Operador ameaçado pagou cunhado e assessores de governador afastado
Confissão de operador à PF após flagrante com R$ 32 mil motivou decisão de ministra do STJ que afastou Paulo Dantas do governo de Alagoas
Na decisão da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Vaz, que afastou Paulo Dantas (MDB) do governo de Alagoas, consta o registro da Polícia Federal de que um operador do esquema de corrupção alvo da Operação Edema foi flagrado em agosto deste ano com R$ 32 mil sacados em uma agência da Caixa, em Arapiraca (AL). A PF relatou que o homem confessou em depoimentos que dois ex-assessores parlamentares do governador afastado recebiam pagamentos sacados com cartões de servidores fantasmas e de outros usados para ‘rachadinha’ na Assembleia Legislativa de Alagoas, em suposto benefício de Paulo Dantas.
A PF relatou ainda que, dois dias depois do flagrante, José Everton apresentou 16 comprovantes bancários de depósitos de valores em espécie efetuados por ele para um dos cunhados de Paulo Dantas, o empresário ‘Toinho Cintra’, entre abril e julho de 2022, totalizando R$ 35.930,00. As informações foram divulgadas no Blog do Fausto Macedo, do Estadão.
O fato levou a ministra Laurita Vaz a considerar o depoimento “valioso” do operador flagrado com R$ 32 mil. E a entender que a ocorrência narrada pela PF possui “verossimilhança da hipótese criminal sob investigação” a respeito do “protagonismo” do governador Paulo Dantas e de seus cunhados no esquema sob suspeita.
Morador do município sertanejo de Major Izidoro, José Everton foi flagrado por policiais militares em “atitude suspeita” após sacar o dinheiro e estar com 16 cartões de débito em nome de terceiros, em 03 de agosto, antes da campanha eleitoral. Conduzido à Superintendência da Polícia Federal de Alagoas, o operador do esquema “confessou que os titulares dos cartões eram servidores fantasmas da Assembleia Legislativa de Alagoas”.
José Everton relatou aos policiais que os “funcionários” daqueles cartões receberiam R$ 300 por mês em troca de ‘emprestarem seus nomes’ ao esquema criminoso. A operação, segundo o depoente, consistia em depositar salários de R$ 17 mil por mês nas contas, para que José Everton sacasse R$ 2 mil por dia, usando cada um dos cartões que estavam em sua bolsa.
Ao confirmar as informações prestadas pelos policiais militares, José Everton disse ainda que os valores sacados seriam entregues a duas pessoas que eram assessores de Dantas à época em que este era deputado estadual: João Ferreira Júnior e Alexsandro Rodrigues, que trabalhavam na Prefeitura de Major Izidoro.
“[José Everton] atuava como uma espécie de operador local, concentrando a realização dos saques relativos a um lote de cartões de servidores fantasmas sob sua guarda, além de coletar valores relacionados a semelhantes desvios que supostamente ocorrem nas prefeituras de Major lzidoro e Batalha”, relatou a PF, motivando a decisão que, além de Dantas, também afastou do cargo a mulher do governador e prefeita de Batalha, Marina Thereza Dantas, e o prefeito de Major Izidoro, Theobaldo Cavalcanti Lins Neto.
Ameaças ao operador
No relato da Polícia Federal ao STJ, também consta a informação de que, dois dias depois da abordagem, no dia 5 de agosto, José Everton compareceu espontaneamente à Superintendência da PF, em Maceió, para informar que a mulher e o irmão do operador teriam recebido ligações que diziam que José Everton seria assassinado, se não ‘aparecesse com os cartões de débitos e os R$ 32 mil’.
A PF considerou a ameaça direcionada ao operador do esquema como argumento para a ‘imprescindibilidade’ de serem determinadas medidas cautelares para desarticulação do grupo sob suspeita de ser liderado por Paulo Dantas.
“[O depoimento de José Everton] demonstra a periculosidade da organização criminosa investigada, revelando a utilização de meios intimidatórios para que a engrenagem do esquema criminoso não tenha solução de continuidade”, argumentou a PF.
‘Desespero’
O governador afastado Paulo Dantas gravou o seguinte vídeo, atribuindo a Operação Edema a uma suposta estratégia política “desesperada” de seu adversário Rodrigo Cunha e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, motivada pela sua liderança na campanha à reeleição.
Assista: