Uma grande conquista da humanidade está se perdendo pela ganância e pela falta de solidariedade.

As Instituições Democráticas que propiciam a efetivação da liberdade, a igualdade das pessoas perante as Leis, a imprensa livre, a representação do povo eleita periodicamente, são percebidas na superficialidade de suas manifestações concretas. A liberdade é entendida, pela maioria, como a possibilidade da não aceitação e do não cumprimento de obrigações sociais, desdenhando quaisquer responsabilidades com a construção do Bem Comum, considerando tais convocações manifestações ditatoriais do Estado.

A esculhambação geral, na vida das sociedades, parece ser o ideal democrático realizado na sua plenitude, permitindo a ascensão do totalitarismo, como a única solução para o restabelecimento da necessária ordem social.

O cenário descrito é internacional. Com a atual crescente onda autoritária, que está acontecendo nas eleições de muitos países, estamos correndo o risco de ampliação das atuais guerras e conflitos. As novas lideranças eleitas são incapazes de dialogar, com competência e boa vontade, pois geralmente são constituídas por pessoas toscas, que demagogicamente agradam a maioria do eleitorado, com pouca ou nenhuma formação.

A Democracia não resolveu o problema da miséria, da proteção ambiental e da justa distribuição da riqueza gerada. As pessoas que vivem na miséria, (e são muitas), passando fome, sem emprego, sem moradia decente, sem transporte, saúde e educação, são cidadãos e cidadãs que não podem ser consideradas livres. Não se interessam em discutir as exigências do ideal democrático: elas querem apenas comer. Acreditam nas demagógicas promessas de melhoria da qualidade de suas vidas, elegendo pessoas inadequadas, aprofundando a crise global que estamos vivendo.

O poder político foi conquistado, há muitas décadas, por um grupo ganancioso, competente nas suas atividades e articulações com o poder econômico, com a finalidade de manter o poder de orientar o viver das sociedades. A utilização cada vez mais intensa das técnicas do marketing político e econômico, associados com a informática e os enormes arquivos de informações individualizadas, liquidam com a privacidade das pessoas e dificultam muito a já escassa capacidade de discernimento e escolhas dos mais pobres. Com essas informações despertam irreprimíveis desejos de consumo e o convencimento da necessidade de orientações políticas totalitárias.  Submissos a essas orientações a maioria das populações passam a pensar e agir como deseja a classe dominante.

Hoje o pensamento totalitário, utilizando-se dos instrumentos da Democracia e da ambição desmesurada das pessoas, está conquistando o poder político em vários países, impondo sua maneira de viver e de pensar, de acordo com as premissas do individualismo. Caminhamos para o fim da Democracia que, associado à crise climática, são os indicadores maiores da possibilidade do fim da Humanidade, em futuro não muito distante.

A esperança de recuperação do ideal democrático reside nas Instituições Democráticas, que continuam a resistir as intenções de serem ultrapassadas pelo “modernismo” individualista, por força das Constituições e Leis, que as definiram, no entusiasmo inicial do processo transformador das sociedades, séculos atrás. Foi um período histórico específico do Ocidente, quando o ambiente social apresentava uma forte densidade moral, fruto da pregação, por séculos, da Igrejas Cristãs Históricas.

O mais importante é respeitar a vontade do Povo, (que se manifesta pelos votos dos seus representantes, eleitos periodicamente, quase sempre pessimamente escolhidos por um eleitorado desinformado e mal preparados intelectualmente, aspecto que é conveniente relembrar pois explica a maior parte do atual declínio da Democracia). No entanto, por seus exemplos, ações e resistências, as Instituições Democráticas, como que tendo vida própria, poderão vir a permitir, na atual caótica turbulência política, o ressurgimento dos princípios Humanistas fundadores, como a fênix de uma Democracia a ser melhor praticada, com a plena vigência do Estado de Democrático de Direito. Por isso é preciso protege-las e respeitá-las.

A conscientização dos povos da necessidade do reerguimento deste ideal ético permanente, é a principal e urgente missão das Universidades, dos Intelectuais, da Mídia, das Igrejas Cristãs Históricas e das tradicionais Religiões do Oriente.

Eurico de Andrade Neves Borba, aposentado, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS. Escritor, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE é do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade.   eanbrs@uol.com.br