Toyota Hilux SRX finalmente prova porque é rainha das picapes médias
Testamos a versão topo de linha da caminhonete japonesa, que está mais potente e tecnológica do que nunca
Em 2016, a Toyota quebrou uma longa hegemonia entre as picapes médias ao destronar a Chevrolet S10 como modelo mais vendido da categoria. Desde então, a japonesa não foi ameaçada pela rival, já soma seis “canecos” e segue firme para o sétimo ano seguido na liderança.
O grande porém é que, até então, a picape não se justificava por ser, disparada, a mais vendida do país. A Hilux era, de longe, a mais defasada tecnologicamente, tinha o motor diesel mais fraco e era a mais cara, sem falar em outros atributos negativos. Mas as coisas começaram a mudar com a renovação da linha no fim de 2020.
Se antes a representante da Toyota entre as picapes médias fazia feio perante as concorrentes, agora, ela justifica – e muito – o porquê de ser a rainha da categoria, principalmente na versão topo de linha, a SRX (sem contar a opção esportiva GR-S), nosso “Teste da Vez” e seus, como sempre salgados, R$ 325.490.
Agora, ela conta com um poderoso motor 2.8 de 204 cavalos (o terceiro mais forte da categoria, atrás apenas do V6 da Volkswagen Amarok e do recalibrado 2.8 de 224 cavalos da GR-S), uma lista de equipamentos para lá de recheada, mas ainda pedindo muito. Assim como o propulsor, é a terceira mais cara, custando menos apenas que a Amarok e a GR-S.
Alto e baixo
Na parte visual, a atual linha da Hilux mistura tendências ao mesclar acabamento cromado e em preto. Um bom exemplo desta sinergia é a grade frontal, que conta com uma borda larga em cromo mas com interior em black piano. O estilo prateado é visto também na capa dos espelhos retrovisores, nas maçanetas e no para-choque traseiro.
A peça, que tem degrau para facilitar o acesso à caçamba, tem o acabamento superior em preto, assim como os estribos laterais. As rodas também misturam os dois estilos, tendo detalhes escurecidos e diamantados. Uma curiosidade é que a Hilux não conta com rack de teto ou santo antônio, mas vem com capota marítima e protetor de caçamba.
Se por fora temos uma certa ousadia, o mesmo não é visto por dentro. O design da cabine é muito ortodoxo e, em alguns pontos, ultrapassado, tendo como exemplo máximo o reloginho de “camelô” no alto do painel. A tela da central multimídia, apesar do selo JBL, ainda exagera nos botões, poderia ter um visual mais limpo.
O painel de instrumentos também está ultrapassado, com uma microtela que faz a função do velocímetro digital e do computador de bordo. Mas apesar do estilo morno, os materiais empregados, para uma picape, são bons, com acabamento bem-feito e sem qualquer tipo de rebarba ou peça mal encaixada, destaque para a saída de ar para a traseira.
Quique e repique
O espaço interno da Hilux é um dos principais poréns da caminhonete japonesa. Como de costume da categoria, o ideal são quatro adultos, um quinto sempre gera apertos desnecessários. Mas o maior incômodo é a posição muito inclinada do banco, fazendo quem vai atrás fique com os joelhos muito elevados, posição desconfortável para viagens longas.
Mas o maior desconforto do interior da Hilux é o excesso de quique. Neste quesito, a japonesa está muito atrás das concorrentes, que evoluíram muito e apresentam um conforto à bordo muito maior que a rainha da categoria. Mesmo em asfalto liso, ela balança excessivamente, até o motorista sofre com os repiques. No banco traseiro, chega a ser insuportável o tanto que ela quica.
Super melhora
Outro porém que a Hilux enfrentava e que foi resolvido na atual linha é a lista de equipamentos. Se antes ela era parca, agora é uma das melhores do segmento, tanto entre os itens de conforto, quanto os de segurança, estes, inclusive, com maior ganho.
Dessa forma, a SRX vem com sistema de áudio com seis alto-falantes da JBL, central multimídia com tela de oito polegadas, conexão Android Auto e Apple CarPlay com fio, TV Digital e GPS integrado, bancos dianteiros com ventilação e ajustes elétricos para o do motorista, ar-condicionado digital, dual zone e com saída para a traseira e chave sensorial.
Na parte da segurança, ela conta com auxiliares de partida e descida em rampa e de reboque, controles de tração e estabilidade, sete airbags, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, crepuscular e de chuva, câmera 360º, retrovisor interno eletrocrômico, faróis e luz de circulação diurna full LED e com o Toyota Safety Sense (TSS).
