Jeep Gladiator Rubicon, o carro perfeito para uso pré e pós-apocalíptico
Testamos a picape mais off-road disponível no Brasil. Feita para qualquer caminho, peca apenas na relação tamanho vs preço
Na cultura pop, o apocalipse é tratado nas mais variadas formas de arte, da pintura ao cinema, passando por livros, teatro e, mais recentemente, entre os games. Além disso, o “colapso final” é retratado de muitas maneiras, podendo ser zumbi, climático, alienígena, nuclear, epidêmico ou tecnológico.
O retrato comum é: o mundo colapsa, poucos humanos sobrevivem e estes precisam viver em um planeta caótico e pós-apocalíptico. Nas diversas formas na qual o planeta pode “acabar”, um fator é primordial, a continuidade da espécie humana.
As mais variadas obras de ficção costumam retratar estes episódios com pequenos grupos de comunidades unidos em busca de sobreviventes e de formas de sobreviver após o mundo inteiro colapsar. Um fator importante nesta busca é achar meios de transporte compatíveis com a situação apocalíptica do momento.
E é aqui que toda essa introdução fora do comum começa a fazer sentido. Em um possível mundo apocalíptico, na necessidade de se deslocar, procure um veículo em específico: a Jeep Gladiator Rubicon, nosso “Teste da Vez”. A picape baseada no suprassumo do off-road, o Wrangler, é capaz de superar os maiores obstáculos e passar por cima de zumbis com facilidade te levar com facilidade para qualquer lugar e carregando suprimentos na caçamba.
Discordante
O maior – e praticamente único – problema da Gladiator Rubicon é o preço no mundo real, ainda mais no Brasil. Por aqui, a picape tem porte de média mas valor de grande, ao sair por impressionantes R$ 499.990. Para se ter uma ideia, entre as grandonas, três modelos custam menos, a Ford F-150 (R$ 479.990) e as primas da Ram, a Classic (R$ 359.950) e a 1500 (R$ 494.990).
Entre as médias, a mais cara é a versão esportiva da Ford Ranger, a Raptor. E que, ainda assim, custa menos, pois ela parte de R$ 466.500. A próxima mais cara é a Toyota Hilux GR-S e seus salgados R$ 372.890. Mas nenhuma delas tem a mesma capacidade off-road quanto a Gladiator. Apenas o irmão Wrangler (que é um SUV) “bate de frente” neste quesito e, mesmo ele, custa menos, partindo de R$ 481.834 na mesma versão Rubicon.
Robustez ao máximo
A Gladiator foi apresentada pela primeira vez na década de 1960, como uma variação do saudoso Willys e, curiosamente, teve sua produção interrompida quando a marca apresentou o substituto do famoso SUV, o Wrangler, em 1988. Pouco mais de 30 anos depois, a caminhonete foi reapresentada, baseada na atual geração do utilitário off-road.
Dessa forma, a Gladiator é praticamente um Wrangler de caçamba. Ela conta com o mesmo estilo robusto do SUV, que é inspirado nas linhas do Willys, da grade de sete aberturas aos faróis redondos, passando pelo porte robusto e pelas partes (teto, portas, para-brisa) removíveis, no melhor estilo dos modelos clássicos da marca.
Assim, como o irmão SUV, a picape tem um quê de modernidade digno de um veículo do século 21, mas sempre respeitando a identidade 4×4 histórica da marca. Por exemplo, todo o conjunto óptico é em LED, com as luzes de circulação diurnas em torno da área externa dos faróis. Ela vem com pneus off-road de 33 polegadas com grandes protetores de roda.
Como no Wrangler, o para-choque dianteiro é robusto, feito de aço ideal para passar por cima de zumbi com dois ganchos de reboque, os para-lamas são reforçados. Ela conta com capota marítima e, apesar da versão que testamos estar sem, ela vem com proteção de caçamba. Mas assim como o irmão, um dos grandes destaques é poder “desmontá-la”.
Estilo lego
É possível retirar a capota traseira (que engloba as laterais e o teto), a parte dianteira do teto (que é dividido em duas lâminas que podem ser guardadas na caçamba), todas as portas e o para-brisa, que pode deitar ou ser totalmente removido. O grande porém na hora de rodar com ela “pelada” é onde deixar as partes removidas, tem que ser em local seguro.
Lembrando que, sem as portas dianteiras, não é permitido rodar na cidade ou em rodovias, sejam urbanas ou rurais, apenas em locais fechados, como fazendas, onde fizemos parte do nosso teste, por conta da necessidade e da obrigação do uso dos retrovisores.
