Hoje, 23 de maio, Alfred Kissinger completa 100 anos de idade.
Secretário de Estado dos Estados Unidos, odiado e amado, goste-se ou não dele, é o homem que criou o mundo que vivemos hoje.
Nasceu em 1923, em Nuremberga, Alemanha, numa família judia.
Quando tinha 10 anos, viu o pai perder o posto de professor, pelas leis antissemitas. E quando tinha 15, tornou-se emigrante: a família fugiu para Nova Iorque.
Aos 20 anos naturaliza-se americano. E aos 21, o jovem soldado Kissinger veste o uniforme e é destacado para a Alemanha.
Participa no triunfo dos Aliados, vê as ruínas germânicas e trabalha na “desnazificação” dos pós-guerra.
A sua maior paixão é o futebol.
Trabalhou, brilhou pelo seu talento e se tornou o diplomata mais prestigiado da sua geração.
Kissinger serviu a América e quatro dos seus Presidentes.
Como estrategista da política externa americana durante os turbulentos anos 60 e 70 do século passado, Kissinger exerceu enorme poder.
Seu nome foi associado a quase todos os grandes eventos da época, desde a Guerra do Vietnã até o confronto dos EUA com a União Soviética.
Apesar de ser um protagonista da Guerra Fria, em 1973 foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz com o vietnamita Le Duc Tho, pelo trabalho de ambos na negociação do acordo de paz para o país asiático.
Às vezes identificado com a direita anticomunista, foi, no entanto, o ideólogo da aproximação entre os EUA e a China, até então isolada sob o regime de Mao Tsé-Tung.
Culto, conhecedor da política, da sabedoria em história, geografia, estratégia, relações internacionais, segurança, economia e energia —, Kissinger tem mais acertos do que erros em sua biografia.
Foi o diplomata americano que percebeu melhor a Europa e certamente que mais antecipou a China e a sua transformação.
É quase inimaginável o risco político que ele correu ao levar Nixon a Pequim e abrir as relações diplomáticas entre as duas potencias.
É certo que queria irritar os soviéticos (e conseguiu) com esse movimento. Fez história.
Kissinger foi professor na política e estrategista na diplomacia. Todo o seu legado fica marcado pela compreensão (ou incompreensão) do que é a diplomacia.
“Um país que faça da perfeição moral a pedra angular da sua diplomacia não atingirá a perfeição nem a segurança” escrevia ele nas suas lições de Harvard.
Era, portanto, um “realista”, talvez o mais expressivo exemplo da “realpolitik” do pós-guerra.
Em 1997, Henry Kissinger esteve em Pernambuco dando uma palestra na Bienal de Administração.
Miguel Arraes estava presente à palestra e tomou café da manhã, no Palácio das Princesas, com Kissinger.
Deu de presente a Arraes uma edição, em francês, do seu livro Diplomacia.
Kissinger revelou, para a surpresa de muitos, que “estive aqui há 35 anos e vocês ainda têm o mesmo governador”.
Era a segunda vez que ele esteve em Pernambuco.
A outra foi em 1962.
Kissinger voltou ao Brasil em 1981.
Participou de evento na Universidade de Brasília e catalisou a revolta dos estudantes.
Ocorreram manifestações com direito a chuva de ovos e tomates.
O ex-secretário precisou deixar o campus escoltado pela polícia e 26 universitários foram indiciados.
Atualmente, o aniversariante vive em Nova York, com escritório ativo de consultoria.
Continua a ser visto como negociador exímio, aconselhando vários Presidentes dos Estados Unidos e dirigentes internacionais.
Defende a importância da China, nomeadamente na guerra da Ucrânia, e aconselha todos os candidatos a estadistas a desenvolverem as “aptidões do artista que pressente como esculpir o futuro utilizando os materiais disponíveis no presente”.