Brasília e a Paz Internacional

Apresentação feita na cerimônia sobre o Dia Internacional da Paz, realizada no auditório Petronio Portella, no Senado Federal:                              

É com muita alegria que compareço a este evento que comemora o Dia Internacional da Paz, data em que em todo o mundo se reafirmam os ideais da paz, através da observação de 24 horas de não-violência e de cessar-fogo.   Agradeço, nesse sentido, o gentil convite de nossa “Embaixadora da Paz”, Maria Paula Fidalgo.

Farei, em meu próprio nome, brevíssimos comentários sobre as questões da paz e da guerra, mas também serei portador de uma mensagem de Moo Shong Woo – o Mestre Woo – personalidade tão querida e respeitada de nossa Brasília, e que por razão de saúde não pode hoje vir nos brindar com o entusiasmo de sua presença e sabedoria.

Mestre Woo, que concebeu a Praça da Harmonia Universal –  que desde 1974 congrega diariamente, na Asa Norte, legiões de praticantes de Tai Chi Chuan – é um verdadeiro apóstolo da paz. Nasceu e cresceu em tempos difíceis, em Taiwan, uma época em que a ilha era ocupada pelo Japão, Veio para o Brasil em 1961, fixando-se definitivamente em Brasília em 1968.

Lecionou língua japonesa na Sociedade Cultural Nipo-Brasileira e foi o primeiro professor das línguas chinesa e japonesa do Instituto Rio Branco, a academia de formação de diplomatas do Itamaraty. Foi ali, em 1978, que o conheci, tendo sido seu aluno no curso de Mandarim.

Além de ter introduzido em Brasília a medicina tradicional chinesa, Woo é instrutor de Tai Chi Chuan e outras artes marciais, monge, poeta e arquiteto.

A mensagem que mestre Woo pediu-me para transmitir às Senhoras e aos Senhores é curta e objetiva. Preocupa-o a corrosão dos valores humanos – individuais, familiares e sociais-, aqui e em todo o mundo. Em seu lugar ganham espaço os logoritmos, o egoísmo das telinhas, a agressividade e a violência, Por toda parte cresce a intolerância a polarização.

Na visão de mestre Woo a conquista da Paz começa no indivíduo e se consolida na família e na sociedade. Se o valor à vida – da nossa e as dos demais – não é geral, estaremos todos ameaçados, na nossa comunidade e no mundo como um todo.

Essas seriam, hoje, as principais ameaças à paz global. Para reverter esse quadro, propõe Woo que se fortaleça o autoconhecimento, que se multipliquem as instâncias de diálogo e do debate democrático, e que se reforcem os princípios da igualdade, da fraternidade e da proteção dos mais vulneráveis.

Obrigado mestre Woo, por sua generosidade e sabedoria!

Deixo agora minha própria mensagem. Não vou me alongar, pois aqui não é o lugar para análises complexas sobre a paz e a guerra. Diria apenas que a grande causa das guerras é a anarquia que ainda prevalece nas relações internacionais, ou seja, a impossibilidade de uma justiça internacional decorrente da natureza soberana dos Estados.

Quanto às causas das guerras, já haviam sido percebidas por Hobbes, em três dimensões: a cupidez (desejo de se tirar de um terceiro o que não se tem – isso pode significar a conquista de territórios, de riquezas naturais, de matérias-primas ou ao simples deseja da predação), o medo (de se perder o que se tem) e a vaidade (o desejo da glória, o do reconhecimento e da admiração).  Sobre esse aspecto, Frédéric Gros, no recente artigo Pourquoi la guerre ?, nos recorda: “qual imperador, de Alexandre a Bonaparte não tornou-se legendário pelas conquistas militares? O prestígio trazido pela vitória, a afirmação pura de sua superioridade sobre seus vizinhos foram, por toda a longa história dos Estados, uma motivação essencial dos dirigentes quando eles declararam a guerra”.

Não estão esses ingredientes presentes na corrente guerra entre Rússia e Ucrânia?

Felizmente, há espaço para o otimismo, e iniciativas pela paz se enraízam e frutificam. É lícito aspirar por sociedades mais justas, por um mundo sem violência e sem guerras, como antevistos na Utopia de Thomas Morus e na Paz Perpétua aspirada por Kant. Iniciativas como as que nos reúnem aqui hoje são também passos importantes para se alcançar o grande objetivo da Paz.

Muito obrigado!

Pedro Luiz Rodrigues é jornalista e embaixador aposentado.