BYD Shark e a ‘brasileirada’ de vez da montadora chinesa

Ao contrário dos demais lançamentos da marca, a picape híbrida plug-in, a primeira do Brasil, chega mais cara que as rivais

Goiânia (GO) – Desde que desembarcou no Brasil – no mercado automotivo, já que a empresa em si está aqui desde 2014 – no início de 2022 com o Tan EV, um SUV grande de luxo e sete lugares totalmente elétrico, a BYD “bagunçou” o setor automotivo brasileiro com duas frentes, veículos que entregam mais por menos e a eletrificação.

Com o segundo lançamento por aqui, o Han EV, um sedã grande de luxo elétrico, a marca mostrou que, quando começasse a apostar nos modelos mais populares, entraria firme na “briga”. Com o Song Plus, primeiro híbrido, ela começou a confirmar essa possibilidade, com preço agressivo perante rivais menos completos e apenas a combustão.

A marca surpreende, não positivamente, no lançamento da Shark.

Apesar do sucesso do SUV médio, o que realmente chegou “bagunçando tudo” foi o Dolphin. O hatch elétrico forçou a concorrência a diminuir os preços de outros modelos eletrificados, assim como o Dolphin Mini. Os dois passaram a ser opções interessantes até perante rivais a combustão e geraram sérias preocupações nas marcas concorrentes.

Sem diminuir o ritmo, a chinesa apresentou Yuan e Song Pro, opções ainda mais baratas dos SUVs, o sedã King e confirmou a vinda da Shark. A caminhonete gerou um grande frisson, com a possibilidade de seguir os irmãos e vir com preço agressivo. Mas a BYD resolveu dar uma folga para as rivais ao apresentar oficialmente a primeira picape híbrida plug-in do Brasil, com preço à brasileira e que trazemos agora as “Primeiras Impressões”.

Precificação

O preço está longe de ser o esperado e ela chega como a mais cara do segmento.

Ao contrário dos demais modelos lançados no Brasil, a Shark não só não chega com preço competitivo, como vem acima das rivais. Aqui, a picape terá versão única por exacerbados R$ 379.800, bem acima do esperado e, tirando a configuração esportiva da Ford Ranger, a Raptor, e a super off-road Jeep Gladiator, é a picape média mais cara do mercado brasileiro.

A Toyota Hilux, líder absoluta da categoria, bate em R$ 371.390 na versão esportiva. A topo de linha “normal” chega em R$ 333.290. A Ranger, com exceção da Raptor, chega em R$ 351.990 com o pacote extra. Até a sempre caríssima Volkswagen Amarok (R$ 350.990) é bem mais barata, sem falar em Mitsubishi L200 (R$ 326.990), Nissan Frontier (R$ 312.590) e Chevrolet S10 (R$ 311.990).

Diferente dos irmãos

O visual da picape é o mais diferente dos modelos da BYD.

Visualmente falando, a Shark é diferente de tudo que já vimos da BYD no Brasil. Mas ao olhar para a picape, logo se percebe uma certa familiaridade nela. A dianteira lembra muito a geração anterior da Série F e a atual da Ranger, principalmente com os faróis em formato de “C” e o gigante skidplat prateado no volumoso para-choque frontal.

Com desenho retilíneo e linhas agressivas, a picape tem um visual mais quadrado do que vemos no mercado atualmente. As lanternas invadem as laterais e contam com um filete luminoso interligando-as. Por fora, ela vem com estribos tipo plataforma, rack de teto, santo antônio e saias laterais robustas e em preto, como deve ser em uma picape.

A caçamba tem altos e baixos, leve até 1.200 litros, mas apenas 790kg.

A caçamba é um caso à parte. Ela tem proteção no piso e nas laterais, mas não vem com capota marítima. A tampa é elétrica para abrir, mas não para fechar e é bem pesada. Ela tem 1.200 litros de capacidade – a maior da categoria –, mas leva míseros 790kg, abaixo da média de uma tonelada da concorrência. Os únicos itens sem porém são as três tomadas 110v no padrão brasileiro e a escada escondida na tampa.

O interior é interessante, apenas as telas digitais (de 10,25 polegadas para o painel de instrumentos e de 12,8 para a central multimídia rotativa) lembram os demais modelos da BYD, de resto, ela conta com estilo bem próprio, a começar pelo volante de base achatada e vazado. Os comandos no console central também são bem diferentes, tipo o de caças. 

Tirando a central rotativa, o interior em nada lembra os demais modelos da marca.

Não é só o desenho da cabine que difere dos demais modelos da marca, os materiais também. Nisto, a BYD acertou em cheio, com couro sintético perfurado e costurado em todos os bancos. O material e o acabamento são vistos também nas portas, no console central elevado e no painel. Tudo se mostra muito bem acabado e sem rebarbas.

No interior, a traseira tem três trunfos. Primeiro, o assoalho é plano (a tração está vinculada aos motores elétricos nos dois eixos, logo, não há um cardan), o que otimiza a vida a bordo e deixa as viagens menos apertadas e mais confortáveis. Segundo, saída de ar. Terceiro, três tomadas (USB-C, USB-A e 110v no padrão brasileiro – ponto para a BYD).

Para justificar

A lista de equipamentos é condizente para um veículo de quase R$ 400 mil.

