Nissan Sentra Advance, uma resistência em meio a onda de SUVs
Testamos a versão de entrada do sedã japonês, que é uma boa alternativa para quem ainda tenta fugir ao subterfúgio dos utilitários
Antes da onda de SUVs que assola o Brasil e o mundo, quando se falava em carro familiar, uma das principais categorias a ser citada era a de sedãs médios. Apesar da alcunha de “carro de tiozão”, os três volumes representavam um certo status, principalmente por causa do espaço interno, porta-malas generoso e conforto embarcado.
Mas de 2015 para cá, esta tendência começou a mudar. Os SUVs compactos já existiam no Brasil com Ford EcoSport e Renault Duster, mas foi naquele ano que a categoria teve seu maior boom, com vários lançamentos que modificaram o setor automotivo brasileiro até os dias de hoje, principalmente com Honda HR-V e Jeep Renegade.
Com um volume cada vez maior dos utilitários, as peruas e os hatches médios logo sumiram do mercado. Agora, o segmento que vem sofrendo com os SUVs é o de sedãs médios. A categoria saiu de 186.587 vendas em 2015, com 8,83% de participação, para míseros 57.313 e 3,63% em 2022. E, se chegar a 50 mil neste ano, será um grande feito.
Enquanto vemos o Toyota Corolla com mais de 80% de participação da categoria e o Honda Civic com vendas pífias, um modelo retornou ao mercado neste ano (após um pequeno hiato) para tentar mostrar que ainda há esperanças para os sedãs médios, o Nissan Sentra, nosso “Teste da Vez”. O japonês rapidamente assumiu o segundo lugar da categoria, com uma boa média mensal, para o atual cenário do segmento.
Na média
O Sentra retornou ao Brasil em duas versões e testamos a opção de entrada, a Advance, que parte de R$ 149.990 (A Exclusive topo de linha começa em R$ 173.290). Tirando o surto chamado Civic – que está disponível no Brasil em versão única por insanos R$ 259 mil –, ele está dentro da média da categoria, que hoje conta com pouquíssimos representantes.
O menos caro hoje é o Caoa Chery Arrizo 6 (R$ 130 mil), que não existia em 2015, quando a categoria tinha 13 modelos sem contar os premium/luxo. Atualmente, são apenas seis, sendo que o Volks Jetta conta só com a versão esportiva GLI (R$ 232.390). O Corolla, tirando as versões híbridas, e o GM Cruze estão nas mesmas faixas de preço do Sentra.
Elegante
Como sempre, falamos que design passa muito pelo gosto pessoal, o que uma pessoa pode achar bonito, outra pode não considerá-lo, é uma linha muito tênue. Sendo assim, é possível que haja pessoas que não curtam o novo visual do Sentra, mas é inegável que ele está muito mais elegante e, provavelmente, conta com o melhor desenho entre os rivais.
Sem perder a essência da marca, o Sentra entrega um visual muito mais refinado do que a geração anterior. Ainda assim, é possível ver os detalhes conhecidos da Nissan, como a grade “V-Motion”, que está mais “aberta” e conversa muito melhor com os faróis, que são em LED e estão mais finos.
Apesar de elegante, o logo em preto ficou meio sumido na grade. As lanternas, no padrão bumerangue, também estão mais finas. As saias laterais e nos para-choques na mesma cor da carroceria entregam um ar mais esportivo ao sedã.
Um ponto interessante, e que chega a ser controverso, é o tamanho do Sentra. Ele está 55mm mais largo e 10mm mais comprido e o entre-eixos ganhou 7mm. Mas mesmo assim, o porta-malas perdeu espaço, 37 litros para ser mais exato, caindo para 466 litros, deixando como o terceiro menor da categoria, maior apenas que Arrizo 6 e Cruze.
Por dentro, o visual melhorou muito também. Tudo foi redesenhado, do volante ao console central, passando pelo painel, central multimídia e bancos. Enquanto a topo de linha tem acabamento bicolor, na de entrada ele é quase todo escurecido, apenas as colunas e o teto são claros, de resto, tudo preto.
