Mourão busca ‘conversa clara’ com Marcos Pereira sobre destino do Republicanos 

Responsabilidade da negociação é do presidente do partido, diz senador

Após aproximação do Republicanos com o governo Lula, o senador Hamilton Mourão (RPE-RS), ex-vice-presidente do Brasil, vai colocar lupa sobre as ações do partido para decidir sobre sua permanência.Irei avaliar cada passo e cada situação vindoura”, disse ao Diário do Poder.

Mourão revela que buscará “uma conversa muito clara com o presidente Marcos Pereira, para ver qual é o posicionamento que nós vamos adotar”.

Coalizão improvável

De acordo com o ex-vice-presidente, as recorrentes investidas do governo Lula sobre os partidos traduzem a tentativa de adaptação diante da nova configuração do Congresso, posta no decorrer de 12 anos em que o atual presidente esteve distante do aparelho Estatal. “Os tempos são outros”, frisou.

O general do Exército prevê que parte da bancada do Republicanos não vai aderir à aliança com o governo, já que a conta das articulações em curso “é inteiramente do presidente da sigla”.

Símbolo da composição de direita na Casa Alta, Mourão antecipa: “sempre serei oposição ao atual governo do PT, estando ou não no Republicanos, mas jamais farei oposição ao Brasil”. 

Ativismo judicial 

Questionado sobre a prerrogativa do Senado para enfrentar a interferência do judiciário sobre as prerrogativas do Legislativo, Mourão deixou sua impressão sobre o quantitativo de senadores dispostos a enfrentar o tema. A resposta supera expectativas, pois trata de um percentual relevante, mas que talvez seja inferior ao que é necessário para avanço sobre o impasse.

Confira a íntegra:

 

DP: Qual a sua avaliação sobre os caminhos trilhados pelo Republicanos diante da iminente aproximação com o governo Lula?  

 Mourão: Um partido político não é algo monolítico e a responsabilidade de articulações de aproximação é inteiramente do presidente da sigla.

Se estão pensando que, trazer um representante do partido para ocupar um cargo no governo, com a ideia de que aquele partido passará a votar com o governo nos temas de seu interesse, estão enganados, porque parte da bancada não vai votar assim. 

Em relação aos senadores do Republicanos, penso que eu mais uns dois, não votaremos com o governo mesmo que tenhamos no Executivo um representante da sigla.

Lá na Câmara, posso dizer que há uns vinte, vinte e cinco parlamentares que jamais irão votar com o governo e é isso. 

 

DP: Essa aproximação influencia a permanência do senhor no partido? 

É claro que um ministro do partido no atual governo é um golpe duro, uma situação delicada, sobretudo para os integrantes de um partido de oposição, mas o que eu digo é que irei avaliar cada passo e cada situação vindoura, de forma a tomar uma decisão consciente, madura e ponderada; sempre baseada nos princípios e valores que defendi ao longo de mais de 50 anos de vida dedicada ao Brasil. 

Buscarei ter uma conversa muito clara com o presidente Marcos Pereira, para ver qual é o posicionamento que nós vamos adotar a partir daí.

 O que deixo claro é que sempre serei oposição ao atual governo do PT, estando ou não no Republicanos, mas jamais farei oposição ao Brasil.

Todas as pautas que forem relevantes para o Estado brasileiro, independentemente da origem, terão o meu apoio.

 

DP: Na sua opinião, todos os partidos serão envolvidos no ‘toma lá dá cá’, gentilmente, chamado de ‘governabilidade’? 

Mourão: O presidente Lula chega nesse terceiro mandato com o Congresso totalmente diferente daquele que ele enfrentou nos mandatos anteriores.

Vamos lembrar que ele deixou o governo no início de 2011 e que 12 anos se passaram.

Muita coisa mudou nesse período e o que eu vejo é que nós temos um presidencialismo de coalizão, mas uma coalizão difícil por conta de termos muitos partidos políticos. É difícil equacionar.

Não creio que todos os partidos serão envolvidos no “toma lá dá cá”, mesmo porque os eleitores estão mais conscientes e atentos aos movimentos de seus partidos e seus parlamentares. Os tempos são outros.

 

DP: A esquerda voltará a aparelhar o Estado diante da mudança de postura de partidos tidos como “de direita”?

Mourão: Não vejo dessa forma, mas que o governo até hoje tem tido muitas dificuldades em obter apoio para estruturar uma governabilidade, é fato incontestável.

 

DP: O senhor acredita que o Senado está comprometido em enfrentar o que chamamos de “ativismo judicial”?

Mourão: Parcela dele sim, talvez uns 30%.