Ram Rampage R/T é boa de pista e fora dela, mas é cara
Testamos a versão topo de linha da picape intermediária, que alinha ótimo conjunto mecânico a bons itens de série a um preço salgadíssimo
No universo automotivo, quando falamos em R/T, logo se pensa no poderoso Dodge Charger dos anos 1970. A sigla significa “Road and Track” (estrada e pista, em tradução livre) e fez muito sucesso por conta da pegada ainda mais esportiva de um dos mais exitosos muscle car da indústria automotiva nacional.
O modelo caiu rapidamente nas graças do público brasileiro, principalmente por conta do maior apelo esportivo, tanto no visual, quanto no já poderoso – para a época – conjunto mecânico. Com o sucesso, a versão foi introduzida em outros veículos da marca, sendo o segundo o irmão menor do Charger, o também muscle car, Challenger.
Claro que a categoria queridinha do mundo, a dos utilitários esportivos, não poderia passar batido nessa também. O SUV médio Journey foi, até então, o último R/T vendido no Brasil, até 2020. Mas tinha duas diferenças para os irmãos: não era produzido por aqui, vinha importado do México, e o motor não era V8, mas sim um V6.
Produzido no Brasil, a última R/T foi uma caminhonete, a Dakota, até então, a mais potente já feita aqui, com o poderoso V8 5.2 de 232 cavalos. Ela foi superada justamente pela atual irmã caçula, a Ram Rampage. Lançada no fim do ano passado, a picape retorna com a versão R/T, nosso “Teste da Vez”, e uma curiosa relação de alta potência com motor “pequeno”.
Precificação
A Rampage é a primeira picape, desde que a Ram virou uma divisão própria separada da Dodge, a ser produzida no Brasil. Além disso, é a menor caminhonete da marca vendida por aqui, sendo mais uma representante das intermediárias, a mais eclética das categorias de picapes do mercado brasileiro. A R/T, a topo de linha, sai por salgadíssimos R$ 292.990, de longe, a mais cara da categoria, mesmo com uma pegada diferente.
Ela erra muito a mão no preço, sem falar que, há cerca de um ano, no lançamento, custava R$ 269.990. Para se ter uma ideia, a Ford Maverick, que sempre foi cara, e a mais perto em relação a Rampage R/T, sai por R$ 229.500 na opção FX4. Em relação às demais, a diferença é ainda maior, Fiat Toro Ranch (R$ 216.990), Chevrolet Montana RS (R$ 162.950) e Renault Oroch Outsider (R$ 155.750), custam bem menos.
Mantendo a tradição
A sigla R/T volta ao país justamente na mesma categoria no qual teve a última representante produzida por aqui, as picapes. Para a Rampage, além de assumir o papel de topo de linha, ela mantém a tradição da marca com um estilo bem mais esportivo em relação às demais configurações.
O visual foca o lado agressivo do bode, com uso de muito “black piano” na carroceria. O tom escuro brilhante é visto na gigante grade frontal, nas capas dos retrovisores, nas rodas, no teto e nos para-choques dianteiros e traseiros. Os farois afilados só não chamam mais atenção do que as lanternas, que tem o desenho em LED da bandeira dos Estados Unidos.
Ela ainda conta com faixas pretas no capô com uma linha e a sigla R/T em vermelho. A cor é aplicada também no nome da versão na grade e nas rodas e no termo “turbo” nas laterais. O “Road and Track” está presente na lateral da caçamba, mas em preto e com o fundo “vazio”, que fica no mesmo tom da pintura da carroceria. Na traseira, escape duplo.
Por dentro, o tom escuro com detalhes em vermelho está bem presente. Colunas e teto são em preto, assim como os bancos, forros das portas, painel, volante e apoio de braço central, todos contam com costura em tom rubro, a cor é vista também na sigla R/T bordada nos assentos dianteiros, que tem ajuste elétrico para o motorista e para o passageiro.
Uma das coisas que mais chamam a atenção da cabine da Rampage, fora as gigantes telas, é a qualidade dos materiais empregados. Fugindo totalmente do clássico da categoria, a pernambucana conta com um uso abundante de couro, suede e, mais importante, plástico macio ao toque, nas portas e no painel, típico de SUVs de luxo.
Nenhuma concorrente conta com um acabamento tão luxuoso, nem a prima Fiat Toro chega perto. Os materiais só são vistos em picapes grandes, como nas irmãs 1500, 2500 e 3500. Mas o espaço interno é condizente com a categoria. Cinco pessoas ficam apertadas, o ideal são quatro. Quem for atrás, se for muito alto, tende a roçar a cabeça no teto. Na caçamba, por ser gasolina, ela leva míseros 750kg, pouco mais que a prima Fiat Strada, que é compacta.
Topo de linha
Assim como os materiais, os equipamentos também chamam a atenção na Rampage, seja os de segurança ou de conforto. Por ser a opção mais completa da picape intermediária, a R/T vem bem equipada, até porque, tem que justificar os quase R$ 300 mil também.
Na parte da segurança, a R/T vem com sete airbags, controles de tração, estabilidade e de mitigação de rolagem da carroceria, farol alto automático, alertas de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência e detecção de pedestres e ciclistas e de saída de faixa com correção e detecção de tráfego traseiro cruzado.
