Fiat repete receita do Freemont, mas busca resultado diferente com a Titano

Assim como o primeiro SUV da italiana por aqui, a inédita picape média surge tendo como base um modelo de outra marca dentro do grupo

Chapada dos Guimarães (MT) – Em 1998 a Fiat começou a pavimentar um caminho que culmina nos dias de hoje. Naquele ano, a marca apresentou a Strada, nova picape compacta da marca. O modelo foi tão acertado que, em 2000, assumiu a ponta não só da categoria, mas entre todas as caminhonetes, e não largou mais. Não satisfeita em ser a picape mais vendida do país, há três anos ela é a rainha entre todos os veículos no mercado brasileiro.

No entanto, apesar do grande sucesso, a pequena demorou para ganhar uma irmã. Apenas em 2016 veio a segunda picape da Fiat, com a intermediária Toro. Logo ela repetiu o sucesso da irmã menor, se destacou no mercado e no primeiro ano, mesmo sem todos os meses, já figurou em segundo lugar entre todas as caminhonetes mais emplacadas.

O sucesso de Strada e Toro, além de transformar a Fiat como a montadora que mais vende picapes no Brasil, levantava uma dúvida: por que a marca não investia em um modelo para brigar entre as médias? Até porque, conhecimento para fazer caminhonetes “estelares” a italiana tem e de sobra. A resposta e a solução veio após a fusão da Fiat Chrysler com a Peugeot Citroën no que hoje é a Stellantis. 

Com a sinergia entre as marcas do novo grupo, surgiu a possibilidade de usar uma picape média já pronta e adicionar a expertise da Fiat. Com isso, em vez de vir para o Brasil como Peugeot Landtrek, a caminhonete média do grupo surgiu como Fiat Titano por aqui. Apresentada oficialmente na última semana na Chapada dos Guimarães (MT), fomos conferir de perto e ter as “Primeiras Impressões” da mais nova picape média do mercado.

Repeteco

A Fiat repete o feito com o Dodge Journey ao utilizar a Peugeot Landtrek para a fazer a Titano.

Não é a primeira vez que a Fiat faz uso desta receita. Quando a italiana adquiriu a parte americana do grupo Daimler Chrysler (Jeep, Dodge, Chrysler) e criou a FCA, ela pegou um modelo existente para criar um novo e trazer para o Brasil. Na época, o escolhido foi o Dodge Journey, que serviu de base para o Freemont, que pecou principalmente no conjunto mecânico mais fraco. 

Agora, a italiana repete a dose e, em vez de criar do zero uma picape média, fez uso da já existente Peugeot Landtrek para ter uma representante para chamar de sua. A única diferença para o Freemont é que, na Titano, a Fiat não trouxe um motor inferior, o que seria ainda mais terrível, já que o da francesa está longe da potência das principais rivais. 

A marca afirma que rodou mais de dois milhões de quilômetros em testes da picape.

Um ponto positivo é que a marca garante que rodou por mais de dois milhões de quilômetros com a Titano durante os testes para ajustá-la o melhor possível para o mercado brasileiro. Um pequeno spoiler, ainda assim ela poderia ter uma suspensão melhor otimizada.

Apesar da repetição, a marca espera que um ponto não seja igual: o resultado de vendas. A expectativa da Fiat nem é brigar entre as mais vendidas da categoria, a ideia é buscar o quarto lugar em um primeiro momento. Até porque, a Titano disputa apenas com as opções de entrada da rivais e, como vocês verão nestas “primeiras impressões”, tem alguns poréns.

Precificação

A topo de linha Rach compete com as versões intermediárias das rivais.

Não é de hoje que falamos que carro está caro no Brasil. Entre as picapes médias então! Alguns modelos superam, e muito, os R$ 350 mil. O preço inicial também não é dos melhores e, nisso, a Titano manda bem. Até então, a caminhonete média mais barata, contanto apenas as opções de cabine dupla e motor diesel, era a Ford Ranger e seus R$ 234.990 (em promoção, é possível achar modelos mais em conta do isso).

A Titano, na sua opção de entrada, custa R$ 219.990 e assume como a picape média mais barata disponível no Brasil. Mas a versão que tivemos contato durante o lançamento na Chapada dos Guimarães foi a topo de linha Ranch, que sai por R$ 259.990. Ela foca nas intermediárias das rivais que, mesmo assim, custam bem mais. Apenas a Ranger XLS, nos mesmos R$ 259.990, não supera os R$ 280 mil. 

