Jeep Compass Blackhawk, uma ‘bússola’ fora de compasso

Testamos a nova versão topo de linha do SUV médio, que entrega muita potência e tecnologia, mas por um preço fora da realidade

A Jeep é daquelas marcas que tem uma história diferenciada no Brasil. Oficialmente falando, a marca chegou por aqui junto de diversas outras, na década de 1950, quando o país passou pelo boom da industrialização, mas com uma subsidiária brasileira, conhecida pela alcunha de Willys Overland e responsável por produtos diversos.

Foi ela que, em 1954, iniciou a produção do pai de todos os jipes, o Jeep Willys, em São Bernardo do Campo. Mas nos anos 1960, a divisão foi vendida para a Ford e passou a produzir outros modelos até a década de 1980, quando tudo foi fechado, em 1983. Uma década depois, em 1993, com a reabertura do mercado brasileiro, a Jeep voltou ao país.

De todos os modelos da marca por aqui, o que tem a história mais intrigante é o Compass. O SUV médio chegou ao Brasil em 2012, já na metade da vida da primeira geração e foi considerado por muitos, o patinho feio da montadora das sete fendas. Isso mudou apenas em 2016, com o lançamento da segunda geração do utilitário.

O modelo foi o segundo a ser produzido em Goiana, no interior de Pernambuco e, depois de ser um grande desastre, virou um verdadeiro astro. Chegou a liderar todos os SUVs em dois anos seguidos e, desde então, é o rei dos médios. Mas anda cansado da briga. Para voltar a ter fôlego, a marca adicionou o poderoso motor Hurricane com a uma nova versão topo de linha, a Blackhawk, nosso “Teste da Vez”. 

Precificação

Ele é um dos mais caros do segmento, custa mais até que alguns híbridos plug-in.

No Brasil, o segmento de SUVs médios é um dos mais diversificados. Além da quantidade de representantes, são modelos para todos os gostos, do urbano ao off-road, do diesel ao eletrificado. A grande estrela ainda é o Compass. Na versão topo de linha e extremamente fora da realidade no fator preço, a Blackhawk, e seus insanos R$ 285.590, ele tem dois rivais diretos: Ford Bronco (R$ 260 mil) e Mitsubishi Eclipse Cross (R$ 224.990).

Mas os que o incomodam de verdade são o Toyota Corolla Cross (R$ 212.890) e o Volks Taos (R$ 220.990). Hoje, o principal fator contrário ao Compass é justamente o preço da topo de linha, tirando quatro modelos híbridos que superam os R$ 300 mil (sendo uma versão dele próprio), ele é disparado o mais caro da categoria, que conta com modelos que variam de R$ 174.990 do Caoa Chery Tiggo 7 a R$ 283.000 do GWM Haval H6 PHEV34.

Gavião Negro

Não foi a primeira vez que a marca criou uma versão escurecida para o SUV.

Não é a primeira vez que a Jeep cria uma versão, digamos, escurecida para o Compass (ele já teve uma Night Eagle), apesar do foco não ser exatamente este da novidade, até porque, a carroceria mesmo não é preta – a unidade que testamos era cinza –, mas há muitos detalhes no tom escuro, visto nas rodas, grade, teto, logos, retrovisores e cabine.

O modelo passou por um facelift recentemente, em 2022. E, até por isso, o desenho dele não foi alterado com a adição da nova versão. O visual interno e externo segue inalterado. Para não dizer que nada foi mudado, a versão Blackhawk tem rodas diferenciadas, saída dupla de escapamento e conta com um novo layout do painel de instrumentos digital. 

O design do utilitário não foi alterado.

O interior segue o mesmo padrão visual, com a única alteração no layout da tela do painel de instrumentos, que tem opções de visualização diferentes e seguem o mesmo estilo do irmão maior, o Commander. Os destaques da cabine são o gigante teto solar panorâmico e os displays duplos. E, de forma inesperada, o acabamento tem um porém.

