Nikolas fala sobre ‘guerra cultural’, CPMI e sumiço de Janones

Acusado de panfletar em recente obra bibliográfica, o deputado declarou: “tente achar a palavra Bolsonaro no Livro e se frustre”.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) falou ao Diário do Poder sobre a ‘batalha cultural’ que assume contra a pauta progressista, comentou as reações causadas por sua chegada à Câmara dos Deputados, após construir reputação de peso nas redes sociais, e figurar com destaque no cenário político da capital mineira, e usou de bom humor para falar do desafeto, também deputado, André Janones (Avante-MG): “mente dia sim, dia com certeza”, avaliou.

Mas esclareceu que, partidário da liberdade de expressão, não quer a cassação de seus adversários. “Já eles, querem a minha”.

Sobre a chegada ao legislativo federal, o deputado destaca a percepção de interesses que, segundo ele, não dialogam com o país. “Aqui você escuta muitas palavras, menos Brasil”.

Confira a entrevista na íntegra:

DP: O senhor lançou um livro recentemente, chamado ‘O cristão e a Política’. A crítica diz que essa obra trata de assuntos caros ao bolsonarismo. Queremos saber do senhor: qual é a pauta principal desse trabalho?

Tente achar a palavra “Bolsonaro” no livro e se frustre. Esse livro veio da palestra que eu ministro há dois anos e meio. Já ministrei nos Estados Unidos, em países da Europa e aqui no Brasil, em quase todos os estados, falta somente três estados para levar essa explanação aqui no país. O subtítulo do livro é: “descubra como vencer a guerra cultural”. Trato de assuntos como ideologia de gênero, ativismo LGBT e liberdade do cristão. Também falo de como foram as minhas experiências na universidade e falo sobre o papel do cristão diante dos desafios gerados na sociedade atual. Então quando dizem que o livro é sobre bolsonarismo, é só mais uma maneira de tentar rotular algo que faz parte da minha iniciativa. Não falo nada de Bolsonaro ali.  

 

DP: Pautas como aborto, gênero e drogas devem continuar sendo tratadas como pautas de ‘costume’, ou como questões de Estado que merecem um debate aprofundado ?

Nikolas: Quando você vê  o Comitê Olímpico Internacional ter que tomar uma medida impedindo, transexuais de participarem de competições femininas, você entende o impacto dessa guerra cultural. Isso já atingiu um nível no dia-a-dia das pessoas, a ponto de mulheres especializadas na estética do corpo feminino serem processadas por se recusarem a atender pessoas trans. Imagina eu, com essa sobrancelha de fita isolante, querer obrigar uma mulher a me atender.  

Essa agenda cultural foi muito bem planejada e está se expandido através de filmes, documentários e literatura. Tentam impor isso. Você não vê o cristianismo impondo, pelo contrário, evangelho é um aceite, um convite. Já quem não aceita as ideias progressistas é rotulado de homofóbico e outros adjetivos.

DP: Na Câmara, a pauta dita ‘de costumes’ mais agrega ou causa divisões?

Nikolas: Boa parte do centro entende bem esse contexto e defende as pautas conservadoras. Tenho certeza que, a maioria dos deputados aqui da Casa, concordam que em banheiro feminino homem não pode entrar. Agora, nem todos vão colocar a cara à tapa para defender isso. Mas não dá para ignorar a guerra cultural. A imposição sobre a manifestação de ideias e crenças é uma coisa absurda. Já chegou para todo mundo a censura sobre o que se deve ou não falar. Um ataque fontal à liberdade de expressão. Por exemplo, eu discordo de muitas coisas ditas pelos meus colegas, nem por isso eu vou pedir a cassação deles. Já eles, querem a minha.

DP: Sua chegada à Câmara criou incômodos? Como foi perceber a distinção com que políticos, assessores e pessoas comuns olham para o senhor aqui dentro ?

Nikolas: Eu já sabia o que ia enfrentar aqui. Realmente é um local hostil. Mas não foi um baque para mim. Eu já enfrentei oposição e aversão aos meus pensamentos e defesas na universidade, durante cinco anos initerruptos. Inclusive sábado, que eu tinha aula de manhã. Então eram seis dias na semana que eu passava esse tipo de hostilidade. No sábado, em especial, eram duas coisas tristes: o próprio fato de ter aula sábado e ter que aguentar esquerdista logo pela manhã.

Mas não me impressionei, nem me desestabilizei com a chegada à Câmara. Se alguém ficou incomodado, realmente, foram eles [adversários políticos].O desafio para mim foi entender que aqui você escuta muitas palavras, menos Brasil.

DP: Naquela reunião polêmica em que o deputado André Janones te atacou, o senhor já esperava pelo que iria ocorrer?

Nikolas: Não, mas é comum de pessoas que não tem brilho querer pegar carona no trabalho e na imagem de outras pessoas né? Então o que resta para ele, de fato, é atacar e tentar crescer em cima da visibilidade dos outros. Inclusive, ele tá meio sumido, né, ultimamente? Exatamente por conta disso.

DP: Não estaria sumido pela viagem a destinos ligados ao holocausto?

Nikolas: Não. Isso é cortina de fumaça. Ele viu que se continuasse com a postura que assumiu aqui na Casa, seria cassado. Não dá para a pessoa mentir dia sim, dia com certeza e ficar impune. Ele é democrático. Nem a esquerda nem a direita gostam dele. É democrático o Janones.

DP: Qual seu sentimento mais recente sobre o trabalho que a oposição vem desempenhando na CPMI do 08 de janeiro?

Nikolas: Estamos, em minoria, travando uma batalha que envolve judiciário, base governista e imprensa. Uma luta desigual. A esquerda sequestrou a CPMI, colocou a relatora amiga do Dino e muitos parlamentares do Maranhão para blindar ministro da justiça. Mas conseguimos destruir essa falácia de que o 08 de janeiro tratava de um golpe. Conseguimos mostrar a farsa de tentar colocar a responsabilidade no Bolsonaro. Tentaram fazer ligações fantasiosas a todo tempo. Acho que perderam no debate público. Durante sua oitiva, G. Dias, por exemplo, foi praticamente partido ao meio.

 DP: O senhor acha que tem possibilidade do General G. Dias fazer uma delação ?

Ele tem uma qualidade. É leal. Ficou ali horas apanhando para proteger seu chefe Lula. A delação é uma possibilidade remota.