Acusado de matar cartunista é condenado por outro crime

Assassino de Glauco matou para roubar, em agosto de 2014

Julgando procedente denúncia oferecida pelo Ministério Público de Goiás, a juíza Bianca Melo Cintra, da 5ª Vara Criminal de Goiânia, condenou Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, a 61 anos e 6 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, por duplo latrocínio, receptação e e porte ilegal de arma de fogo. Os latrocínios (roubos seguidos de mortes) foram cometidos contra o estudante Matheus Pinheiro de Morais e o agente penitenciário Marcos Vinícius Lemes D'Abadia em agosto de 2014.

A sentença foi divulgada ontem (26/8), no final da tarde, um dia após a audiência de instrução e julgamento do processo (leia no Saiba Mais), no qual o acusado e testemunhas foram ouvidos pela juíza. Em entrevista hoje (27/8) à imprensa, o promotor de Justiça Fernando Braga Viggiano, responsável pela denúncia, avaliou a pena aplicada ao réu como “justa”, salientando que ela correspondeu às expectativas do MP. Ainda assim, informou que vai analisar a íntegra da sentença para verificar se há necessidade de algum recurso por parte do Ministério Público. Em caso de recurso por parte da defesa, explicou, a promotoria vai rebater os argumentos com o objetivo de manter a condenação.

Na sentença, a magistrada negou ao acusado o direito em recorrer em liberdade, argumentando a decisão na periculosidade demonstrada por Cadu. Ela também indeferiu o pedido da defesa para que o réu seja submetido à avaliação psiquiátrica e tratamento particular, uma vez que sua imputabilidade (capacidade de responder pelo crime) foi claramente atestada nos autos, conforme laudo da Junta Médica do Tribunal de Justiça de Goiás (confira no Saiba Mais).

No embasamento da sentença, a juíza descartou a tese defesa de que Cadu estaria em local diverso ao dos crimes, apoiada no rastreamento do IMEI do celular. Segundo a juíza, o próprio Cadu admitiu em seu interrogatório que tinha diversas linhas de telefone celular.

Ao fazer a dosimetria da pena, a magistrada ressaltou que a culpabilidade de Cadu é excedente em relação aos latrocínios, uma vez que ele foi o responsável direto pelas mortes das vítimas. Além disso, ela observou que o réu demonstrou maior grau de periculosidade e frieza, o que indica a reprovabilidade de sua atitude. Quanto aos antecedentes criminais, ela observou que ele é primário, mas que sua conduta é social é desfavorável. “As informações que se inferem dos autos denotam ser aversivo o seu papel inserto na sociedade, sendo eficaz ludibriador, além de dissimulador e manipulador de ideias, fazendo-se passar por vítima”, afirmou.

Bianca Melo mencionou ainda o sarcasmo e o egocentrismo de Cadu em seu interrogatório, além de sentimentos de raiva e descaso com o Poder Judiciário. “Embora a medida de segurança ao réu aplicada não possa ser levada em conta a torná-lo reincidente ou possuidor de maus antecedentes criminais, o fato de já ter ceifado a vida de dois seres humanos, não obstante inimputável à época (Cadu é assassino confesso do cartunista Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni Vilas Boas), indica sua repulsa ao bem maior alheio”, sublinhou.

Cadu pegou 54 anos de prisão pelos dois latrocínios (27 cada), mais 2 anos e 6 meses pelo crime de receptação – ele foi preso dirigindo o carro que roubou de Mateus – e mais 5 anos por porte de arma, além de 630 dias-multa. “Unificando as penas impostas ao acusado, pela acumulação do concurso material, tenho que a pena totaliza 61 anos e 6 meses”, detalhou a sentença.

Os crimes 
Conforme detalhado na denúncia oferecida pelo MP, no dia 28 de agosto de 2014, por volta das 15h50, na Rua T-28, esquina com a Rua T-48, no Setor Bueno, Carlos Eduardo tentou roubar uma Saveiro branca de propriedade do agente penitenciário Marcos Vinícius Lemes D'Abadia. A vítima flagrou o acusado forçando a porta do motorista e aproximou-se, momento em que Cadu apontou uma arma de fogo em sua direção, exigindo que se afastasse.

Consta ainda dos autos que Marcos Vinícius não acolheu a ordem do denunciado e os dois iniciaram uma luta corporal, oportunidade em que Cadu disparou contra a vítima. Logo após os disparos, o acusado fugiu, com a ajuda de um comparsa que o aguardava no interior de um veículo Honda City, de cor branca. Socorrido pelo Corpo de Bombeiros, o agente penitenciário foi levado para o Hospital de Urgências de Goiás (Hugo) e morreu após 53 dias internado.

Consta ainda da denúncia um segundo latrocínio atribuído a Carlos Eduardo. O crime ocorreu no dia 31 de agosto, por volta das 21h30, na Praça do Colégio Ipê, também no Setor Bueno. A vítima, Matheus Pinheiro de Morais, foi abordada quando estacionou o veículo Honda Civic branco em frente ao prédio em que morava sua namorada. Segundo sustentado pelo MP-GO, Cadu passou pelo local num Honda City, na companhia de uma pessoa ainda não identificada, e decidiu roubar o carro onde estava o casal.

De acordo com a denúncia, quando se aproximou do veículo, o acusado sacou a arma de fogo que portava e bateu no vidro por duas vezes, ordenando que a vítima e sua namorada descessem do carro e deixassem todos os pertences em seu interior. Enquanto Matheus e a jovem abriam as portas sem esboçar reação ao assalto, Carlos Eduardo disparou a arma, atingindo o rapaz. Mesmo ferida, a vítima correu na direção do prédio em busca de socorro, caindo na portaria logo após entrar no edifício. Poucos minutos depois, Matheus morreu.

Na sequência, o acusado e o comparsa entraram no veículo do rapaz e fugiram, jogando fora o celular da vítima para evitar a localização do aparelho. Na fuga, levaram ainda o Honda City que haviam deixado estacionado nas proximidades.

A peça de acusação também detalha a perseguição policial que acabou resultando na prisão de Cadu no dia 1º de setembro. O acusado foi visto dirigindo o Honda Civic levado de Matheus pelo delegado Thiago Damasceno Ribeiro na Avenida D, no Setor Oeste. No trajeto, o veículo era acompanhado pelo Honda City branco com características semelhantes ao carro usado pelos assaltantes no dia anterior.

Na perseguição ao veículo, o policial contou com o apoio de um guarda municipal. Carlos Eduardo acabou detido próximo ao Cepal do Jardim América. Na oportunidade, ele tentou se livrar da arma que portava, um revólver calibre 38 especial, com numeração raspada e com munição, jogando-os por cima do muro de uma oficina. Conforme os autos, a arma foi encontrada por policiais militares e o exame pericial comprovou que a bala que matou Matheus Pinheiro foi disparada deste revólver. (MPGO)