Um ponto interessante – além da emoção de rodar com o carro todo aberto – é que, mesmo se retirar tudo, o sistema de som do veículo permanece. Isso acontece porque ele foi alocado na parte tubular superior do chassi do veículo. Apesar que, no meio do mato, o mais interessante é ouvir os sons da natureza mesmo.
Além disso, como o Wrangler, a Gladiator é quase “plug-in play”, facilmente desmontável e montável. A única peça que precisa de mais de uma pessoa é a capota traseira e mais pelo tamanho do que pelo peso, já que ela é feita de fibra e não pesa muito. Um porém é ela vir apenas com um kit de ferramentas, o ideal seriam duas chaves, para acelerar o processo de desmonte e montagem, com a ajuda de outra pessoa, claro.
Toda Wrangler
Por dentro, o visual é o mesmo visto no irmão SUV. Assim, o estilo 4×4 se mantém, apesar do quê de modernidade. As peças contam com um ar de maior robustez, claramente feitas para aguentar até o mais aventureiro dos motoristas. O interessante é que, apesar de extremamente off-road, ela tem plástico emborrachado para tudo que é lado.
Outro ponto idêntico ao do irmão é o painel em vermelho. A cor é vista também nas costuras dos bancos, volante e painel das portas, que são em couro e em outros detalhes espalhados pelo carro, que dá um ar menos sóbrio ao interior da picape. Um ponto interessante são os tapetes do tipo bandeja, de fácil remoção e ainda são laváveis.
Apesar de ser uma picape média, a Gladiator não é muito convidativa para cinco passageiros, principalmente na largura, ela é um pouco estreita (1.894mm), a Hilux, por exemplo, tem 2.020mm. Para ter um conforto maior, o ideal são quatro mesmo. Nesta configuração, é possível viajar ou fazer trilhas sem maiores apertos.
A caçamba é um pouco rasa, (o que pode gerar problemas na hora de levar suplementos no pós-apocalipse), ela tem apenas mil litros de capacidade volumétrica e, por ser a gasolina, leva, no máximo, 674kg. Mas puxa mais de três toneladas no reboque.
Moderninha
Diferente do irmão SUV, a Gladiator conta com apenas uma versão no Brasil, ao menos é a topo de linha Rubicon, que também é a mais completa do Wrangler. Com isso, como falamos, apesar do clássico estilo 4×4, a configuração conta com um quê de modernidade na lista de equipamentos.
Ela vem com ar-condicionado digital, dual zone e com saída para a traseira, central multimídia com tela de oito polegadas, portas USB tipo C e A, navegador e funções off-road, chave sensorial com revestimento anti-impacto para abertura das portas e partida do motor por botão, painel de instrumentos com display digital de sete polegadas.
O volante tem ajustes de profundidade e altura, tomada de 220V na caçamba (mas no padrão dos Estados Unidos, ou seja, para usar, precisa de um adaptador) e banco do motorista com ajustes manuais, até pode ficar a pergunta de por que não elétrico, mas não casaria muito bem com travessias de rios e outras áreas alagadas, por exemplo.
Na parte da segurança, ela vem com quatro airbags (frontais e laterais), controles de tração, estabilidade e oscilação da carroceria, assistentes de partida em rampa e de descida, monitoramento de pontos cegos e de pressão dos pneus, freios a disco nas quatro rodas, câmeras de ré e off-road, piloto automático e sensor de estacionamento traseiro.
Velho conhecido
Ao contrário do irmão, a picape não passou por uma atualização no conjunto mecânico. A Gladiator conta com o antigo motor 3.6 V6 a gasolina de 284 cavalos e 35,3kgfm de torque, aliado ao câmbio automático de oito velocidades, direção eletro-hidráulica e, claro, todo o sistema 4×4.
Durante nosso teste, rodamos nos mais diversos terrenos, com foco maior no fora de estrada, claro. Mas também andamos bem no asfalto, na cidade. Um detalhe é que, mesmo com o motor grande aspirado, ela fez uma excelente média, para um V6, de 7,4km/l.
Outro ponto positivo é que, mesmo com pneus lameiros de 33 polegadas (ou seja, muita borracha) e por se tratar de uma picape, no qual rodamos sempre com caçamba vazia, a Gladiator não parece uma “mula manca”. A suspensão trabalha muito bem, deixando o rodar o mais macio possível, para um veículo puramente 4×4, mesmo no asfalto.
