Toyota Corolla Cross XRX Hybrid, o ‘pão integral’ do mercado brasileiro
Testamos a versão topo de linha do SUV, que cumpre o que promete de forma honesta, mas sem entregar qualquer tipo de emoção a bordo
Em alguns círculos, a expressão “pão integral” se populariza para apontar algo sem graça, meio sem gosto ou sem emoção nenhuma. A ideia da frase remete ao alimento mesmo, que na troca do tipo de farinha, perde sua “identidade” e sabores característicos que dão prazer ao comer, mas mantém a função básica, que no caso, é servir para alimentar.
No universo automotivo, você pode se perguntar o que seria um carro “pão integral”. É aquele que até entrega o que promete, que pode ter muita tecnologia e um bom, ou moderno, conjunto mecânico. Mas que na direção, na hora de “sair por aí”, a emoção é nula. Seria um veículo que cumpre o princípio básico de te levar de um lugar para o outro, e só.
Dentro do contexto automotivo, a expressão se alinha bem com uma frase, essa bem mais famosa e que tem autor desconhecido, muito utilizada pelos amantes das quatro rodas: “a vida é muito curta para dirigir carros chatos!”. E é isso, um veículo “pão integral” é, antes de mais nada, chato. Não é nem o melhor, nem o pior do mercado, mas um de zero emoção.
Hoje em dia, no mercado brasileiro, um modelo que se encaixa perfeitamente nesta descrição é o Toyota Corolla Cross, o nosso “Teste da Vez”. Na sua versão topo de linha, a XRX Hybrid, o SUV médio é bastante completo, econômico e ecologicamente correto, tem bom espaço interno, mas uma vida a bordo longe de ser divertida.
O preço do pão
Hoje, no Brasil, uma das categorias mais diversificadas é a de SUVs médios, tem modelo de tudo que é jeito, híbrido clássico e plug-in, puramente a combustão, com tração 4×4, 4×2 e integral, para todos os gostos. Mas algo comum, a faixa dos R$ 200 mil. O Corolla Cross XRX Hybrid sai por R$ 210.990, nem o mais caro, nem o mais barato do segmento.
O principal rival do japonês é o Jeep Compass, que tem opção híbrida plug-in, a 4xe (insanos R$ 347.300) e a combustão, a BlackHawk (salgados R$ 285.590). O CaoaChery Tiggo 7 Hybrid (R$ 174.990) e o BYD Song Pro (R$ 199.800) custam menos. Volkswagen Taos (R$ 216.590) e GWM Haval H6 HEV2 (R$ 216.000) estão na mesma faixa. Já BYD Song Plus (R$ 238.800) e Kia Sportage (R$ 274.990), fogem um pouco do preço do Corolla.
Pão refeito
Neste ano, a Toyota apresentou o primeiro facelift mais profundo para o Corolla Cross. Visualmente falando, o SUV passou por uma leve mudança, principalmente na dianteira, onde a grade frontal e os faróis foram redesenhados, com um estilo mais moderno e alinhado com modelos eletrificados, apesar do utilitário ser um híbrido clássico.
A grade deixa de ser gigante e do tipo colmeia, para ficar mais integrada ao para-choque, que passou por leves mudanças, principalmente nas pontas e no skid plat, que passa a ser da cor da carroceria. Os faróis estão mais afilados e ganham um filete interligando-os. O capô também foi redesenhado e o logo da marca mudou levemente de posição.
Nas laterais e na traseira, para não dizer que nada foi alterado, as rodas contam com novo desenho, assim como a parte interna das lanternas. Além disso, o “sobrenome” da versão na tampa do porta-malas, logo abaixo do “XRX”, foi alterado. Sai o “Hybrid” e entra o “HEV”, que é a simbologia para modelos híbridos tradicionais.
O interior é praticamente o mesmo visto nas versões anteriores, com duas mudanças, uma sutil, na central multimídia, e outra muito importante, finalmente a marca eliminou o ultrapassado freio de estacionamento de pé, agora é eletrônico e acionado por um botão no console central. O acabamento é bem-feito, mas tem um porém, as cores.
Estamos falando de um modelo de estilo bem familiar, e um interior claro (a versão que testamos era em um tom de creme), é um pedido para mamães e papais se desesperarem com a limpeza que será necessária. Por outro lado, quem for atrás, tem duas portas USB e saída de ar à disposição. Falando do banco traseiro, o espaço não é muito generoso.
Uma pessoa alta roçará bastante o joelho no banco dianteiro. A viagem, para ser minimamente confortável, tem que ser com no máximo quatro passageiros, um quinto causará apertos e muito desconforto. O porta-malas não é dos melhores, tem apenas 440 litros, menor do que os três principais rivais, Compass (476), Taos (498) e Tiggo 7 (475).
Pão recheado
Por ser a versão topo de linha do Corolla Cross, a XRX Hybrid é bem completa, com a principal correção de rota do já citado freio de estacionamento, que finalmente passa a ser eletrônico, como um veículo que supera os R$ 200 mil deve contar. No mais, um ou outro ajuste deixaria a lista de equipamentos perfeitas.