“Prima gêmea”

Com excessão dos nomes e logos, o visual é exatamente o mesmo da Landtrek.

Assim como no caso Freemont/Journey, a Titano não teve muitas alterações visuais em relação a Landtrek, o que não é um ponto negativo. As únicas mudanças foram nos nomes e logos, de resto, é tudo igual, do para-choque dianteiro ao traseiro, passando pela grade, luz de circulação diurna, estribos laterais tipo plataforma e desenho da tampa da caçamba.

Um ponto positivo da Titano, principalmente em relação às rivais, é que, mesmo sendo equiparada com as intermediárias, ela vem com proteção de caçamba, capota marítima, santo antônio, rack de teto e os estribos de série. Ela ainda vem com rodas de liga leve de 18 polegadas e pneus 265/60 de uso misto. 

O interior também o mesmo visto na prima francesa.

Não há do que reclamar do design externo da Titano, mas o mesmo não podemos dizer da cabine. O interior, apesar de também ser idêntico ao da francesa, é bem mais pobre do que estamos acostumados a ver nos veículos da Peugeot. Da tela minúscula do painel aos materiais, é tudo de aspecto inferior, até em relação a modelos de entrada da Fiat.

O acabamento é em um plástico grosseiro e de aparência frágil, o que não combina com a robustez de uma picape. Há rebarbas mal feitas, como no porta-copos da saída do ar-condicionado, peças mal encaixadas, como uns botões sem função abaixo das “teclas de piano”, até a alavanca do câmbio aparenta um ar de “se forçar, quebra”.

A qualidade dos materiais empregados é decepcionante.

Um ponto positivo é a saída de ar para a traseira. Outro detalhe interessante são os bancos de trás bipartidos e que levantam o assento, revelando mais um porta-objetos. O espaço, principalmente o lateral, é bom, dá para ir três adultos sem aperto. Em compensação, as pernas ficam muito elevadas, o joelho fica para cima de forma desconfortável.

Ainda sobre capacidade, mas de carga, a caçamba, como falamos, conta com protetor e capota marítima. Como de costume da categoria, leva um pouco mais de uma tonelada de peso, 1.020kg, mais precisamente. Segundo a Fiat, são 1.314 litros de espaço, o que a torna a maior do segmento. 

Intermediária topo

Ao menos, os equipamentos, como a câmera 360º, são bem interessantes.

Um dos pontos que a Fiat aposta na Titano é o bom nível de equipamentos, principalmente em disputa com as versões intermediárias das rivais. Ela conta com alguns itens que nem opções topo de linha das concorrentes tem, como câmera 360º. 

Assim, a Ranch, vem de série com ar-condicionado dual zone e saída para a traseira, porta luvas refrigerado, central multimídia com tela de 10 polegadas, conexão (com fio) com smartphones via Android Auto e Apple CarPlay e três portas USB, chave sensorial com partida por botão, assoalho em carpete, luz de caçamba.

A saída de ar para a traseira é um dos pouco pontos altos da cabine.

Ela ainda vem com volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, bancos em couro com ajustes elétricos para os dianteiros, navegação embarcada, display digital de 4,2 polegadas no painel de instrumentos e os já citados protetor de caçamba, capota marítima, santo antônio, rack de teto e estribo lateral tipo plataforma.

Na parte da segurança, seis airbags, piloto automático, auxiliares de partida e descida em rampa, assistente de reboque, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, de chuva e crepuscular, câmera 360º, faróis de neblina, aviso de saída de faixa, rebatimento automático dos retrovisores, faróis, lanternas e luz de circulação diurna em LED e monitoramento de pressão dos pneus.

Calcanhar de aquiles

O conjunto mecânico também deixou a desejar.

Um dos principais motivos da Titano brigar apenas com as versões intermediárias das rivais é o conjunto mecânico. Ela conta com um propulsor 2.2 turbo diesel de 180 cavalos, alinhado a direção hidráulica, transmissão automática de seis velocidades e tração 4×4.  

Com isso, no quesito potência, ela supera apenas as versões da Ranger com motor 2.0, que tem 170 cavalos – algumas, como a própria americana, conta com opção de propulsor V6 de 250 cavalos e as demais variam de 190 a 204 cavalos.

Os pneus são do tipo AT, de uso misto.