Falando de ir bem no asfalto, apesar de não ser tão moderno, o poderoso motor atua muito bem. Ele atende perfeitamente aos comandos do acelerador. Ultrapassagens, saídas e retomadas de velocidade são feitas de forma rápida e segura, todas as manobras são realizadas sem esforço, mesmo para uma picape de 2.261kg.
Todo terreno de verdade
Como o irmão, a Gladiator tem uma capacidade off-road indiscutível. São 43º de ângulo de entrada e 26º de saída, 760mm de capacidade de submersão e 270mm de vão livre do solo. Além dos números, ela tem a tração 4×4 Rock-Trac de relação reduzida 4:1 e crawl ratio de 77:1, que permite à picape entregar o máximo de força em baixa velocidade, para maior controle, além de aumentar a quantidade de torque nas rodas.
Ela ainda vem com bloqueio eletrônico dos diferenciais Tru-Lok, que trava mecanicamente os eixos fazendo com que ambas as rodas girem na mesma velocidade, proporcionando que a em contato com o solo tenha o máximo torque possível para superar os mais difíceis obstáculos, há ainda bloqueio do eixo traseiro e do dianteiro, que podem atuar em conjunto.
A picape também conta com a possibilidade de desconectar a barra estabilizadora dianteira para encarar os terrenos mais difíceis. Feita pelo botão “Sway Bar”, a desconexão aumenta a articulação da suspensão em 30%, permitindo que o eixo dianteiro trabalhe mais livre e que ambas as rodas mantenham contato com o solo, para uma maior capacidade de tração.
Para otimizar ainda mais o 4×4, a Gladiator vem com sistema “off-road+”, que atua nos principais sistemas da picape para garantir um desempenho ideal em qualquer terreno. A câmera off-road possibilita ao condutor uma melhor visualização do caminho à frente. Há ainda proteção contra pedras, ganchos de reboque, eixos Dana 44 e selo Trailrated.
Sem esforço
Como falamos, no asfalto a Gladiator se comporta bem, garantindo manobras seguras. Mas é no fora de estrada que ela se mostra em toda a sua capacidade. Todo o sistema 4×4 trabalha para que nenhum obstáculo seja difícil de superar. Na verdade, o difícil foi encontrar algo que gerasse uma mínima resistência à picape.
Em trilhas normais, onde qualquer veículo off-road “normal” passa, ela parecia estar em um passeio no parque. Certamente se houvesse uma inteligência artificial e o carro conversasse com a gente, falaria “é isso que você tem para mim?”. Mesmo se for um local minimamente desafiador para outros modelos, ela supera com facilidade ímpar.
Terrenos acidentados pedem apenas o 4×4 auto. Locais que seria necessário usar a reduzida em 99% dos modelos, basta ativar o clássico 4×4 H. Para ativar a reduzida, o que praticamente transforma a picape em um trator, é necessário muita lama ou subidas íngremes repletas de cascalhos, ou ainda valas grandes, onde o entre-eixos longo pode atrapalhar.
Sem falar no sistema que desloca a barra dianteira, para superar áreas com grandes rochas, quase impossível de se encontrar por aqui. Por fim, o grande diferencial da Gladiator Rubicon é transformar qualquer trilha desafiadora em algo fácil. Onde a maioria não passaria, ele supera com extrema facilidade, ou seja, ideal para fazer o próprio caminho em um mundo pós-apocalíptico, no atual mesmo!
A opinião do Diário Motor
A Gladiator, assim como o Wrangler, é um dos veículos suprassumo do universo off-road. A picape é o veículo ideal para um mundo apocalíptico – e para o que vivemos também. Toda a capacidade 4×4 dela mostra que quem escolhe o caminho é o motorista e que, se for necessário desviar a rota, não há obstáculo que não seja superado. Além disso, qualquer trilha pode ser feita ao ar livre, com teto e portas removíveis.
O motor, poderia ser um porém, mas se mostra forte e até econômico, para um V6. O grande porém dela é, como sempre, o preço. Mas mesmo custando meio milhão de reais, se dinheiro não for problema, a Gladiator é uma bela de uma aquisição, se colocar uma KTM 1290 SuperADV na caçamba então, não há caminho intransponível. Vale a compra! Nota: 9,5.
Ficha Técnica
Motor: 3.6 V6
Potência máxima: 284cv
Torque máximo: 35,4kgfm
Transmissão: automática de oito velocidades
Direção: eletro-hidráulica
Suspensão: tipo eixo transversal (beam) e barra estabilizadora nos dois eixos
Freios: a disco nas quatro rodas
Capacidade de carga: 674kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.905 x 1.894 x 5.591 x 3.488mm
Preço: R$ 499.990
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