Real se firma como a pior moeda global em 2020
Moeda brasileira apresenta desempenho bem pior que a lira turca; no acumulado de 12 meses, desempenho é próximo do peso argentino
Com o dólar fechando o mês de setembro com uma alta de 2,46%, cotado a R$ 5,6150 na compra e R$ 5,6160 na venda, o real se consolidou como a pior moeda do mundo em 2020. No ano, o dólar sobe 40,11% em relação à moeda brasileira, alta muito mais intensa do que a registrada contra a segunda colocada, a lira turca (+29,80%).
Com isso, o real também aparece bem atrás de moedas de países com grandes crises, como a Argentina, em que o dólar teve valorização de 27,25% contra o peso.
Vale lembrar que os nossos vizinhos passam por um momento bastante complicado, com diversos calotes de suas dívidas e uma inflação que já supera 42% no acumulado de 12 meses até agosto.
A crise por conta do coronavírus tem pesado bastante para o desempenho das moedas de emergentes, já que em momentos de maior tensão os investidores globais tendem a procurar ativos mais seguros, entre eles o dólar americano.
Além da crise do coronavírus, que afeta boa parte das moedas emergentes, o real tem outros fatores que estão pesando em seu desempenho. E um dos principais deles é o risco fiscal, elevado ainda mais esta semana com a decepção do mercado com o programa Renda Cidadã.
Com a questão fiscal aumentando a tensão entre os investidores aqui no Brasil, o real se desvaloriza mais.
Analistas de câmbio do Top 5 da Focus acreditam que o destino da moeda brasileira continuará atado às questões domésticas.
Na última semana, analistas já havia apontado esta preocupação diante das dificuldades que o governo já enfrentava para realizar os ajustes necessários na economia. O Bank of America, inclusive, disse estar mais cauteloso com o real e alertou para volatilidade no curto prazo.
Em entrevista para a Bloomberg, Sergio Zanini, sócio gestor da Galapagos Capital, destacou que o mercado está na “torcida para que o que foi anunciado na segunda [o Renda Cidadã] seja revertido em algum momento”.
“O mercado não compra mais esse discurso do Executivo, em que por um lado sempre defende o teto de gastos e a responsabilidade fiscal, mas por outro sempre anuncia planos que vão na contramão”, disse Breno Martins, trader de renda fixa da MAG Investimentos, também para a Bloomberg.
Na segunda, o governo apresentou o novo programa social e tem em sua proposta a ideia de usar o Fundeb e precatórios como forma de financiamento, decisão que foi vista por muitos especialistas como uma “pedalada fiscal”. Isso gerou muitas críticas à proposta e agora o mercado fica de olho para ver o que o governo fará sobre isso.