O SUV vem com com ar-condicionado digital dual zone com saída para a traseira, bancos em couro e do motorista com regulagem elétrica, painel de instrumentos digital com tela de 12,3 polegadas, partida por botão, volante com regulagem de altura e profundidade, teto solar (que poderia ser panorâmico e com a cortina elétrica).
Central multimídia com tela de nove polegadas (que poderia ser maior, não fosse o tanto de borda) e espelhamento via Android Auto e Apple CarPlay e carregamento sem fio, chave sensorial, iluminação ambiente, retrovisores externos com rebatimento elétrico e interno eletrocrômico e porta-malas com abertura e fechamento elétrico e por sensor.
Na parte da segurança, farois e luz de circulação diurna full LED, sete airbags, câmera de ré, controles de tração e estabilidade, auxiliar de partida em rampa, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, crepuscular e de chuva, alerta de tráfego traseiro.
Luz de frenagem emergencial automática, o freio de estacionamento eletrônico com função auto hold e o Toyota Safety Sense (TSS), o pacote de segurança ativa da marca.
Com ele, o Corolla Cross conta com sistema de pré-colisão frontal com detecção de pedestres e ciclistas, assistente de permanência em faixa com alerta de saída, condução assistida, faróis altos automáticos (que funcionam de forma primorosa), piloto automático adaptativo e monitoramento de ponto cego.
Pão econômico
O grande astro do Corolla Cross é o conjunto mecânico, mas por ser híbrido e pela economia de combustível. O SUV japonês produzido em São Paulo não conta apenas com um sistema híbrido pleno, que já otimiza o consumo, mas também com um motor a combustão flex, ou seja, que pode ser abastecido com gasolina ou etanol.
São três propulsores, sendo um 1.8 a combustão de 101 cavalos e 14,5kgfm de torque, e outros dois elétricos que, juntos, geram 72 cavalos e 16,6kgfm de torque. Por ser um sistema híbrido pleno, os motores não atuam de forma separada, potência e torque não são somados, mas sim combinados, e a Toyota não divulga esses dados.
Por ser um sistema híbrido pleno, ou tradicional, o chamado HEV, o SUV não carrega por fonte externa. A bateria híbrida de níquel-hidreto metálico, localizada embaixo do banco traseiro, é carregada pelo motor a combustão e pelos freios regenerativos, que utilizam a energia cinética gerada pelas frenagens e a transformam em elétrica.
Dessa forma, os motores elétricos contribuem para uma melhor eficiência energética do utilitário e um menor gasto de combustível e de emissões de poluentes, a melhor parte do conjunto mecânico. Durante nosso teste e abastecido com etanol, ele fez impressionantes 12,2km/l, média excepcional, que muito modelo a gasolina não consegue fazer.
Pão integral
Ele conta com quatro modos de condução (Normal, Eco, Power e EV). Este último usa mais o motor elétrico, mas atua pouco, pois qualquer força necessária a mais faz o propulsor a combustão entrar em cena. A vantagem é que o elétrico quase sempre ajuda a caixa de força, até por isso o consumo é tão bom, mas isso tem seu preço, a direção burocrática.
A potência não é tão alta, estima-se que o combinado fique na casa dos 138 cavalos, e ainda aliado ao câmbio automático CVT, o Corolla Cross não é nada emocionante na direção, pelo contrário, a vida ao volante é maçante, tão alegre quanto ter que comer pão integral.
Ele não chega a ser inseguro, longe disso, requer apenas um pouco de atenção na hora de realizar manobras como ultrapassagens, retomadas e saídas em velocidade. Apenas um cuidado a mais por parte do motorista. Por conta da transmissão, como qualquer do tipo, a aceleração é contínua, nada de arrancadas espertas, contribuindo para a zero emoção ao volante.
Outro ponto alto do conjunto mecânico, e seguindo padrão Corolla, é a suspensão. O SUV é confortável e tem um rolar macio, com um sistema que absorve bem as muitas imperfeições do solo, deixando a vida a bordo mais tranquila. Já que não há emoções, pelo menos a viagem ocorre sem qualquer desconforto.
A opinião do Diário Motor
O Corolla Cross está longe de ser um carro ruim, pelo contrário. Como falamos, tem uma lista de equipamentos a altura da categoria e do preço pedido – olhando pelos rivais. Um visual interessante, mas que passa muito pelo gosto pessoal de cada um, e conjunto mecânico com foco na economia de combustível. Ele é um carro que cumpre com vigor o papel de um veículo: te levar de um lado para o outro de forma segura e confortável.
Mas com um total de zero emoção ao volante. Falta um quê a mais ao SUV, um completo pão integral, que faz o trabalho de forma bem feita, mas de um jeito enfadonho, sem graça, simplesmente chato. O que gera uma certa controvérsia na nossa avaliação, a nota é alta, mas a compra realmente só vale após um test-drive! Pessoalmente, este que vos escreve, depositaria R$ 200 mil em um veículo que até pode ser pior, mas mais divertido. Nota: 8.
Ficha técnica
Motor: 1.8 mais dois elétricos
Potência máxima: 101/72cv
Torque máximo: 14,5/16,6kgfm
Transmissão: automática
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e semi-independente na traseira
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 440 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.620 x 1.825 x 4.460 x 2.640mm
Preço: R$ 210.990
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