O sistema de segurança ativa engloba assistente de pré-colisão com detector de pedestre e ciclista, alertas sonoro e visual e frenagem automática, alerta de mudança de faixa com condução assistida (ajuda a picape a ficar na via), piloto automático adaptativo (mas sem stop&go, que faz o veículo parar totalmente sozinho) e indicador de posição das rodas dianteiras, um bom auxílio na hora de manobrar em garagens ou no off-road.
Mais forte
Antes da reformulação, a Hilux tinha o motor mais fraco entre as picapes médias, com apenas 177 cavalos, enquanto as concorrentes já estavam na casa dos 200. Com a recalibração do propulsor, a história mudou. Agora, a japonesa só não é mais forte que a Volks Amarok e seu V6 e a sua própria versão esportiva, a GR-S, que tem 224 cavalos.
Agora, a caixa de força da Hilux gera ótimos 204 cavalos e generosos 50,9kgfm de torque, e está aliada à transmissão automática de seis velocidades, tração 4×4 com opção de reduzida e bloqueio do diferencial traseiro e direção hidráulica (que deveria ser elétrica).
Com a recalibração, a picape está bem mais esperta, permitindo acelerações, retomadas e saídas em velocidades mais precisas e seguras. Ao pisar no acelerador, ela dispara com facilidade pelo asfalto. O câmbio também trabalha bem, com trocas suaves, sem trancos.
Os novos auxiliares de condução deixam a direção ainda mais segura. O auxiliar de permanência em faixa evita que a picape saia involuntariamente da via, tanto alertando o motorista, quanto agindo – levemente – no volante. Só que, ao contrário de outros sistemas, ele não ajuda a fazer curvas, mas já é um ótimo assistente.
Já o piloto automático adaptativo é um caso à parte, apesar de mostrar a evolução tecnológica da picape, faltou o stop&go, que faz a frenagem total do veículo, coisa que o da Hilux não faz, abaixo de 20km/h ele desarma, ou seja, não ajuda na hora que seria mais útil, em engarrafamentos.
Mas faltaram dois pontos para a Toyota melhorar na Hilux, a direção e a suspensão. Por ser hidráulica, ela é pesada principalmente na hora de manobrar os 5.325mm de comprimento em garagens, sem falar que o volante não fica muito firme em alta velocidade. Já a suspensão, como falamos, quica tanto, que nem dá para ver se ela repassa as imperfeições do solo para a cabine.
Valentia off-road
Se tem um ponto no qual a Hilux sempre foi boa – e continua assim – é na hora de encarar um off-road. No fora de estrada, a picape mostra que, mesmo com o estilo todo urbano, ela dá conta do recado, seja qual for o obstáculo. O sistema 4×4 atua de forma primorosa.
Sempre testamos os veículos com apelo off-road no mesmo local, uma região em Brasília, próxima do Lago Paranoá repleta de obstáculos naturais, como valas, subidas, descidas, areia, muito cascalho solto e, às vezes, tudo isso misturado.
A Hilux foi uma das que melhor se comportou, até hoje. Mesmo em partes mais desafiadoras, não foi preciso ativar a reduzida em momento algum. Apenas o modo 4×4 normal era suficiente para encarar uma subida repleta de valas e cascalho solto.
Por fim, o consumo da rainha entre as médias foi como a categoria, médio. Após rodar pelos mais variados tipos de pistas, na cidade, em rodovias e bastante no fora de estrada também, a Hilux fez, ao fim do teste, bons 9,7km/l.
A opinião do Diário Motor
Quando assumiu o lugar mais alto entre as picapes médias, a Hilux simplesmente não tinha aspectos positivos o suficiente para justificar tal posição. Hoje em dia, após a última grande modificação, ela deixa de ser uma das piores da categoria para ser uma das melhores. Seria a melhor, se a Toyota tivesse resolvido a questão do excesso de quique e o visual interno.
Com bom nível de equipamentos, inclusive de segurança, motorização renovada e sistema 4×4 primoroso, a SRX tem como grande empecilho o preço, afinal, são R$ 325 mil, mas essa loucura de preços não é exclusiva da Toyota, com a maioria das topo de linha nesta faixa. Dessa forma, para quem procura uma picape média, a Hilux é, finalmente, uma boa opção. Vale a compra! Nota: 8.
Ficha Técnica
Motor: 2.8 turbodiesel
Potência máxima: 204cv
Torque máximo: 50,9kgfm
Direção: hidráulica
Suspensão: independente na dianteira e eixo transversal na traseira
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Capacidade de carga: 1.023kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.815 x 1.855 x 5.325 x 3.085mm
Preço: R$ 325.490
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