(Em meados do século XIX, quando o Brasil ainda não tinha completado 30 anos de independência, no Segundo Reinado, empresários e militares norte-americanos inventaram uma teoria “científica”, segundo a qual o território da Amazônia era uma continuidade geográfica do Sul dos Estados Unidos, motivo pelo qual teriam direito à ocupação e colonização de toda aquela Região. Dom Pedro Segundo e o seu Chanceler, o Visconde do Uruguai, com o apoio do Barão de Mauá e do Partido Conservador, fizeram um bordado diplomático que desmontou a tese “científica” e as pretensões expansionistas do emergente império norte-americano.)
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Aqui estou, sentado no meu trono e esperando a morte chegar, aos 97 anos da improvável idade que jamais pensei em alcançar. Sinceramente preferia ter partido bem antes, talvez nos anos 20, quando ainda existia a ilusão de que tudo ainda poderia melhorar no mundo e, com esperança, no meu Brasil, tão complexo, sofrido e gigante por natureza, como cantava o hino nacional daquela época. Brasil não existe mais. Agora somos todos os Estados Unidos das Américas, e a língua portuguesa foi proibida, por suas sutilezas traiçoeiras. Falamos o inglês e o espanhol, únicos idiomas oficiais desta confederação que engoliu nossos antigos países. Somos apenas províncias articuladas no modelo milenar do império romano. O atual presidente dos Estados Unidos das Américas é o general Donald Trump Terceiro- The Third, como é chamado- filho do magnânimo Baron Trump, filho do número 1. E o mais engraçado nessa nossa história recente é que o poderoso Pentágono das Américas não conseguiu manter a Amazônia no seu espaço geográfico. A antiga Amazônia brasileira, peruana, colombiana, boliviana e equatoriana teve que ser dividida com a Europa, Rússia, China, e, pasmem, o Vaticano. Únicos antigos estados que, engolindo os fracos, conseguiram manter status quo soberano, no tratado intercontinental assinado em Paris, em 2045. Realmente, o mundo mudou e não tenho mais interesse em permanecer neste novo mundo, onde não posso falar minha língua materna. Tudo o que foi escrito em português queimado em praça pública na Filadélfia. Lembro ainda hoje quando, há 30 anos, em 2020, falava-se numa hipotética zona do Triplo A na Amazônia, considerada pelos fisiologistas das grandes potências como o “pulmão do mundo”. Motivo de piadas e de gargalhadas nas mesas de bares e nas universidades. Pois bem: O triplo A era apenas uma senha para a operação “papagaio”, que dividiu a Amazônia entre o novo Estados Unidos das Américas e as velhíssimas e poderosas China e Europa. Confesso que a minha maior surpresa foi a bendição do Vaticano a este novo mapa mundial, depois de sua adesão à federação das denominações cristãs universais. Tratava-se apenas de uma atualização do Tratado de Tordesilhas, foi o mote divulgado em campanha na mídia mundial pela diplomacia do Vaticano, famosa por sua competência política, desde o tempo de Rodrigo, Lucrécia e César Bórgia. Quase todos os meus amigos e conhecidos já se foram do convívio terráqueo. Tiveram a sorte de não chegar a este mundo velho e decadente que chamam de novo. Ah. E a Amazônia que era verde e nossa, com a mineração desenfreada parece agora um descampado de crateras lunares.