Tirando o deslize das partes claras, o acabamento conta com materiais de boa qualidade, além disso, não há rebarbas ou peças mal encaixadas. O espaço interno é muito bom, digno da categoria, levando quatro adultos sem aperto algum, um quinto sempre gera apertos desnecessários.
De entrada
Por ser a versão de entrada do Sentra, a Advance conta com uma lista de equipamentos padrão, nenhum item é “fora da curva”, mas ela cumpre a “função” da configuração, que vem com ar-condicionado digital dual zone (mas sem saída para a traseira), bancos dianteiros aquecidos e do motorista com regulagem elétrica e chave sensorial.
Ele ainda conta com central multimídia com tela de oito polegadas, conexão – com fio – via Android Auto e Apple CarPlay e três portas USB, painel de instrumentos com display digital de sete polegadas, 11 nichos, oito porta-copos espalhados pela cabine e partida por botão.
Na parte da segurança, o Sentra vem com seis airbags, sensores crepuscular e de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, auxiliar de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus, conjunto óptico full LED e faróis com ajuste de altura.
Ele conta ainda com alertas de atenção do motorista, avançado de colisão frontal e de objetos no banco traseiro, assistente de frenagem, controles de tração, estabilidade e dinâmico de chassi, freios a disco nas quatro rodas e piloto automático.
Velho conhecido
Se o visual do Sentra aponta para um lado mais moderno, o mesmo não podemos dizer da caixa de força do sedã. O japonês mantém o velho conhecido 2.0 aspirado, em vez de um propulsor turbo ou eletrificado, como acontece na concorrência.
Ao menos, agora, ele passou por uma recalibragem, com isso, o motor gera 151 cavalos, 11 a mais que na geração anterior do sedã, mas com o mesmo torque, de 20kgfm. A transmissão é automática CVT e ganhou trocas virtuais. Direção elétrica, suspensão independente e freios a disco nas quatro rodas completam o conjunto mecânico.
Apesar da boa potência do motor, o câmbio CVT sempre necessita de um pouco mais de atenção e paciência, principalmente nas saídas. As retomadas e ultrapassagens são feitas com maior facilidade. Para o dia a dia das cidades, o sedã responde bem.
Por contar com um motor aspirado, que demanda giros mais altos, e com a transmissão CVT, que naturalmente é mais ruidosa, ainda há um excesso de ruídos invadindo a cabine, principalmente com o som desligado, mesmo com a melhora na acústica do veículo.
Tem um aspecto que o Sentra manda muito bem, a suspensão. Como um bom sedã médio, o sistema absorve muito bem as inúmeras imperfeições do asfalto e não repassa para a cabine. Com um rodar macio, a viagem fica bem mais confortável.
Outro ponto positivo do japonês – e este chamou bastante a atenção – foi o consumo. Durante o nosso teste, ele marcou 12,6kgfm, acima dos 11km/l divulgados pela Nissan. O grande porém do Sentra é o freio de estacionamento, já seria ruim em um veículo de quase R$ 150 mil se ele fosse apenas manual e não eletrônico, mas ser de pé é inadmissível.
A opinião do Diário Motor
O Sentra mostra que ainda pode existir, mesmo que tímida, uma resistência aos SUVs. Com um visual elegante, o melhor da categoria no momento – na nossa humilde opinião –, equipamentos honestos para uma versão de entrada e um acerto grande na suspensão, ele pode ser uma fuga para quem não gosta de ir com a maré, no caso, de utilitários.
O valor, apesar dos pesares, está dentro da realidade da categoria. Apesar de ser apenas aspirado, o conjunto mecânico tem a economia em seu favor, o conforto a bordo é o grande trunfo do japonês. Vale o teste com possível compra! Nota: 7,5.
Ficha Técnica
Motor: 2.0
Potência máxima: 151cv
Torque máximo: 20kgfm
Transmissão: automática CVT
Direção: elétrica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 466 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.456 x 1.816 x 4.646 x 2.707mm
Preço: R$ 149.990
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