Testemunhas relatam à Justiça danos e drama sofridos com a tragédia da Vale

Juiz ouviu relatos para ação que apura responsabilidades sobre rompimento da barragem

Após dois dias de audiências, um total de 13 testemunhas de acusação indicadas pela Defensoria Pública do estado e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foram ouvidas pelo juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte (MG), Elton Pupo Nogueira. Entre segunda (5) e terça-feira (6), elas relataram detalhes no processo judicial que apura responsabilidades e consequências do rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em janeiro deste ano. A tragédia causou a morte de 248 pessoas. Outras 22 ainda estão desaparecidas.

Na audiência ocorrida na segunda-feira (5), os moradores de diversas comunidades ao longo do Rio Paraopeba relembraram o desastre. Ontem, dia 6, foi a vez de depoimentos sobre os danos ao meio ambiente. Outras testemunhas ainda serão ouvidas em audiências nos dias 20 de agosto e 26 de setembro.

Na audiência de terça (6) também foi homologada a contratação da entidade que prestará assessoria técnica aos atingidos na região 4. O Instituto Guaicuy foi escolhido em assembleia ocorrida no dia 14 de julho, no município de Curvelo. O juízo também autorizou a transferência de R$100 mil para o início dos trabalhos, assim como foi feito em audiências anteriores para as outras assistências técnicas homologadas.

Também na audiência de segunda-feira, foi apresentado ao juízo o Termo de Cooperação Técnica, feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que tratará das consequências e atuações necessárias decorrentes do desastre da Vale. O juiz de Direito Elton Pupo Nogueira informou que as questões jurídicas serão decididas com o conhecimento de fatos descobertos e relatados nos subprojetos de pesquisa a serem realizados sob coordenação do Comitê Técnico-Científico para auxílio do Juízo, incluindo as questões levantadas no processo e também considerando o que já foi realizado.

Os Ministérios Públicos e as Defensorias, federais e estaduais, e o Estado de Minas Gerais concordaram com o Termo, que deverá ser assinado na próxima audiência, marcada para o próximo dia 20.

Essa fase dos depoimentos de testemunhas, conhecida como instrução e julgamento, começou após a Justiça realizar 11 audiências de conciliação ao longo deste ano e condenar a mineradora Vale S.A., em decisão parcial do mérito, em julho, mantendo o bloqueio de R$ 11 bilhões.

Outras dez testemunhas já haviam relatado detalhes da tragédia em audiência na Justiça no início do mês de julho. E a mineradora não negou responsabilidade sobre o desastre.

Tragédia da Vale matou mais de 200 em Brumadinho. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Qualidade da água

Uma das testemunhas ouvidas relatou que a análise do solo e da água decorrente do rompimento da barragem está sendo feita por laboratórios contratados pela própria Vale e, em alguns ou na maioria dos casos, a auditoria é realizada por uma empresa que se restringe à coleta do material a ser analisado, não havendo nenhuma auditoria do transporte e análise do material que serve para apuração da contaminação da água ou solo. A testemunha também afirmou que audita apenas o protocolo utilizado pelos laboratórios.

O juiz concedeu o prazo até a audiência do dia 20 de agosto para que as partes apresentem o método de análise da água e solo a ser autorizado pelo juízo sem intervenção das partes

Leia aqui as atas das audiências.
Para ler a íntegra do comunicado sobre a escolha da assessoria técnica, clique aqui.

Acompanhe a movimentação do processo 5010709-36.2019.8.13.0024. Com informações da Ascom do MPF em Minas Gerais e do TJMG)