Assim como o irmão maior, ele conta com bons materiais e peças bem encaixadas, sem rebarba, na sua maioria. Isso porque, uma das áreas de maior contato, o volante, não teve o mesmo cuidado. A peça, que não teve alteração visual, tem a haste da base em “V”. Por dentro deste detalhe há um desencaixe grotesco, que incomoda muito ao passar a mão.

Quatro pessoas viajam com bastante conforto.

O Compass representa bem os SUVs médios. Com um tamanho bom, sem ser muito exagerado, ou apertado, ele leva quatro pessoas com extremo conforto. Uma quinta sempre gera apertos desnecessários, mas para uma viagem curta, é possível ir com capacidade máxima sem gerar muito desconforto. O porta-malas leva bons 410 litros. 

Fazendo jus

A lista de equipamentos faz jus a um veículo de quase R$ 300 mil.

Assim como o irmão Commander, a nova opção topo de linha do Compass tenta justificar o alto valor pedido pela marca na lista de equipamentos. A Blackhawk, ao contrário do tradicional da marca, não conta com nenhum opcional, as únicas variações de escolha são as cores, que acrescentam até R$ 2.500 ao já salgado valor final. 

Agora, com a versão batendo quase nos R$ 300 mil, todos os itens presentes são mais do que obrigação para um veículo dessa faixa de preço. Ou seja, a lista de equipamentos generosa não é mais do que a obrigação para um utilitário caro assim. 

A central multimídia tem uma boa visualização.

Ele vem com banco elétrico para o motorista e para o passageiro, central multimídia com tela de 10,1 polegadas, conexão sem fio com smartphones via Android Auto e Apple CarPlay, Adventure Intelligence Plus com Alexa, navegação GPS integrada, páginas de performance, quatro portas USB e som premium Beats. 

Ar-condicionado dual zone com saída para a traseira, chave sensorial, partida remota e por botão, painel de instrumentos digital e configurável com tela de 10,25 polegadas, carregador por indução para smartphones, teto solar elétrico e panorâmico, tomada 127V no padrão brasileiro e abertura elétrica do porta-malas com sensor de presença.

Entre os itens de segurança, sistema ADAS com piloto automático adaptativo.

Na parte da segurança, sete airbags, conjunto óptico full LED com farol alto automático, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, crepuscular e de chuva, auxiliar de partida e descida em rampa, retrovisor interno eletrocrômico, câmera de ré, freio de estacionamento eletrônico com auto hold, monitoramento de pressão dos pneus, controles de tração, estabilidade e anticapotamento e pacote de tecnologias auxiliares de condução.

O ADAS agrega piloto automático adaptativo com stop & go, alertas de mudança de faixa e de colisão com frenagem automática, monitoramento de ponto cego e de tráfego cruzado, frenagem de emergência com detecção de pedestres, ciclistas e motociclistas, detector de fadiga, reconhecimento de placas de velocidade e auxiliar de estacionamento automático.

Super Trunfo

O motor é o grande astro do SUV, com quase 300 cavalos de potência.

No famoso de jogo de cartas, onde se escolhe um atributo e o jogador que tiver o maior dado vence a rodada, no quesito potência, o Compass só perderia para apenas dois modelos e ambos híbridos plug-in. Sem eletrificação, ele é disparado o mais forte da categoria, graças ao novíssimo e poderoso motor Hurricane 2.0 turbo. 

O nome do motor não é estranho porque ele é o mesmo que equipa os irmãos Wrangler e Commander e a prima Ram Rampage. Tirando o SUV super off-road, o conjunto mecânico é idêntico ao dos outros dois modelos, do motor ao câmbio, passando pela direção e tração.

O câmbio é um velho conhecido, o automático de nove velocidades.

A caixa de força gera 272 cavalos e 40,8kgfm de torque e está alinhada à transmissão automática de nove velocidades, tração integral 4×4 sob demanda com modos off-road e reduzida eletrônica, direção elétrica, suspensão independente nos dois eixos e freios a disco nas quatro rodas. Com isso, o Compass virou um canhão.

