‘Teremos problemas nos hospitais se população não se isolar’, diz Uip

Taxa de ocupação de leitos na grande São Paulo chega hoje a 86%

O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, disse hoje (5) que os hospitais do estado poderão enfrentar muitas dificuldades, no prazo de um mês, se as pessoas não seguirem a recomendação de ficarem em casa. “Vamos ter enormes dificuldades, no prazo de um mês, se o número [de isolamento] não for superior a 50%. E me refiro a leitos disponíveis em toda a rede, especialmente dos leitos de UTI [unidades de terapia intensiva]”.

Após o final de semana, a taxa de isolamento social em São Paulo voltou a ficar abaixo dos 50%, valor que preocupa muito o governo paulista. Ontem, o isolamento no estado ficou em 47%, bem abaixo do valor considerado satisfatório pelo governo, entre 50% e 60%. A taxa considerada ideal, para evitar a propagação do vírus e evitar um colapso nos hospitais, é acima de 70%. “Não é possível trabalhar com esse número. O número mínimo de 50% constantemente não vem sendo atingido. Precisamos melhorar isso todos os dias”, disse Uip.

Segundo ele, o governo paulista tem trabalhado para criar novos leitos no estado. Mas se a população não fizer sua parte, ficando em casa, a doença vai se espalhar muito e tornar difícil o tratamento de todas as pessoas que precisarem de um hospital. “A população precisa estar convencida de que esta é a única forma de darmos conta da assistência aos pacientes do estado de São Paulo”.

Escolhas

De acordo com Uip, o aumento da ocupação de leitos no estado de São Paulo, principalmente de UTIs, pode obrigar o médico e os profissionais de saúde a precisar decidir sobre que paciente atender e que paciente rejeitar.  A taxa de ocupação de leitos na Grande São Paulo já chegou a 86% hoje.

“Não tem nada mais constrangedor para um médico da linha de frente escolhas: quem vai e quem não vai, quem tem direito ao aparelho ou quem não. O estado de São Paulo trabalha muito fortemente para que seus profissionais da área da saúde, em nenhum momento, tenham que fazer essa opção. Mas reforço que isso tem duas responsabilidades: uma de estado e outra da sociedade. Por mais que os secretários municipais [da saúde] criem leitos e importem respiradores, se não houver preocupação e responsabilidade da população, isso vai ficar muito difícil”, falou.

No Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, já foi elaborado um protocolo de atendimento e prioridades para caso ocorra um colapso e não seja possível atender todos os pacientes.

“No Hospital das Clínicas desenvolvemos um protocolo para essas situações. E existe uma categorização para a escolha de definição dessas situações. Isso foi apresentado para o Conselho Regional de Medicina, que referendou esse tipo de abordagem. Mas felizmente, não precisamos [usar esse protocolo]. Aqui em São Paulo não chegamos a esse ponto e esperamos nunca chegar porque é uma situação muito e muito desgastante para todos”, disse Carlos Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas. (ABr)