Na questão do torque, o que realmente importa em uma picape, ela é pior ainda, com apenas 40,7kgfm. Assim, a Titano perde para todas as rivais, até mesmo para a Ranger 2.0, que tem 42,1kgfm. Ao menos a tração 4×4 tem reduzida e bloqueio de diferencial. 

Apesar de defasados, os números não chegam a importar muito, afinal, estamos falando de uma picape e não de um esportivo. Mesmo assim, no breve contato que tivemos com ela durante o lançamento, o motor se mostrou aquém do porte da Titano, principalmente nas nas retomadas, onde faltou fôlego, demandando uma atenção muito maior do motorista.

Uma lavadora de roupas não deve sacolejar tanto como a Titano.

Agora, o real problema mesmo está na suspensão. Apesar dos milhares de quilômetros rodados em testes, a Fiat – como diz na gíria – “errou feio, errou rude” com ela. O sistema simplesmente não absorve os impactos do solo. Mesmo para o motorista, a sensação é de estar dentro de uma lavadora de roupas, ou de um liquidificador, do tanto que ela sacoleja.

Até mesmo no asfalto liso a Titano balança de forma exagerada. O excesso de quique passa uma sensação de que ela está muito mais rápida do que deveria, além disso, gera um incômodo absurdo para os ocupantes, que vira uma irritação e se transforma em uma fadiga. Uma viagem a bordo da italiana será muito exaustiva por conta do balanço exagerado.

Fora de estrada

O fora de estrada da picape foi surpreendentemente bom.

Se no on-road a Titano decepcionou, principalmente por conta da suspensão, no off-road ela surpreende e vai muito bem. Durante o lançamento, testamos a picape no fora de estrada em dois momentos diferentes, em vias de terra e em uma pista montada. Nas duas ocasiões, ela respondeu além do esperado.

O sacolejo visto no asfalto, diminuiu muito na terra, também graças aos pneus de uso misto. Um ponto positivo é que, em momento algum, ela passa a sensação de perder a traseira, mesmo em vias com muita areia ou cascalho solto. Além disso, em uma estrada de terra normal, nem precisa ativar o 4×4 e, mesmo com ele desativado, os controles atuam bem.

A Titano anda muito melhor na terra do que no asfalto, mesmo liso.

Agora, na pista montada, onde a picape foi levada ao extremo, ela foi melhor ainda. Em um circuito com inclinações laterais agressivas, pêndulos, caixas de ovos, entre outros, ela se mostrou bastante confiável, tanto que, mesmo com todas as adversidades, não foi necessário ativar a reduzida em momento algum, mesmo no 4x4H ela superou obstáculos sem se esforçar.

Os números dela também auxiliam ao enfrentar maiores desafios no fora de estrada. Apenas o de capacidade de imersão, de míseros 600mm, ficou aquém do esperado. No mais, ela conta com 235mm de distância do solo, 29° de ângulo de entrada e 27° de saída. E a câmera 360º ajuda a observar a área em volta, otimizando a segurança no off-road.

A opinião do Diário Motor

Fiat Titano Ranch.

Por conta de Strada e Toro, era esperado que a primeira picape média da Fiat no Brasil fosse um produto mais interessante. Além do motor que deixa a desejar, a caminhonete tem um interior pobre em materiais e acabamento mediano. Para se ter uma ideia, a irmã intermediária tem uma cabine muito mais interessante. 

Com preço interessante, perante a concorrência, e uma lista de equipamentos equilibrada, ela peca mesmo é no conjunto mecânico, com motor fraco e suspensão que deixará até o mais calmo dos motoristas irritado, de tanto que faz a picape sacolejar. O ponto alto é a eficiência no fora de estrada. Ou seja, se você pretende focar no 4×4, ela pode ser uma boa opção, do contrário, melhor não. E, apenas por isso, vale o teste drive! Nota: 6.

Ficha Técnica

Motor: 2.2 diesel

Potência máxima: 180cv 

Torque máximo: 40,7kgfm 

Transmissão: automática de seis velocidades

Direção: hidráulica

Suspensão: independente na dianteira e eixo rígido com feixe de molas na traseira

Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira

Capacidade de carga: 1.020kg 

Dimensões (A x L x C x EE): 1.898 x 2.221 x 5.330 x 3.180mm 

Preço: R$ 259.990

1/50Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat repete receita do Freemont, mas busca resultado diferente com a Titano (fotos: Geison Guedes/DP e Fiat).Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano Ranch.Fiat Titano.

*Viagem a convite da Fiat