As versões com motor 1.3, que ainda estão presentes, ficam no limite da força, deixam o SUV seguro, mas sem sobras. Agora, com o Hurricane, ele se transforma em um verdadeiro utilitário esportivo. A condução é super divertida, com uma tocada agressiva. O mais leve toque no acelerador faz ele disparar pelo asfalto sem a menor cerimônia.

O SUV garante uma direção segura e divertida.

Mesmo com carro cheio, não há manobra que ele faça com facilidade. Ultrapassagens, retomadas e saídas em velocidades são todas feitas com segurança, além de divertidas. O câmbio é um velho conhecido e, como de costume, trabalha bem, sem qualquer tipo de tranco ou demora nas trocas. As respostas são rápidas e permitem a dose extra de diversão.

O rolar do Compass é bem suave também, como deve ser de um SUV médio. A suspensão também trabalha bem e ela não repassa as – muitas – imperfeições do asfalto para a cabine, o que deixa qualquer viagem a bordo do utilitário extremamente confortável.

Salto baixo

Apesar da vocação off-road, ele tem uma altura livre de solo não tão grande.

Outro ponto do conjunto mecânico do Compass semelhante ao dos irmãos é tração. Ela sempre foi um destaque do SUV, mas agora com o sistema integral 4×4 sob demanda, ficou ainda melhor. A força do poderoso motor é sempre jogada nas quatro rodas, o que permite uma condução mais segura e divertida no dia a dia, além de um off-road fora otimizado. 

O sistema 4×4, em si, funciona muito bem no fora de estrada. Ao encarar uma via sem asfalto, ele faz bonito, com a força sendo direcionada automaticamente para as quatro rodas, o motorista nem precisa ativar nada, só seguir viagem. Se for pegar um trecho mais severo, basta acionar a reduzida eletrônica, por meio de um simples botão.

No geral, o sistema de tração integral 4×4 funciona muito bem.

Aqui tem o grande porém do SUV. Ao encarar uma trilha mais pesada – como de costume em modelos 4×4, levamos o Compass para uma trilha mais complexa, cheia de valas e cascalho solto em descidas ou subidas – ele apresentou uma importante dificuldade, e nem foi em superar os obstáculos não, mas a altura de solo, ele é mais baixo do que deveria.

Ele tem apenas 198mm de altura mínima, o que faz o utilitário raspar muito ao passar por uma vala ou entrar em uma descida muito íngreme. Os pneus AT até ajudam bem, mas a questão da altura complica ao encarar um desafio mais rigoroso no fora de estrada. Sobre o consumo, apesar de ser um veículo de quase 300 cavalos, poderia ter sido melhor, ficou em 7,6km/l.

A Opinião do Diário Motor

Jeep Compass Blackhawk.

Um fator engraçado, mesmo mais caro, o Commander está em uma categoria onde ele é um dos mais baratos. Já o irmão menor, não tem o mesmo atributo. Em um segmento com mais de 10 modelos diferentes, ele é um dos mais caros. Beirando os R$ 300 mil, na versão topo de linha, o SUV se perdeu e mesmo as novas adições, como do poderoso motor, não fazem dele uma opção certeira, pelo contrário. 

Com rivais não tão diretos, mas tão bem equipados quanto, custando R$ 100 mil a menos, outros com os mesmos “specs” e R$ 25 mil a menos. Sem falar que ele tá na mesma faixa de preço, e até mais caro, do que modelos híbridos plug-in. Assim, a disputa fica difícil para o SUV pernambucano. Por conta do preço, e de outros pequenos deslizes citados, não vale a compra! Nota: 4,8

Ficha técnica

Motor: 2.0 turbo

Potência máxima: 272cv 

Torque máximo: 40,8kgfm 

Transmissão: automática de 9 velocidades

Direção: elétrica

Suspensão: independente nas quatro rodas

Freios: a disco nas quatro rodas

Porta-malas: 410 litros 

Dimensões (A x L x C x EE): 1.640 x 1.819 x 4.404 x 2.636mm 

Preço: R$ 285.590

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