi uma penitência de 20 horas no dito leito razoavelmente confortável, menos a privada, que é um lixo.

Aproveitei essas intermináveis horas para refletir sobre o fenômeno social que grassa na classe alta, como também entre os riquinhos e os ricos. É fora de moda os noivos dessas categorias celebrarem o casamento em Porto Alegre. Quanto mais longe daqui mais importante é a festa. NTX, a melhor casa de eventos do país, Country Club, Juvenil, e alguns locais bucólicos na periferia, tipo altos da Capela, Sitio da Figueira e Vila Ventura, não servem mais; foram descartados. Os riquíssimos casam na Europa. Os menos ricos na Praia do Rosa, Rio (Copacabana Palace), Trancoso e, mais das vezes, em Punta. Não na península, mas em faustosos salões em José Ignácio, a quarenta quilômetros do centro. Três ou quatro uniões de gaúchos foram lá realizadas neste ano e têm “save the date” para novembro e início de 2025. Gramado saiu do radar, é muito perto.

Acho isso um descuido para com os convidados. Os noivos e os parentes em primeiro grau podem festejar onde bem entenderem. E os convidados? Para estes, que são a imensa maioria, núpcias a longa distância são um tremendo abacaxi. Despesas de viagem via aérea, (com promessa de voltarem em breve por Montevidéu), são caríssimas. Sem dizer que Montevidéu fica a uma hora e meia de Punta e o táxi custa 600 dólares ida e volta. Ônibus, nem pensar. Carro, são no mínimo 16 horas nos dois sentidos e, para apenas três dias, é um cansaço só. E os hotéis 5 estrelas? E o transporte local? Somem essas parcelas e vejam a conta. Isso sem falar da obrigatória participação na lista dos presentes.

Como pertencentes à chamada sociedade, recebemos muitos destes “save the date”. Quando chegam lá em casa os pré convites me dá até um arrepio. Para os eventos distantes prevejo os gastos e, mais do que eles, uma baita mão de obra. Se não confirmarmos fica chato, não é de bom tom.  Não tem boa saída.

Impressiona-me, ainda, o ridículo dos ternos com gravata para os homens quando as bodas são realizadas em cidades/praias próximas da areia, como Punta. É evidente que se poderia comparecer com sapatênis, calça de sarja, boa camisa e um blazer bacana. Não combina com o ambiente a tortura de um traje completo.

Diga-se de passagem, ainda, que esses enlaces são firmados com prazo de validade. O tal de votos até o fim da vida é uma coisa do passado. O mundo mudou.

Concluindo, o que me parece correto e contemporâneo é os nubentes gaúchos, da capital e arredores, casarem por aqui mesmo, aproveitando os excelentes equipamentos locais, como antes mencionei. Depois, podem passar a lua de mel nas Ilhas Maurício, na Costa Amalfitana ou onde puderem e quiserem. Poupem os convidados de uma trabalheira e de um dispêndio absolutamente desnecessários.

Ai, sim, as bodas serão só alegria.

Essa é a minha pessoal e exclusiva opinião, que exponho considerando meus cabelos brancos e minha já longa experiência de vida.

Fernando Ernesto Corrêa é jornalista e escritor.