Ela ainda conta com monitoramentos da pressão dos pneus e de ponto cego, piloto automático adaptativo com Stop&Go, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, de chuva e crepuscular, câmera de ré, retrovisor eletrocrômico, freio de estacionamento eletrônico com auto hold e auxiliares de partida e de descida em rampa.
Na parte da comodidade, central multimídia de 12,3 polegadas com conexão sem fio e possibilidade de conectar até dois aparelhos, carregador por indução, wi-fi embarcado, seis portas USB, painel de instrumentos digital de 10,3 polegadas, ar-condicionado dual zone com saída para a traseira e chave sensorial com partida remota.
Road and Track
Como falamos, a sigla R/T significa “estrada e pista” em tradução livre. Mas para a Rampage, bem que poderia ser “estrada, fora dela e pista”, do tanto que a picape manda bem tanto no asfalto, quanto fora dele. O status de caminhonete mais potente produzida no Brasil não são só números, na “vida real”, ele se justifica plenamente.
O motor não é exatamente uma novidade, o poderoso Hurricane 4, um 2.0 turbo de fortes 272 “bodes” e ótimos 40,8kgfm de torque, é o mesmo que equipa o primo Jeep Wrangler. Inclusive, foi introduzido no Brasil pelo SUV super off-road – agora também está disponível no Compass e Commander. A R/T também conta com uma preparação diferenciada.
Alinhada a tração integral (falaremos dela mais para frente), ao câmbio automático de nove velocidades, a direção elétrica e ao modo Sport, batizado de “modo R/T” (ativado por um botão no painel), ela garante uma aceleração fora do comum para uma picape. Todo o conjunto poderoso se resume a uma tocada impressionante da Rampage.
Os 272 bodes trabalham com vigor e deixam as acelerações da caminhonete super divertidas. O alto torque ajuda nas saídas, qualquer toque no acelerador faz a Rampage disparar com vigor pelo asfalto e com o modo R/T ativado, o ronco do motor fica bom de ouvir. Sem falar que toda e qualquer manobra é feita com extrema facilidade.
Ultrapassagens, retomadas e saídas em velocidades são realizadas com segurança e sem esforço. Mas mais assombroso do que a aceleração é a forma como a Rampage faz curvas, a sensação é de estar em um hot hatch, ou um esportivo de verdade. Você só se lembra que está em uma picape por conta da altura e ao olhar para o retrovisor e ver a caçamba.
A dirigibilidade é excelente, em momento algum ela passa a sensação de perda de controle, de sair de traseira ou de que a caçamba passará a dianteira. Mesmo em curvas de alta, o motorista tem a picape na mão o tempo todo. Sobre o consumo, estamos falando de um carro de quase 300 cavalos, já era esperado algo agressivo. Ao fim do teste, média de 7,2km/l.
Longe do asfalto
Apesar de toda esportividade e potência, a Rampage é uma picape e, como toda boa caminhonete, o uso no fora de estrada também é importante e o modelo produzido em Goiana, Pernambuco, não faz feio, pelo contrário. O sistema 4×4 integral funciona muito bem e ainda conta com opção de reduzida, ativada por meio de um botão.
Todo o sistema trabalha tão bem, que é capaz de você esquecer que ele está atuando. Ao sair do asfalto, basta continuar viagem, já que a tração integral continua atuando de forma primorosa, demandando a força para as rodas de acordo com a sensibilidade da via. Mesmo em trilhas mais pesadas, com valas e cascalho solto, ela supera com facilidade
Se for necessário, por um botão, basta ativar a reduzida e aí, a Rampage se comporta como se estivesse em um passeio pelo parque. E ainda tem um plus, o auxiliar de descida tem controle de velocidade, o que ajuda ainda mais para superar os mais variados obstáculos, principalmente auxiliado pelos bons ângulos da picape.
A R/T tem 257mm de vão livre do solo, 25º de ângulo de ataque, 24,5º de saída e 23,1º de rampa. Um fator interessante é que, por não ser tão comprida como as médias, em momento algum ela arrasta ou passa a sensação que a parte inferior da caçamba baterá no chão, o que deixa a aventura fora de estrada mais divertida e segura.
A opinião do Diário Motor
A Rampage, na sua versão topo de linha R/T, é uma picape que tinha tudo para beirar a perfeição, já que consegue alinhar uma excelente condução em qualquer tipo de terreno, a uma lista de equipamentos bem resolvida e um visual interessante, sem falar na possibilidade de levar muita coisa na caçamba. Mas o preço praticamente deleta isso tudo.
O salto, de mais de R$ 20 mil em cerca de um ano, fez a picape deixar de ser uma excelente opção para possivelmente nem valer a compra! São R$ 292 mil sem o acréscimo da pintura, praticamente o valor de uma Ford Ranger XLT e seu V6 diesel, ou apenas R$ 10 mil a menos que a topo de linha da Chevrolet S10, a High Country (R$ 302 mil), picapes que permitem maiores possibilidades. Pelo preço, talvez vale o teste drive! Nota: 5,5.
Ficha Técnica
Motor: 2.0 turbo
Potência máxima: 272cv
Torque máximo: 40,8kgfm
Direção: elétrica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas
Capacidade de carga: 750kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.771 x 1.886 x 5.028 x 2.994mm
Preço: R$ 292.990
1/82