Quando falamos de um veículo de quase R$ 400 mil, seja da categoria que for, híbrido, elétrico, puramente a combustão, é esperado um mínimo de equipamentos fora do comum. Nisto, a Shark manda bem e tenta justificar a pedida alta de R$ 380 mil. Tirando o vacilo da capota marítima, ela é bastante completa, como deveria ser.

Na parte da segurança, ela vem com controles de tração e estabilidade, distribuição eletrônica da força de frenagem, auxiliar de partida e descida em rampa, câmera 360º, freio de estacionamento eletrônico, monitoramento de pressão dos pneus, faróis full LED, sensores de estacionamento dianteiro, traseiro, crepuscular e de chuva, seis airbags.

A caçamba tem três tomadas no padrão brasileiro.

Sistema de controle de tração distribuído, alertas de colisão dianteiro e traseiro, na abertura de porta e de mudança de faixa, assistente de permanência em faixa, farol alto inteligente, frenagem de emergência automática, piloto automático adaptativo, detecção de ponto cego e retrovisores externos com desembaçador e rebatimento e interno eletrocrômico

Entre os itens de conforto, chave sensorial e com sistema NFC por aproximação, central multimídia com conexão sem fio para smartphones via Android Auto e Apple CarPlay, GPS integrado, atualização remota e pacote de dados 4G, head-up display, carregamento por indução para celulares, bancos dianteiros aquecidos, ventilados e com ajustes elétricos, ar-condicionado dual zone, quatro portas USB e duas tomadas, uma de 12 e outra 110v. 

Força híbrida

São três motores, dois elétricos e um a combustão.

A Shark chega com o status de ser a primeira picape híbrida plug-in do mercado brasileiro. Também para justificar o preço, ela conta com o melhor conjunto eletrificado da BYD no Brasil. São dois motores elétricos, um em cada eixo, e um 1.5 turbo a combustão que, juntos, geram 437 cavalos e 65kgfm de torque.

A bateria blade tem a maior capacidade entre os híbridos da marca, com 29,6kWh. Mas como estamos falando de um veículo de 2.710kg, a autonomia elétrica não é muito diferente para o Song, por exemplo, com 57 quilômetros no padrão PBEV do Inmetro. Um detalhe interessante, é que ela pode ser carregada em pontos AC (6,6kW) e DC (55kW).

No asfalto ela não se mostrou muito bem.

Direção elétrica, suspensão independente Double Wishbone nos dois eixos, freios a disco ventilados nas quatro rodas, modos variados de condução e de terreno e, claro, a tração integral, completam o conjunto mecânico eletrificado da Shark. O porém fica pelos pneus totalmente urbanos, ela deveria vir com compostos mistos do tipo AT.

O lançamento da picape foi realizado no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia, Goiás, onde tivemos o primeiro contato com a Shark. Foi possível testar a caminhonete híbrida em dois momentos, na pista e na lama (seria apenas um trajeto fora de estrada, mas a chuva na capital goiana deixou tudo mais emocionante). 

Já na lama, a picape mostra a que veio.

No asfalto, a picape tem uma grande virtude e um porém. A tração integral aliada aos 65kgfm de torque e 437 cavalos faz a Shark disparar com vitalidade e facilidade pelo asfalto, o que mostra que, ultrapassagens, saídas e retomadas não serão problemas para ela. A questão são as curvas. Mesmo com os controles ligados, o motorista fica “brigando” com ela, a todo momento, a traseira tenta “passar a frente”, como em picapes antigas.

Agora, na lama (e com pneus certos) a Shark se encontra com perfeição. A pista criada pela marca continha obstáculos interessantes, mas a chuva deixou tudo muito mais divertido (para quem gosta de uma boa dose de lama). A tração, aliada aos fortes motores, não deixa ela sair do traçado em momento algum, mesmo com o piso super liso e repleto de sulcos, o que mostra que, apesar do ar urbano, o habitat do “Tubarão” é mesmo o fora de estrada.

A Opinião do Diário Motor

BYD Shark.

Mais uma vez, a BYD pegou todos de surpresa, mas dessa vez não foi nada positivo, pelo contrário. A Shark desembarca no Brasil com um preço para lá de exagerado, o que certamente deve ter gerado um certo alívio nas rivais, afinal, ela chega para ser a picape média mais cara do país, sem contar as supers, esportiva Ranger Raptor e off-road Gladiator.

Claro que ela é também a primeira híbrida plug-in do mercado brasilerio, o que garante uma potência de picape grande. Os equipamentos são bons, mas nada diferente de outras topo de linha. As primeiras impressões apontam para um certa dificuldade no asfalto, mas uma capacidade off-road muito grande. Fosse muito mais barata, seria uma opção interessante, mas por este preço, não. Vale o teste drive com possível compra! Nota: 7.

Ficha Técnica

Motor: híbrido plug-in

Potência máxima: 437cv 

Torque máximo: 65kgfm 

Transmissão: automática 

Direção: elétrica

Suspensão: independente Double Wishbone nos dois eixos 

Freios: a disco ventilado nas quatro rodas 

Capacidade de carga: 790kg 

Dimensões (A x L x C x EE): 1.925 x 1.971 x 5.457 x 3.260mm 

Preço: R$ 379.800

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*Viagem a convite da BYD